Uma mulher com o olho roxo, em frente ao Palácio da Polícia, me disse: "A liberdade de quem apanha em casa custa caro, e ninguém quer ajudar a pagar essa conta".
Essa frase vai me acompanhar pelo resto da vida. O medo de sair da segurança de um lar assusta muitas mulheres e faz com que elas acreditem que a porrada de hoje foi a última _ mas nunca é.
Já o homem, quando dá o primeiro tapa, experimenta uma sensação de poder sobre outra pessoa que é viciante. Por mais que surja o arrependimento, o cérebro entendeu que, quando sua vontade não for realizada, levantar a mão é uma das opções.
A convivência com a agressão deixa sequelas. Meninos que assistem às suas mães apanharem podem, inconscientemente, nutrir admiração pelo agressor, por entender que ele tem poder. As meninas que assistem a estas cenas, mesmo com medo, acabam aprendendo que quem ama, bate.
Coragem
Óbvio que isso não acontece com todos. Existem aqueles casos nos quais a agressão faz as pessoas criarem nojo da situação. Sair desse ciclo não é fácil. Requer muita coragem, pois vai chegar uma hora na noite em que ninguém vai ajudar. Nem sempre a polícia vai estar por perto, nem sempre os amigos e familiares vão ajudar a pagar as contas. Enfrentar a vida sozinha é também doloroso.
Mas é importante lembrar que a dor da liberdade traz dignidade, já a dor de uma surra dentro de casa tira a dignidade.
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