Esteio foi uma das cidades gaúchas mais devastadas pela chuva nesta semana - o município avalia como a pior enchente de sua história. A população desalojada passou de 2,1 mil e a dezena de abrigos públicos não deu conta do volume de gente que teve de sair de casa. Diante disso, pessoas como Francisco, Floriano e Maria Eledi abriram a porta dos próprios lares para abrigar vizinhos, familiares e amigos.
Mesmo com o bar que sustenta a família destruído e a casa da filha, no térreo, caótica pelos efeitos da enchente, Floriano Rogoski, 57 anos, convidou um casal de vizinhos, a filha e seus dois cachorros para ficarem no segundo andar do seu imóvel. A população do local mais que triplicou: de três moradores, passou para 10.
- Vi eles saindo de casa, carregando as coisas que salvaram, e disse "Pode vir, sobe aqui que a gente dá um jeito". E demos. Fizemos o possível - conta Floriano.
Nesta quarta-feira, a água começou a baixar e a maioria dos moradores conseguiu voltar para casa. Não foi o caso do motorista Joelson Vidal Medeiros, 61 anos. Ele mora na Rua Bom Jesus, uma das únicas onde a água ainda batia na porta das residências.
- Saí de madrugada (na terça-feira) sem nada, só com a minha cachorrinha no colo. Eu não tinha para onde ir. A dona Eledi me viu e me acolheu. Me hospedou com cachorro e tudo. Não fosse ela, eu estava na rua - destaca Joelson, que sequer conseguiu ver o estado em que ficou sua casa.
A mãe dele, que tem 90 anos e problemas de saúde, foi acolhida por outro conhecido, já que na casa da aposentada Maria Eledi Cordeiro, 66 anos, faltava energia elétrica.
- Agora que voltou, queremos trazer ela pra cá também, pra ele poder cuidar da mãe - diz Eledi.
A casa de Francisco Carlos Ramos do Prado, 56 anos, fica na frente de um salão paroquial que virou abrigo público no bairro São Sebastião. Mesmo assim, o imóvel chegou a receber 20 parentes e amigos atingidos pela enchente, além de quatro cachorros, um papagaio, um hamster, meia dúzia de carros e três motos.
- Aqui temos luz, banho quente, roupa seca, água, chimarrão, fizemos feijoada e carreteiro. Fizemos o que podemos para ajudar. E faço isso sem receber nada em troca, porque sei que, se eu precisasse, eles fariam o mesmo por mim - afirma o operador de raio-X industrial.
- O pessoal perdeu tudo em questão de poucas horas. Na minha casa, graças a Deus, não chegou a água. Eu não poderia fazer outra coisa senão ajudar - conclui Francisco.