O Irã e as grandes potências potências conseguiram concluir, nesta terça-feira, um acordo histórico em Viena sobre o programa nuclear iraniano - uma questão delicada que prejudicava as relações internacionais há 12 anos. O presidente iraniano, Hassan Rohani, escreveu em sua conta no Twitter que o acordo abre "novos horizontes", agora que "esta crise, que era desnecessária", ficou resolvida.
Segundo ele, o Irã e as grandes potências podem "concentrar-se nos desafios compartilhados", em referência à luta contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI), que ataca alvos xiitas e ocidentais a partir de suas bases na Síria e no Iraque. O ministro das Relações Exteriores iraniano, Mohamad Javad Zarif, celebrou o acordo.
- É um momento histórico - declarou Zarif, na abertura da reunião plenária que encerrou os 17 dias de negociações em Viena.
Ao seu lado, a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, afirmou que este é "um sinal de esperança para o mundo inteiro" e abre "um novo capítulo nas relações internacionais".
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- O acordo está concluído - afirmou, mais cedo, uma fonte diplomática, ao fim de 21 meses de negociações e uma etapa final de 17 dias de intensas discussões em Viena.
O objetivo do acordo é assegurar que o programa nuclear iraniano tem um caráter não militar em troca da retirada das sanções internacionais que asfixiam a economia do país. O texto, que autoriza Teerã a prosseguir com o programa nuclear civil, abre o caminho para uma normalização da presença do Irã no cenário internacional.
O Irã aceitou conceder um acesso limitado a locais militares, com base no protocolo adicional que permite um controle reforçado do programa nuclear de Teerã, afirmou uma fonte iraniana.
- Nossos locais militares não estão abertos aos visitantes porque cada país tem o direito de proteger seus segredos. O Irã não é uma exceção. No entanto, o Irã vai aplicar e protocolo adicional (ao Tratado de Não Proliferação Nuclear) e, com esta base, dará um acesso programado a certas instalações militares definidas no texto - declarou a fonte.
Negociações se estenderam por 17 dias
Os chefes da diplomacia do Irã e do grupo 5+1 (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Rússia, China e Alemanha) negociavam há 17 dias no palácio de Coburg da capital austríaca.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), chave na conclusão do acordo final, assinou, nesta terça-feira, com o Irã um "mapa do caminho" que autoriza uma investigação sobre o passado do programa nuclear de Teerã, em função da suspeita de uma possível dimensão militar, anunciou o diretor geral do órgão da ONU.
- Acabo de assinar o mapa do caminho entre a República Islâmica do Irã e AIEA para o esclarecimento das questões em suspenso do passado e do presente relativas ao programa nuclear iraniano - declarou Yukiya Amano antes de celebrar o "avanço significativo" que o acordo representa.
A AIEA exigia há muito tempo a possibilidade de investigar as suspeitas de que, pelo menos até 2003, o programa nuclear iraniano teve por objetivo a produção da bomba atômica. O Irã sempre negou as acusações, alegando que era uma informação falsa fornecida por seus inimigos, ao mesmo tempo que acusava a AIEA de não ser neutra.
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Acordo prevê retirada progressiva de sanções internacionais
O acordo histórico permite a retirada progressiva das sanções internacionais impostas a Teerã a partir do início de 2016, mas também prevê o retorno das mesmas em caso de violação dos compromissos por parte da República Islâmica, segundo um diplomata francês.
Os negociadores, começando pelo chefe da diplomacia americana John Kerry e seu colega iraniano, batalharam até o último minuto para superar os "pontos de divergência", segundo os termos de Josh Earnest, porta-voz do presidente Barack Obama.
O acordo demorou consideravelmente para ser anunciado: previsto inicialmente para 30 de junho, a data limite foi prorrogada em várias ocasiões, em função da importância do que estava em jogo. Como um sinal de que o fim das discussões estaria próximo, o ministro iraniano do Interior pediu que as autoridades locais preparassem um cenário de comemoração nas ruas.
A população, que elegeu o presidente Hassan Rohani em 2013 com a promessa de conseguir a suspensão das sanções, espera uma melhora de suas condições de vida, caso um acordo seja assinado. Essa rodada de negociações internacionais é uma das mais longas, em nível ministerial e em apenas um lugar, depois da que levou aos acordos de Dayton (EUA) após a guerra da Bósnia-Herzegovina em 1995.
Em abril, os negociadores entraram em acordo em Lausanne (Suíça) sobre as linhas gerais de um texto, que incluía a diminuição do número de centrífugas e das reservas de urânio enriquecido de Teerã. Na prática, isso impossibilita a fabricação de uma bomba atômica em curto prazo.
* AFP