Em Porto Alegre, paralisação em parte dos atendimentos ocorreu entre 10h e 11h
Foto: Fernando Gomes/Agência RBS
* Zero Hora
Em dia de mobilização das Santas Casas e dos Hospitais Filantrópicos do Rio Grande do Sul, a Santa Casa de Porto Alegre anunciou redução no atendimento a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) a partir de junho deste ano.
Serão cortados 118 leitos hospitalares (17,35% do total), 4.312 internações (16,76%), 50.894 consultas eletivas (18,14%), 3.318 atendimentos no pronto atendimento (5,70%) e 3.387 procedimentos cirúrgicos/obstétricos e 375.526 serviços auxiliares de diagnóstico e tratamento (13,76%) ao ano. O início dos cortes depende da revisão do contrato firmado com a prefeitura de Porto Alegre - processo que, de acordo com a instituição, deve ocorrer até o fim de maio.
Segurança e saúde sofrem com escassez de verbas do governo
Sartori anuncia corte de R$ 1 bilhão
As reduções, conforme a direção da Santa Casa, são uma tentativa de reequilibrar as dívidas - agravadas, no início deste ano, quando o governo do Estado anunciou o corte de R$ 500 milhões no orçamento da saúde. Dessa verba, R$ 300 milhões são incentivos estaduais pela política de cofinanciamento hospitalar e seriam utilizados para diminuir o déficit atual da rede de hospitais filantrópicos e Santas Casas, que passa dos R$ 400 milhões.
Em 2014, dos R$ 250 milhões referentes ao cofinanciamento, o valor recebido do governo estadual pela Santa Casa de Porto Alegre foi de R$ 15 milhões. Um valor próximo, mas não estimado, deixará de ser repassado neste ano em função do corte do governo Sartori.
Mesmo com o redimensionamento nos atendimentos ao SUS, a previsão da Santa Casa é de fechar o ano com prejuízo de R$ 70 milhões, valor com que a direção está disposta a arcar "até que os gestores públicos encontrem uma solução definitiva".
- Esse é o valor que ainda podemos suportar com recursos próprios. O que a Santa Casa não pode mais é se responsabilizar com o déficit institucional que chegou a R$ 102 milhões em 2014. Isso é insustentável - afirmou o diretor-geral de Relações Institucionais da Santa Casa, Dr. Júlio Dornelles de Matos.
Sem repasses do governo estadual, hospitais podem restringir serviços
Leia mais notícias do dia
Conforme Matos, uma sequência de fatores justifica a situação das finanças na instituição. Segundo levantamentos mostrados pela Santa Casa, nas últimas décadas, houve significativa redução do financiamento do sistema pela União (que tem a maior arrecadação) e a consequente responsabilização do Estado e dos municípios pelo custeio dos serviços.
Além disso, também contribui para o déficit o alto valor de alguns procedimentos, que têm apenas parte financiada pelo SUS. Conforme o diretor-geral, a cada R$ 100 empregados pela instituições nos convênios e contratos do SUS, o sistema remunera apenas R$ 63. Outro exemplo citado são as diárias em leitos de UTI, que custam em média R$ 1,5 mil, dos quais somente R$ 581 seriam repassados pelo SUS.
Em nota divulgada nesta quarta-feira, a Secretaria Estadual da Saúde disse que está "aberta de forma permanente ao diálogo" e que os repasses previstos a partir de dezembro de 2014 estão "rigorosamente em dia". A informação é contestada pela direção-geral da Santa Casa.
- O Estado tem dito que está pagando em dia, mas isso é uma inverdade. O governo estadual cortou os recursos e, depois que cortou, está pagando em dia o que sobrou. Eles não querem anunciar (essas reduções) e estão jogando isso para que os hospitais façam - criticou Matos, na coletiva de imprensa.
Santa Casa de Porto Alegre divulgou tabela de cortes previstos
Foto: Reprodução/Santa Casa de Porto Alegre
Nesta manhã, entre 10h e 11h, enquanto ocorria a coletiva de imprensa, a Santa Casa de Porto Alegre suspendeu parte do atendimento assistencial. Conforme a direção, foram atendidos somente casos de urgência e emergência. Atos semelhantes ocorreram também em outros hospitais de municípios gaúchos.
Em Porto Alegre, os outros hospitais filantrópicos (Vila Nova, São Lucas - PUCRS, Espírita, Independência, Beneficência Portuguesa e Parque Belém) não tiveram qualquer alteração nos atendimentos prestados nesta quarta-feira, conforme informaram seus setores administrativos.
A rede hospitalar filantrópica também organiza um ato público no próximo dia 13, às 11h, no Palácio Piratini. É esperada a presença de representantes de 245 hospitais. Nessa data, eles pretendem fazer um anúncio público do impacto total do corte de recursos em todo o Estado.
Confira a íntegra da nota divulgada pela Secretaria Estadual da Saúde:
"A Secretaria Estadual da Saúde (SES) informa que está aberta de forma permanente ao diálogo com a Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do RS. O planejamento proposto pelo Estado objetiva adequar os repasses às entidades ao orçamento da pasta - evitando, assim, o desajuste que gerou o atraso nos repasses em 2014.
A SES ressalta que estão rigorosamente em dia os valores previstos a partir de dezembro de 2014. Assim, já foram pagos neste ano aos hospitais gaúchos R$ 352,5 milhões do Tesouro do Estado.
Em relação aos recursos pendentes anteriores a esse período, que deixaram de ser pagos pela última gestão por um comprometimento acima da capacidade orçamentária, a quitação dos mesmos será feita de acordo com o fluxo de caixa do Tesouro estadual. Estão em aberto repasses de R$ 151 milhões.
A Secretaria Estadual da Saúde salienta que - mesmo com os cortes no custeio e investimentos de todos os órgãos estaduais frente às limitações financeiras do Estado - está assegurada para 2015 a destinação dos 12% da receita líquida para a área da saúde."