A maioria dos analistas europeus saudou como "histórica" e "radical" a votação nas eleições municipais espanholas. Dois fatos sustentam esse juízo. Em primeiro lugar, houve o avanço de partidos identificados com o movimento dos "indignados" em Madri e Barcelona.
Em segundo, os dois partidos que dominam a política espanhola há 38 anos - o PP, conservador, do atual presidente do Estado Espanhol, Mariano Rajoy, e o PSOE, social-democrata, dos ex-presidentes Felipe González e José Luis Zapatero - tiveram performance acanhada.
Inspirado pela virada de última hora do Partido Conservador de David Cameron na Grã-Bretanha, o PP de Rajoy apostou numa campanha em que enfatizava os sinais de recuperação econômica e demonizava a oposição. Deu com os burros nágua: embora tenha sido o mais votado, com 27%, ficou 11 pontos atrás do desempenho nas últimas eleições municipais, em 2011.
Já o PSOE, que julgava ter a preferência em face do desgaste dos populares, ficou com modestos 25%. Não houve onda azul (PP) ou vermelha (PSOE), e, para desespero dos burocratas das duas máquinas partidárias, os grandes vencedores foram os que apostaram no fim da polarização surgida após a queda da ditadura franquista.
Mas há que se relativizar o resultado do que já está sendo chamado de "24-M" (24 de maio, o domingo em que se realizou o pleito). Desde os primórdios das eleições municipais na Europa, esse sempre se mostrou um terreno mais favorável à mudança do que as eleições parlamentares.
Isso não significa que os eleitores tenham abandonado em massa o PP e o PSOE nem que Podemos (centro-esquerda) e Cidadãos (centro-direita) tenham carta branca para se alçar ao poder central. O novo desenho do voto em nível local obrigará todos os partidos a fazer alianças, aproximando-os mais do que seria possível depois de um autêntico "terremoto".
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