O nome da operação do exército iraquiano para retomar Ramadi, capital da província de Al-Anbar, é significativo: Labaik ya Hussein. A frase em árabe pode ser traduzida como "Às suas ordens, Hussein". Seria difícil imaginar uma conclamação sectária mais explícita num país como o Iraque, berço do Islã xiita.
Hussein era o neto de Maomé, massacrado com familiares e seguidores no ano de 680, em Kerbala, não longe de Ramadi, por forças do califa Yazid. O acontecimento deu origem à divisão do islamismo entre dois grandes ramos, o sunita e o xiita.
O Estado Islâmico (EI), que está a algumas centenas de quilômetros de Bagdá, beneficiou-se largamente em seu avanço no Iraque e na Síria da alienação da população sunita pelos respectivos regimes. Em Bagdá, o governo do premier Haidar al-Abadi pouco fez para reverter o isolamento dos sunitas.
Em Damasco, o regime da família Al-Assad baseia-se nas forças armadas e nos serviços de segurança, onde, desde os anos 1970, a seita dominante é a alauíta, um ramo do xiismo - embora o regime, nominalmente, seja laico.
Não é à toa que ex-integrantes da cúpula do regime de Saddam Hussein, ele próprio oriundo de uma tribo sunita de Tikrit, tenham escolhido se associar ao EI. Mas nem todos consideram que os barbudos do califa Omar sejam libertadores. O EI é visto como uma organização semibárbara em países cultos e de longa tradição laica como Síria e Iraque. É por isso que muitos sunitas optaram por se juntar às forças de Bagdá.
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