Um analista de Tecnologia da Informação joinvilense virou notícia em portais de informações estrangeiros ao lançar uma petição online que já soma, desde sexta-feira, 25 mil manifestações de apoio no site Change.org. Trata-se de uma plataforma de abaixo-assinados pela internet com mais de 70 milhões de usuários.
A causa, apesar das milhares de adesões, é controversa e tem gerado polêmica na rede: Rodrigo Herhaus de Campos, 28 anos, pede que o Conselho da União Europeia permita "a todos os brancos da África do Sul o direito de retornarem à Europa".
No texto, em inglês, ele diz que a população branca da África do Sul enfrenta uma limpeza étnica, perseguições e ainda menciona assassinatos em massa contra brancos.
Rodrigo também menciona a política do governo israelense, que permite a qualquer judeu de outro país se estabelecer no Estado de Israel, para defender que "não é apenas aconselhável, mas moralmente obrigatório que a Europa permita que todos os brancos sul-africanos tenham o direito de voltar". A petição pede os mesmos direitos aos brancos do Zimbábue e da Namíbia.
Numa publicação de uma rede sul-africana de jornais independentes com o título "Oferta brasileira para salvar os brancos sul-africanos", a reportagem ironiza a iniciativa de Rodrigo, chamado de "bom samaritano", e contradiz as informações sobre brancos mortos e perseguidos citadas na petição - o joinvilense afirma que mais de 4 mil agricultores brancos foram brutalmente assassinados na África do Sul.
Já a reportagem sul-africana sustenta que, desde 1994, apenas 1,8% das vítimas de homicídio no país eram brancas, o que garantiria aos brancos menos chances de serem assassinados do que qualquer outra etnia. Também notícia em um jornal britânico, a petição de Rodrigo recebeu abordagem mais comedida, sem contestações, com o título "Sul-africanos brancos 'temendo por suas vidas' pedem à UE o direito de 'retornar'".
Juntas, as páginas das duas publicações somam mais de 3 mil comentários em reação à petição.
Entrevista
A reportagem fez contato com Rodrigo nesta terça-feira, por meio do perfil dele no Facebook, e pediu que o joinvilense comentasse a iniciativa de lançar a petição.
O que fez com que você, um joinvilense, iniciasse uma petição voltada aos direitos dos brancos da África do Sul "retornarem" à Europa?
Eu considero aquele povo, também o "meu povo". Não acredito em barreiras geográficas, nesse caso. Passei anos lendo notícias e recentemente até obtive depoimentos diretos de sul-africanos brancos, inclusive de dois que moram no Brasil. O que aquela minoria passa por lá é terrível. Não estou discriminando nenhuma raça ou etnia, muito pelo contrário, eu sou a favor e incentivo a preservação de todas as raças e etnias, se assim for possível. Justamente por isso defendo esta minoria sul africana. Para eles, há duas alternativas: Separatismo ou asilo político. Eu acredito que essas duas alternativas poderiam estar disponíveis.
Na petição, você diz que a população branca da África do Sul enfrenta uma limpeza étnica, perseguições e ainda menciona assassinatos em massa contra brancos. Em quais fontes você sustenta essas informações?
Me baseio em documentários, depoimentos diretos de sul-africanos (alguns desses depoimentos estão nos comentários da petição) e alguns sites.
Esse raciocínio de que os brancos da África do Sul pertencem à Europa não implicaria em dizer, portanto, que os negros da Europa pertencem ao continente africano? Não é uma forma de xenofobia?
Mas os brancos pertencem à Europa mesmo, estão por lá cerca de 40.000 anos. 40.000 anos se adaptando aquele ambiente, construindo uma cultura e comunidade naquele ambiente. E como eu já disse, sou contra racismo, porém acredito sim que uma nação e posteriormente uma civilização entra em decadência a partir do momento que ela perde a sua identidade.
Uma forma de perder a identidade é a imigração exagerada de povos estranhos aquela nação. Por 40.000 anos os negros viveram também isolados na África se desenvolvendo e construindo uma cultura completamente diferente.
Por que imigração exagerada é ruim e a imigração moderada e controlada é ok? A imigração controlada e moderada permite ao imigrante tempo suficiente para que se adapte aos costumes da nova cultura, enquanto que uma imigração massificada torna essa adaptação muito mais complicada, muitas vezes criando uma favelização, isolando aqueles imigrantes da sociedade nativa.
Eu defendo o retorno de sul-africanos brancos, porém, não defendo o retorno de negros de volta para a África, até porque esta seria uma medida extremamente autoritária. Os negros que moram na Europa vivem um padrão de vida elevado e relativamente seguro, então não há motivo algum para defender o retorno deles para a África ou qualquer outro local, por outro lado, estes sul-africanos estão em ameaça constante nas mãos de um governo abertamente racista, tanto na África do Sul, como no Zimbábue especialmente.
Na sua página do Facebook é possível perceber, por exemplo, o apoio ao que seria a criação de uma eventual República de Santa Catarina. Você simpatiza com as ideias de separatismo?
Sim, eu sou totalmente favorável ao separatismo catarinense. Por uma série de motivos, mas tentarei resumir: Somos o Estado brasileiro com menor índice de desigualdade social e maior IDH regional no país. Hoje pagamos 84% em tributos, que descem pelo ralo em Brasília. Cada vez mais o governo federal encontra métodos para centralizar o poder e tirar cada vez mais o dinheiro e a autonomia política da população.
Eu acredito que o direito autodeterminação é um direito humano fundamental.
A sua petição teve grande repercussão, com 25 mil manifestações de apoio. Você espera algum efeito prático dessa iniciativa?
Efeito imediato, no sentido de a UE conceder cidadania automática aos sul-africanos brancos, eu tenho certeza de que não acontecerá. Ao menos não agora, porém, a intenção da petição está sendo para fomentar o debate, de modo que possa até mesmo ocorrer efeitos indiretos devido a pressão política, tais como a comunidade internacional pressionar o governo sul-africano a abolir leis que promovam racismo contra aquela minoria étnica branca. Enfim, qualquer tipo de pressão política que resulte na melhora na qualidade de vida e preservação daquele povo, para mim, já será uma vitória.