A escassez de efetivo está sujeitando um número crescente de policiais militares a trabalharem sozinhos no Rio Grande do Sul. Em cidades do Interior, há apenas um brigadiano de serviço por turno - o que contraria padrões de segurança operacional, preocupa os próprios policiais e gera insegurança em comunidades inteiras. Nos últimos anos, a vulnerabilidade dos pequenos municípios atraiu assaltantes que atacam bancos utilizando dinamite e armamento pesado.
Na Páscoa, agências de oito localidades do Interior foram atacadas. No feriadão de Tiradentes, outras cinco. Municípios como Campestre da Serra, Minas do Leão e Passo do Sobrado foram alvo de quadrilhas de assalto a banco nas últimas semanas e de contarem com apenas um policial de serviço em pelo menos um turno do dia.
Postos fecham de dia e principalmente à noite
Mas muitas outras cidades vivem situação semelhante. Levantamento inédito da Federação de Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) revela que 78% das 238 prefeituras que responderam a um questionário sobre o tamanho do efetivo da BM não contam com militares suficientes para manter ao menos uma dupla de serviço todo o tempo.
Isso significa que essas cidades ficam com apenas um policial trabalhando em algum turno, ou até sem nenhum PM em determinados horários. Em localidades visitadas por Zero Hora, os postos da BM fecham à noite - e, eventualmente, durante o dia - devido à falta de gente.
Segundo o comando da Brigada Militar, são necessários pelo menos 10 brigadianos em uma cidade para preencher o sistema padrão de quatro turnos de seis horas por dia com uma dupla de policiais. Esse número engloba as oito vagas existentes mais dois militares como reposição para folgas, férias e licenças.
O relatório da Famurs demonstra que apenas um quarto das prefeituras que prestaram informações conta com uma dezena de brigadianos. Os PMs solitários demonstram preocupação com a falta de companhia para abordar suspeitos de forma mais segura e atender eventuais ocorrências.
- Já tive de prender dois homens sozinho. Não é fácil, é uma situação muito perigosa, mas a gente tem de fazer o que é necessário - conta o sargento de uma cidade com cerca de 2 mil habitantes que pede para não ser identificado por receio de receber uma punição administrativa.
O subcomandante da BM, coronel Paulo Stocker, afirma que a corporação tem hoje um efetivo 30% abaixo do previsto - os números exatos não são fornecidos, conforme o oficial, por razão estratégica. Porém, para Stocker, não há necessidade de policiais trabalharem acompanhados em cidades pequenas. Segundo ele, o baixo índice de criminalidade nem mesmo justificaria a presença de um militar em boa parte do Estado.
"Mantemos 100% dos municípios com brigadiano mais por vaidade", afirma o subcomandante da BM, coronel Paulo Stocker
- Eu, falando como gestor, não como subcomandante, não botaria hoje efetivo em muitas cidades do Interior. Talvez centenas de cidades do Interior não teriam brigadiano. Na minha opinião pessoal, não deixaria nenhum, porque não há necessidade. O índice de criminalidade, a qualidade de vida em matéria de segurança não requer policiamento imediato ali - sustenta Stocker.
Soldados solitários
Cidades do Interior têm apenas um policial militar
Comunidades convivem com a falta de PMs nas ruas e também com quartéis da Brigada fechados, durante o dia ou à noite, por falta de efetivo
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