Desde abril de 2014, as horas de folga nunca mais foram as mesmas para o menino Gabriel dos Santos, 12 anos, morador da Rua Joana Angélica, em Três Passos, no noroeste do Estado.
Um dos melhores amigos de Bernardo Boldrini, 11 anos, morto no ano passado, o vizinho da rua de trás ainda sente falta do companheiro das brincadeiras de esconde-esconde, dos jogos de futebol no meio da rua e das corridas de bicicleta em volta do prédio da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), entre outras peripécias armadas pela dupla nas redondezas da Rua Gaspar Silveira Martins, 1.061, onde Bê passou os últimos dias ao lado do pai e da madrasta:
- Ele (Bernardo) era muito bagunceiro - resume Gabriel, que, embora não frequentasse a mesma escola, voltava seguidamente para casa ao lado do amiguinho.
Na saída das aulas, o estudante da Escola Estadual Erico Verissimo costumava encontrar Bernardo, vizinho da rua da frente e aluno do Colégio Ipiranga. No caminho para casa, a dupla traçava os planos para as horas seguintes, de brincadeiras mais tranquilas, como jogar futebol ou andar de bike, até mais ousadas, como apanhar bergamotas na casa de uma vizinha, entupir dutos de água com pedras ou apertar campainhas e sair correndo - traquinagens comuns, diga-se, entre crianças de qualquer cidade pequena.
Segundo Gabriel, o amigo era o mais empolgado nas seguidas travessuras que aprontavam pelas redondezas, ao lado de outro garoto, Maicon, da mesma faixa etária.
- O Bê era agitado. Ele apertava a campainha e saía correndo. Era ele quem pulava a cerca para pegar a bola quando caía no pátio dos vizinhos - revela o parceiro Gabriel, com sincero riso infantil.
Em cada corrida de bicicleta ao redor do prédio da Corsan, os amigos disputavam um troféu, entregue simbolicamente ao vencedor, uma vez que, ao final da brincadeira, Gabriel, o dono, sempre levava a peça de volta para casa.
- Não andamos mais de bike - diz o menino, franzindo a testa enquanto levanta o troféu, em frente à bergamoteira da dona Ivone Tonello, 67 anos.
No portão de casa, na pacata Rua Joana Angélica, dona Ivone lamenta o fato de não ter conhecido Bernardo pessoalmente. Um mês após a morte do garoto, a idosa soube que Bê frequentava a sua calçada, ao lado de Gabriel e Maicon, na ponta dos pés, em busca dos frutos mais amarelinhos de sua árvore.
- Só fiquei sabendo que eles vinham pegar bergamotas aqui depois que ele morreu - afirma Ivone.
Apesar de traquina, Bernardo sempre chamou a atenção do vizinho e parceiro Gabriel por não agir como uma criança comum, que pode voltar para casa sem receios depois de um dia de brincadeiras.
- De noite, a gente entrava, mas ele ficava na rua. Podia passar ali (em frente à casa dos Boldrini) a qualquer hora do dia, ele sempre estava do lado de fora - narra o amigo.
Na opinião de Claudete dos Santos, mãe de Gabriel, Bernardo não deixou um vazio apenas para o amiguinho que ficou, mas para toda a vizinhança:
- A gente sente falta. Parece que enxerga ele ali, sentadinho na calçada ­- conclui Claudete.
Neste domingo, às 19h, uma missa será celebrada em homenagem a Bernardo na paróquia de Três Passos. Após a celebração, os presentes farão uma caminhada até a casa da família Boldrini.
Confira reportagem especial sobre o caso Bernanrdo
Em vídeo, ex-colegas e amigos relembram como era o convívio e as lições que Bernardo deixou.
Veja fotos da homenagem em Três Passos: