Enquanto coxinhas e petralhas se digladiam, o baixo clero do Congresso Nacional faz a festa tentando promulgar leis claramente discriminatórias aos homossexuais. A PEC da Família determina que apenas homens e mulheres podem constituir núcleo familiar, sendo, portanto, contra a adoção de filhos por gays. Em contrapartida, numa corajosa iniciativa, a Rede Globo mostra um beijo, simples, singelo, entre duas mulheres, representadas por duas grandes atrizes, ambas na terceira idade, na novela Babilônia. Um sopro de civilidade, enfim. E mais: a Igreja Presbiteriana, tradicional religião protestante americana, acaba de aceitar o casamento religioso entre pessoas do mesmo sexo.
Me lembrei então das minhas aulas de catecismo católico, do Novo Testamento e de quanto achava Jesus um cara muito revolucionário - um homem que protegia prostitutas e abraçava leprosos. Enfim, homem ou Deus que era totalmente do bem, que não discriminava ninguém e a todos acolhia. Jesus ousou romper a tradição, que preconizava absurdos como um pai vender a filha como escrava. Ele criou um novo conceito, muito mais ligado ao perdão. Esse foi o Jesus em quem acreditei. Agora me vêm estes pastores Malafaias e Felicianos, entre outros genéricos de várias religiões, dizer que ser gay é antinatural. Esses caras são a antítese daquele Jesus que conheci. A discriminação insana desses senhores, que se julgam detentores da moral e dos bons costumes, na prática condena milhares de pessoas à escuridão da ignorância, ao ódio e à violência contra pessoas que só querem ser felizes do jeito que são. Por que um casal gay não pode viver a normalidade de uma relação como um casal hétero?
O Jesus que conheci, não tenho dúvida, seria um novo símbolo caso voltasse em nossos dias. Poderia ser negro, mulher, branco, japonês ou até chinês. Poderia ser judeu... ah, isso ele foi de fato. Jesus poderia até mesmo ser gay. Assim, ele poderia dizer a todos que é o amor, e não a discriminação, que aproxima as pessoas. Espero que a sociedade civil brasileira não permita que o baixo clero, representado pelo presidente do Congresso, Eduardo Cunha (PMDB), ao lado de figuras como Bolsonaro, continue comandando a tropa da discriminação. Que a parte esclarecida da sociedade impeça que o Estado brasileiro seja refém do fundamentalismo religioso e que se garanta um Estado laico e republicano para todos, incluindo os religiosos, independentemente de raça, credo ou gênero. E que a liberdade individual de escolha seja valor absoluto na vida privada.
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Artigo
Adriana Franciosi: discriminação isana
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