O que fica do discurso de posse da presidente Dilma Rousseff ao assumir o segundo mandato? De bom, o compromisso com a educação, sintetizado no novo slogan do governo, "Brasil, Pátria Educadora", em substituição a "País rico é país sem pobreza". De ruim, a forma tortuosa como abordou a crise da Petrobras, como se a corrupção fosse responsabilidade exclusiva dos funcionários e não tivesse havido conluio entre políticos e empreiteiros.
O novo slogan está longe das criações mais inspiradas do marqueteiro João Santana, mas coloca a educação no lugar do combate à pobreza no topo das prioridades da presidente. A ideia é dizer que a meta de redução da miséria foi cumprida e que é hora de ajustar o foco, mirando o futuro. Dilma já disse incontáveis vezes que nenhum país tem futuro se não der prioridade à educação, o que significa valorizar os professores, tornar a carreira atraente e garantir que as crianças aprendam. O que não está claro é como essa intenção vai se transformar em ação. O novo ministro, Cid Gomes, conseguiu melhorar os indicadores do Ceará, mas o problema do Brasil é mais amplo. Como qualificar a educação num país em que prefeitos e governadores não conseguem nem sequer pagar o piso nacional?
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A menção à crise na Petrobras foi uma espécie de vacina. Dilma citou o assunto que mais tem desgastado o governo desde antes da eleição: a sujeira que veio à tona com a Operação Lava-Jato e fez cair o valor da estatal no mercado. Além de defender a investigação e a punição dos culpados - uma obviedade -, a presidente disse que vai defender a Petrobras dos predadores internos e externos. Dilma teria avançado se dissesse que livrará a Petrobras da influência dos políticos do PT e de partidos aliados que usaram a empresa para fazer negócios escusos. Blindar a Petrobras para que não seja usada para enriquecimento ilícito ou financiamento de campanhas, sob forma de propina a seus dirigentes, é o que Dilma precisa fazer na prática. O resto é retórica.
Chamou a atenção na posse a ausência dos principais líderes da oposição. Poderia ser apenas um sinal de falta de civilidade, de desprezo à democracia ou de inconformidade com a derrota, mas é mais do que isso. Com o boicote à posse, os adversários da presidente estão indicando que farão uma oposição sem trégua e que, por isso, não querem aparecer na TV batendo palmas protocolares ao discurso da eleita.
Dilma começa o segundo mandato mais frágil e sem a expectativa do primeiro, quando era a novidade. Sua tarefa a partir de hoje será recuperar a credibilidade perdida nos últimos meses. Uma tarefa difícil para quem governa com um ministério como o que acaba de tomar posse.
Opinião
Rosane de Oliveira: Dilma, a Petrobras e a pátria educadora
Colunista é a titular da Política+
Rosane de Oliveira
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