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Em seus acessos de raiva, Eduardo Paes, o prefeito do Rio de Janeiro, jogou um grampeador em um de seus assessores. Ele jogou um cinzeiro em outro. Ele repreendeu uma vereadora em seu gabinete, chamando-a de vagabunda. Chocando os clientes de um restaurante japonês onde estava sendo insultado por um eleitor, o vocalista de uma banda de rock, ele socou o homem no rosto.
Embora Paes, de 44 anos, tenha se desculpado aos alvos de sua ira após cada episódio, ele sempre acrescenta que está sob muito estresse. Marcando normalmente dias de 15 horas enquanto quebra e reconstrói partes do Rio, na renovação mais completa da cidade em décadas, Paes está descobrindo que o consenso sobre seus planos é ilusório.
- Nunca na sua vida faça uma Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos ao mesmo tempo. Isso tornará sua vida quase impossível - declarou Paes recentemente em um debate sobre a transformação do Rio, dando uma tacada de humor negro sobre os protestos de rua que tomaram a cidade no ano passado.
Paes tem um pouco de razão. Líderes políticos de todo o país podem ter achado que comandar esses megaeventos abriria caminho para celebrações generalizadas do surgimento do Brasil como uma potência do mundo em desenvolvimento, com o Rio deslumbrando em seu ressurgimento. Entretanto, como reconhece Paes, as coisas não aconteceram dessa forma.
- Não fui feito pra ser um masoquista, para levar broncas e xingamentos - disse ele durante uma entrevista, referindo-se à forma como alguns de seus críticos mais mordazes o abordam nas ruas do Rio - Mas esse processo reflete a democratização, o desenvolvimento de cidadãos no Brasil. Não acho que os protestos tenham acabado.
Em vez de uma alegria generalizada, o Brasil está enfrentando atrasos embaraçosos para concluir estádios, aeroportos e sistemas de transporte antes do início da Copa, em junho. Manifestantes questionam por que fundos estão sendo desperdiçados em instalações esportivas quando as escolas públicas e hospitais continuam sem investimentos. Desocupações de favelas na cidade têm alimentado o ressentimento com os grandes projetos de desenvolvimento.
Enquanto isso, o explosivo Paes, cuja sorte política vinha crescendo antes dos protestos nas ruas, se encontra no centro de disputas cada vez mais ferozes sobre o tipo de cidade em que o Rio está se transformando.
- Acho que esse cara é um 171. Ele está nos enganando - afirmou Gilva Gomes da Silva, de 40 anos, dono de uma borracharia na Favela do Metrô, onde sua casa foi demolida. O termo 171, uma gíria para alguém enganador, é uma referência ao código penal para o crime de fraude. Mesmo admitindo que sua nova unidade de habitação pública é aceitável, Gomes da Silva reclamou que o projeto pelo qual sua casa foi destruída, uma grande área comercial para reparos automotivos, não se materializou.
Paes ingressou na política no início da década de 1990 como assessor de César Maia, ex-prefeito do Rio, passando por um total de cinco partidos políticos ao longo de sua carreira e finalmente aterrissando no Partido do Movimento Democrático Brasileiro, de centro.
Após atuações como vereador e deputado, ele derrotou Fernando Gabeira, um icônico líder do Partido Verde do Brasil, na corrida eleitoral pela Prefeitura em 2008. E embora a esquerda do Rio tenha se reunido em volta de Marcelo Freixo, um ativista de direitos humanos, em oposição a Paes em 2012, o prefeito conseguiu a reeleição com 65% dos votos.
No espaço de alguns meses, porém, a vitória esmagadora deu lugar a cenas onde Paes era cercado por manifestantes. Apesar de receber críticas constantes, Paes, um aficionado pelos pequenos charutos chamados cigarrilhas, mostra poucos sinais de preocupação.
Atacando os manifestantes mascarados chamados de Black Blocs, pelas roupas pretas e panos cobrindo os rostos, ele os chamou de idiotas. Ele defendeu empreendimentos caros como o Museu do Amanhã, de US$100 milhões - um ambicioso projeto desenhado pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava -, dizendo "Nós precisamos de ícones". E insistiu em colocar sua agressiva renovação do Rio em contexto.
- Não quero comparar minha cidade a Zurique. Graças a Deus não somos tão tediosos - declarou Paes durante um café da manhã servido por garçons uniformizados na imponente Prefeitura do Rio, um prédio comumente chamado de Piranhão por estar localizado em uma região onde as autoridades removeram um distrito de prostituição nas décadas de 1970 e 1980.
- O Rio está avançando rapidamente, mas estamos numa fase diferente de nossa civilização.
Poucos moradores contestam que Paes tenha colocado em movimento uma onda de construção sem precedentes na história da cidade. Equipes de operários estão reconstruindo áreas próximas ao porto, um bairro degradado de prédios antigos que lembra a antiga Havana, enquanto derrubam monstruosidades visuais como o viaduto que corta o centro velho.
Ao mesmo tempo, Paes está supervisionando obras como a Transcarioca, uma rodovia ligando o aeroporto internacional à Barra da Tijuca, uma ampla zona de torres residenciais, favelas e condomínios, e uma série de novas instalações para os Jogos Olímpicos de 2016 - quando deve terminar seu segundo mandato.
A bonança para incorporadoras e construtoras vem acentuando a tensão nas ruas do Rio, com as enormes manifestações contra o aumento das passagens de ônibus e a insatisfação com os serviços públicos, em 2013, evoluindo para um constante gotejar de confrontos menores e violentos entre manifestantes e a polícia.
Parte da animosidade está relacionada a esforços das autoridades para firmar o controle sobre as favelas do Rio, com novos protestos explodindo por assassinatos de moradores pela polícia. Em algumas favelas, gangues armadas têm enfrentado agressivamente a polícia nas últimas semanas, indicando uma erosão dos ganhos obtidos com a redução da criminalidade.
Paes argumenta que certas obras estão além de seu controle. A responsabilidade pela polícia fica com o governador do estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que pode ser a única autoridade eleita no Rio a ter atraído mais ira dos manifestantes do que o próprio Paes.
Segundo Paes, a desilusão com a classe política do Rio é generalizada, e não necessariamente direcionada apenas a ele. Alguns dos moradores da cidade, incluindo aqueles que se acostumaram a ouvir que a hora do Rio brilhar finalmente chegou, concordam.
- Não tenho nada contra ele. Qualquer um que se sentasse na cadeira do prefeito iria fazer a mesma coisa - garantiu Gilmar Mello, de 47 anos, dono de uma pequena loja de equipamentos de motociclismo na Favela do Metrô. Sua loja está ao lado de uma pilha de escombros após as recentes desocupações e demolições na favela, não muito longe do novo estádio do Maracanã.