Por Carolina Coch*
Parece até uma ironia, mas dois dias após o Dia da Mulher, aqui em Rio Grande, minha filha entrou no carro, na saída da escola, aos prantos. Perguntei: o que foi, filha? Chorando muito, disse: a Paula Veleda, nossa professora de Literatura, foi assassinada hoje de manhã pelo seu namorado, em pleno centro da cidade. Ela falava desconsolada, chocada. E eu também, obviamente. Afinal, uma professora de colégio e de cursinho, uma pessoa calma, foi assassinada em pleno centro da cidade pelo namorado com o qual teve um relacionamento de quatro anos.
Minha filha disse: o relacionamento deles terminou na quinta-feira, e ele não aceitou. Pensei: quantos colegas de minha filha da escola e quantos cidadãos ficaram e estão chocados neste momento? E a família desta minha colega? Digo colega porque também sou professora (na Universidade Federal de Rio Grande) e, para mim, não há diferença nenhuma onde atuamos. Somos todos humanos e estamos tentando transmitir nossos conhecimentos para, de alguma forma, construirmos um país melhor. Estou revoltada. Não por ela ser professora como eu, mas por ser mulher e ter sido morta pelo seu namorado, apenas pelo fato de ela ter terminado a sua relação afetiva.
Que tipo de companheiros algumas mulheres têm? Muitos homens não aceitam quando uma mulher não os ama mais? É um absurdo isso acontecer 2014! Onde está a liberdade de escolha de um amor verdadeiro? Estatisticamente falando, com certeza, homens matam muito mais mulheres do que o contrário por causa do machismo, do não saber perder. Me questiono: esta moça de 32 anos nunca lhe deu alegria? Obviamente, sim. Seria ele um psicopata? Como ela poderia se defender desse desgraçado e covarde? Com denúncia à polícia por ciúmes? Ele a mataria ao descobrir. O que fez essa pobre moça? Com certeza, aguentou calada e terminou sua relação. E o que aconteceu? Ele a matou a sangue frio.
Está enraizado na cabeça de muitos homens que nós, mulheres, lhes pertencemos, como se fôssemos objetos deles. Temos mais liberdade sexual do que antes, mas somos ainda mulheres e, acima de tudo, seres humanos.
Como estão os alunos desta professora? Minha filha está chocada. Como está a família dessa moça?
Deixo aqui minha total indignação como colega dela, como mãe, como mulher. Há tristeza nos corações dos alunos desta professora, sempre calma e amiga de todos. Espero que essa história sirva de alerta para muitas moças que são seduzidas por esse tipo de homem louco. Ao primeiro sinal de "tua roupa está curta", gravadores na bolsa e perseguições, fujam, fujam.
A professora Paula deu aula de Literatura ao meu filho por mais de um ano, e ele passou em Medicina. Tenho certeza de que ela ensinou muito ele, tanto que ingressou em curso tão disputado. A ti, Paula, meu muito obrigado por teres ajudado meu filho. Lamento que minha filha não terá o mesmo privilégio, já que tiveste a vida foi ceifada por este infeliz.
* Docente da Universidade Federal de Rio Grande