Para o deputado federal Rogério Carvalho (PT-SE), relator no Congresso Nacional da medida provisória que instituiu o Mais Médicos, o abandono de profissionais é previsível e não coloca em risco o programa. Em entrevista a Zero Hora, ele também comentou a diferença entre o salário recebido por médicos cubanos e por outros profissionais.
Zero Hora - Como o senhor avalia o número de profissionais que abandonaram o programa em relação ao total de médicos?
Rogério Carvalho - É natural que algumas pessoas usem o programa para seguirem outro caminho na vida. Pode ser por casamento, por questões ideológicas. Isso é possível e previsível. Quando a pessoa sai para fazer residência médica em outro Estado, a maioria acaba fazendo sua vida no local da residência. Esse debate é muito ideologizado, porque a oposição não está preocupada se a maioria está trabalhando e dando sua contribuição, se regiões do país que nunca viram um médico na vida agora veem, se a produtividade do serviço de profissionais do Mais Médicos aumentou, e a satisfação da população também.
ZH - Há preocupação do governo de que o programa se torne uma rota para desertores do regime cubano?
Carvalho - Ninguém pode impedir isso. Seria uma visão autoritária ou mesmo irreal você achar que um profissional que sai do seu país, se ele não concorda por exemplo com o sistema político e tem a oportunidade de encontrar um caminho, que ele deixe de fazer isso.
ZH - Por que essa discrepância entre a ajuda de custo oferecida pelo governo federal e o valor recebido pelos cubanos?
Carvalho - O Brasil tem um acordo com Cuba para que forneça médicos para o programa, mediado pela Opas. A forma como Cuba trata os seus profissionais, que são como se fossem funcionários do governo, não diz respeito ao Brasil. Canadá e Inglaterra fazem do mesmo jeito. Por que aqui precisa ideologizar e colocar a responsabilidade no Brasil, como se estivéssemos fazendo trabalho escravo ou importando pessoas e submentendo-as a condições inadequadas? No caso dos outros profissionais, brasileiros e estrangeiros, a relação é direta, do governo brasileiro com a pessoa física. No caso dos cubanos, a relação é entre Brasil e Cuba.
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ZH - Que avaliação o senhor faz desses sete meses do Mais Médicos?
Carvalho - O programa é um sucesso, tem mudado o comportamento e a visão do povo brasileiro sobre o serviço público de saúde, mostrando ser possível que o SUS dê certo, e que isso depende muito do empenho e da adesão dos profissionais médicos que se dedicam, cumprem horário e se dispõem a atender a população.