A ativista brasileira Ana Paula Maciel, 31 anos, chegou a Porto Alegre no final da manhã deste sábado (28). Ela é uma das 30 pessoas detidas na Rússia após um protesto contra a exploração de petróleo no Ártico. A bióloga desembarcou por volta das 11h no Aeroporto Internacional Salgado Filho, depois de viajar por mais de 12 horas.
Na chegada a capital gaúcha, Ana Paula foi recebida por familiares e amigos e conversou com a imprensa. Ela respondeu às críticas sobre sua participação em ações do Greenpeace em outros países.
"Se eu aceitei os riscos para falar mais alto é porque acho que vale a pena. Esses dois meses na prisão valeram a pena. O que as pessoas não entendem é que, sim, eu estava lá longe protegendo o Ártico, mas eu sei que o Brasil também tem problemas. O fato é que se o Ártico derreter a Amazônia vira um deserto."
Durante a conversa com jornalistas, a bióloga criticou o governo russo e disse que a prisão dela e dos outros ativistas foi arbitrária e com interesses políticos.
"A gente ainda não sabe qual era o objetivo da Rússia com essa ação exagerada, mas no final das contas eles caíram no buraco que cavaram e a única maneira de sair desse buraco foi nos concedendo a anistia. É difícil dizer que a Rússia é uma dmocracia., O sistema judiciário russo não é independente. Lá, nós percebemos que as decisões eram tomadas depois de um telefonena que chegava de alguem que eu não sei quem era."
A gaúcha lembrou o período em que esteve presa e relatou detalhes da rotina dentro da prisão. Ana Paula Maciel disse que os guardas eram gentis e tentavam entender os pedidos, mesmo com a barreira do idioma.
"Eu nunca tive medo, mas todo o sistema carcerário funciona para te humilhar e te deixar submisso. Ficávamos ouvindo música alta por 12 ou 16 horas e minhas companheiras de cela eram impedidas de dormir durante o dia. Nós não tínhamos paz em nenhum momento na prisão. Depois que fomos considerados presos políticos a situação mudou e tínhamos direitos que os outros presos não tinham."
Ana Paula Maciel disse que escreveu um diário na prisão onde relata as experiências vividas, mas ainda não sabe se pretende publicar as anotações. Sobre a cobertura do caso pela imprensa russa, a ativista disse acreditar que houve manipulação das informações.
"A edição dos telejornais era feita de forma que as matérias relativas a crimes e vandalismo ficassem próximas àquelas que falavam da nossa prisão. A conexção era automática. Se não fosse a imprensa do Brasil e o governo brasileiro eu ainda estaria atrás das grades. Eles prendem as pessoas aleatoriamente todos os dias na Rússia, mas ninguém fica sabendo."
No saguão do terminal aéreo, a família de Ana Paula a aguardava com expectativa. A mãe, Rosângela Maciel, foi ao aeroporto com o pai, a irmã e a avó da bióloga. Amigos também estavam aguardadando a chegada dela e seguravam um cartaz com os dizeres "A nossa Porto está mais Alegre com o teu retorno. Te amamos".
O pai de Ana Paula, Jaires Maciel chegou antes ao aeroporto vestindo uma camiseta com o rsoto da filha. Nas mãos dele, um presente para a filha.
"Eu passei num mercadinho e vi uma baleia Orca de pelúcia. Como ela tem uma expedição marcada para janeiro para defender às baleias na Nova Zelândia, achei que ela gostaria."
A viagem, no entanto, não foi confirmado por Ana Paula. Ela disse que pretende passar os próximos meses com a família descansando. A bióloga, no entanto, não deve permabecer muito tempo parada. Ana Paula disse que vai continuar participando de ações do Greenpeace.
"Nós não vamos parar! Nossas ações não são contra os governos ou contra as empresas. Somos contra o sietema de exploração de petróleo. Só vamos parar quando conseguirmos fazer do Ártico um santuário.
Perguntada se voltaria para a Rússia, Ana Paula disse que, por enquanto, não pretende.
Veja imagens do desembarque de Ana Paula em Porto Alegre:
Entenda o caso
A ativista gaúcha Ana Paula Maciel e outras 29 pessoas foram presas no dia 19 de setembro após a embarcação onde estavam, pertencente ao Greenpeace, ser interceptada pela Guarda Costeira russa em um mar ao norte do país. O grupo havia realizado, no dia anterior, um protesto contra a exploração de petróleo no Ártico e passou a ser investigado por suspeita de pirataria.
No final de outubro, a Justiça russa rebaixou para vandalismo a acusação contra os tripulantes do navio. Além de Ana Paula, foram investigados quatro russos e 25 estrangeiros, dos Estados Unidos, Argentina, Reino Unido, Canadá, Itália, Ucrânia, Nova Zelândia, Holanda, Dinamarca, Austrália, República Tcheca, Polônia, Turquia, Finlândia, Suécia e França.
Dois meses após sua prisão, Ana Paula ganhou liberdade provisória mediante o pagamento de fiança - equivalente a R$ 141 mil, paga pelo Greenpeace. O grupo foi anistiado pelo Parlamento russo em 18 de dezembro, e o caso acabou sendo encerrado pelo governo local uma semana depois.
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