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Na semana em que celebra o Dia do Meio Ambiente e quase um ano após a realização da Rio+20, o governo brasileiro anunciou a superação das metas definidas para preservação ambiental. Em relação aos objetivos traçados para 2020, os dados oficiais indicam que já se atingiu 76% da meta de redução do desmatamento e 62% da diminuição prevista de emissões de gases. Desde 2004, o desmatamento caiu 84%, segundo o governo. Este percentual teve variação insignificante desde 2012.
Conforme o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram desmatados 4.571 km² em 2012, o que representa uma queda de 29% em relação a 2011. Os dados, no entanto, são contestados por entidades ambientalistas.
Segundo a coordenadora de Políticas Públicas do Greenpeace, Renata Camargo, após a regulamentação do Código Florestal, o país registrou um aumento do desmatamento. Ela se apoia em trabalhos como o Boletim do Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD) do instituto de pesquisas Imazom, divulgado em janeiro deste ano. O estudo mostra um aumento de 118% em relação ao período anterior (agosto de 2011 a janeiro de 2012).
- O governo não apresentou nada de novo, apenas requentou dados antigos com a correção, perdendo a oportunidade de falar sobre a criação de novas unidades de conservação, ou novas políticas ambientais - afirma Renata.
Durante reunião do Fórum Brasileiro sobre Mudanças Climáticas, realizada ontem no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff ressaltou que o Brasil assumiu de forma voluntária a meta de reduzir entre 36% e 39% a emissão de gases do efeito estufa. Enfatizou que o país continuará a cumprir o desafio, mas que corre o risco de ter de incorporar as termoelétricas em sua matriz energética.
Pontos para examinar com atenção
DESMATAMENTO DA AMAZÔNIA
O presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Maurício Lopes, apresentou ontem o Projeto TerraClass, realizado em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O trabalho mostra o aumento da vegetação secundária na Amazônia. Do total de 739.672,54 km² de desflorestamento acumulado até o ano de 2009, 22% (165.229,31 km²) consistem de áreas que foram abandonadas e que estão em processo de regeneração.
Para o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Carlos Eduardo Young, a redução já pode ser reflexo das restrições impostas pelo Código Florestal.
Entre as medidas anunciadas pela ministra do meio ambiente Izabella Teixeira, está o fato de que o país pretende iniciar um novo ciclo de concessões florestais. O objetivo, segundo ela, é reduzir a exploração ilegal da Amazônia:
- Queremos zerar a atividade ilegal e, nas áreas de exploração legal, ampliar os processos de economia de baixo carbono.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Os recentes debates sobre o Código Florestal apontam que ainda prevalece no país a visão de que as florestas representam um entrave ao crescimento econômico. Segundo o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisador do Instituto de Ciência e Tecnologia em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (INCT/PPED) Carlos Eduardo Young, um exemplo de como a floresta pode ser melhor empregada no desenvolvimento do país é a exploração sustentável das matas, como o mercado de carbono.
Coordenadora de Políticas Públicas do Greenpeace, Renata Camargo, afirma que o último inventário de emissões do país aponta como tendência a sinalização de que o percentual de combustível fóssil irá aumentar, assim como os investimentos na área de petróleo e gás. Segundo ela, esse dado é um risco para as mudanças climáticas.
- Essa é uma questão perigosa. Falta prioridade para as energias limpas - diz.
ENERGIAS LIMPAS
A presidente Dilma Rousseff ressaltou que as indústrias e as usinas hidrelétricas têm papel importante na redução de emissões de gases. Segundo ela, é necessário assumir o fato de que, se o país continuar investindo na construção de hidrelétricas, essas emissões de gases poderão aumentar.
No entanto, no Dia do Meio Ambiente, marcado por ser a data de novos anúncios pró-ambiente, a presidente não acenou com novos investimentos para o setor de energias limpas. Frustrou a expectativa dos ambientalistas e acabou criticada pela prioridade dada aos combustíveis fósseis:
- Parece um governo que está olhando para trás, surfando na onda de desenvolvimento que vem de outros governos e andando na contramão do desenvolvimento sustentável - criticou Renata Camargo, do Greenpeace.