Nos anos 1990, na casa de tijolo à vista da Rua Silva Paes, funcionava uma delegacia da Polícia Civil. Hoje, o "delegado" atende pelo nome de José Alves Barbosa. Aos 58 anos, é uma espécie de responsável pelo alojamento que divide com 20 colegas de empresa. Por ser caldeireiro, uma função mais bem remunerada que a dos companheiros - a maioria montadores de andaime -, é chamado de chefe.
Na residência adaptada para receber os trabalhadores, quartos foram inventados. As portas de compensado ladeiam finas paredes de madeiras. Alguns aposentos não têm janela. Há dois banheiros.
A família, como gostam de se denominar, tira o sofá da sala e o carrega, em trio, para a frente da casa. Lá, acompanha a movimentação. Assovia para algumas meninas. Um deles toma uma bebida com cor de gasolina em uma garrafa de vodca.
Mesmo que bebam, o respeito ao chefe é garantido:
- Já pedi para um parar de falar alto uma vez - diz Barbosa, em alto tom de voz, arrancando risadas dos demais.
Após 25 anos rodando o Brasil atrás de obras, Barbosa diz que nunca encontrou lugar melhor para trabalhar do que Rio Grande. O salário é pago em dia e sustenta a casa, no litoral paulista.
- Só falta um aeroporto mais perto daqui. Levo o dobro de tempo para ir até Porto Alegre do que para chegar a São Paulo.
Falta infraestrutura inclusive para os forasteiros.
