O baixo nível dos rios do Estado traz à tona histórias submersas nas últimas décadas. Da vila no fundo da barragem de Passo Real a uma pedra entalhada na década de 1940 em Colinas, no Vale do Taquari, os filetes de água em que se transformaram os principais rios gaúchos revelam segredos escondidos no fundo de seus leitos.
A seca prejudica o transporte de cargas e ameaça o consumo humano.
Caxias do Sul emitiu nesta terça-feira decreto de uso consciente da água, restringindo-a apenas às atividades essenciais. Novo Hamburgo não descarta retomar nos próximos dias o racionamento.
Confira site especial sobre a estiagem no Estado
Marca de 1943
Uma escrita entalhada nas pedras do fundo do Rio Taquari há 69 anos tem chamado a atenção dos moradores de Colinas. O entalhe foi feito pelo morador Rodolfo Binicker no dia 11 de maio daquele ano, para lembrar uma seca histórica que atingiu a região.
A data gravada na pedra ficou visível pela primeira vez em 2005. Nos últimos anos, mesmo em períodos de estiagem, o rio não baixou o suficiente para que que a escrita ficasse à mostra. O local se transformou em ponto turístico na cidade, e recebe visitantes interessados em fotografar o local.
Um porto reapareceu no Jacuí
A queda do nível das águas mudou a paisagem do Rio Jacuí. Em Cachoeira do Sul, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente afirma que está abaixo dos padrões das estiagens. Em todo o leito é possível ver bancos de areia e pedras. Ao longo do rio, moradores localizaram dezenas de pneus descartados.
Em Rio Pardo, o píer do antigo cais do Balneário dos Ingazeiros, antes submerso, ficou completamente à mostra. Construído em 1850, o porto foi desativado há 60 anos.
A vila que emergiu no Noroeste
A seca deu a Quinze de Novembro, no Noroeste, um novo cartão-postal. Todos os finais de semana, cerca de 700 famílias de várias regiões do Estado visitam a barragem do Passo Real.
O objetivo é conhecer a antiga vila Passo do Lagoão, que estava submersa há mais de 40 anos e que reapareceu após o nível do lago artificial baixar mais de 12 metros (na foto, quem visita a barragem é o prefeito de Quinze de Novembro, Clair Kuhn).
Antigo morador da vila e agora dono da área que dá acesso ao local, Paulo Roberto Meinen conta que este é o nível mais baixo da barragem desde que ela foi construída.
Assado no rio
Acostumados a pescar no Rio Uruguai (abaixo), cinco moradores de Porto Mauá, no Noroeste, agora assam um churrasco em um ponto seco.
- Esse nível tão baixo do rio tem chamado a atenção dos moradores. Fomos até o meio para almoçar por uma questão de curiosidade - afirma o comerciante Rubens Saggin.
De acordo com a prefeitura, essa é a seca mais rigorosa desde 1979. Os bancos de areia no meio do Uruguai, submersos nas últimas décadas, se tornaram visíveis. Após o canal perto da costa, é possível atravessar o restante do rio até a Argentina a pé.
Chuva forte só deve vir em julho
Mesmo com a chuva que começou a cair ontem e que deve se espalhar hoje, a situação da seca não se modificará. É a previsão da Somar Meteorologia.
- São precipitações rápidas e em pouca quantidade, que devem parar nesta quarta-feira. Depois disso, só voltará a chover na segunda quinzena de junho, e ainda assim em pouco volume - afirma meteorologista Elizabeth Lima Carnevskis.
Segundo as previsões, a seca no Estado só deve diminuir na segunda metade do mês de julho, quando deve chover em maior volume.