A equipe de Esportes do Grupo RBS promove uma série de matérias chamadas Jogos do Futuro. Além de apresentar entrevistas para discutir o cenário de incertezas para o esporte olímpico no mundo pós-pandemia, também contará a história de atletas que treinam no Rio Grande do Sul e que ou estarão em Tóquio ou brigam para estar. Nesta segunda-feira (20), os Jogos do Futuro apresenta Almir Júnior, triplista da Sogipa, que irá para sua primeira Olimpíada.
Qual a distância para chegar a Tóquio? Para Almir Júnior, triplista da Sogipa, foi necessário superar a marca de 17m14cm para se garantir nos Jogos Olímpicos do ano que vem. Em junho de 2019, no meeting de La Chaux de Fonds, na Suíça, o atleta saltou um centímetro a mais do que o índice exigido e botou os dois pés no principal evento esportivo do planeta. Apesar disso, os 17m15cm saltados no país europeu não são nem de perto as melhores marcas de Almir na carreira. Em maio de 2018, em uma competição no Caribe, cravou 17m53cm.
Vencer distâncias sempre foi uma virtude do mato-grossense, agora com 26 anos. Ainda adolescente, saiu de Peixoto de Azevedo, quase na divisa entre o Mato Grosso e o Pará, para viajar 2.790 quilômetros até Porto Alegre, onde está radicado há mais de uma década.
A paixão em saltar foi despertada de forma inusitada, ainda no Estado do Centro-Oeste brasileiro. Assim como grande parte das crianças brasileiras, Almir queria ser jogador de futebol e vestir a camisa do Flamengo.
— Tudo aconteceu meio por acaso. Eu treinava numa escolinha de futebol e o pessoal do atletismo precisava de atletas para uma competição, porque a modalidade não é muito divulgada. Desde esse primeiro momento, me destaquei no salto em altura. Aí me convidaram para uma competição. Inicialmente eu não quis, eu jogava futebol, nem me passava pela cabeça o atletismo. Mas daí eles falaram que iam para outra cidade, ia perder uma semana de aula, aí eu me interessei, falei: "Ah, acho que vou" — conta Almir.
Ele não apenas participou como ganhou a competição. A partir dali, a semente do atletismo estava plantada na cabeça do garoto de 11 anos. Para seguir em frente no esporte, teve de superar obstáculos. Por um período, conciliava os jogos de futebol com os treinos de saltos. Mas logo teve de parar. Em razão da separação dos pais, foi para São Paulo com a mãe.
Aos 14 anos, voltou ao Mato Grosso. Pelas mãos de Elvis Pinheiro, a quem Almir considera seu primeiro técnico, foi convidado a retornar aos treinos de atletismo. Seguiu dividindo-se entre o salto em altura e o futebol. Com os bons resultados prova do atletismo, — chegou a estar entre os três primeiros no ranking brasileiro da modalidade com 15 anos —, veio o convite para se mudar para Porto Alegre e para a Sogipa pelas mãos de José Haroldo Loureiro Gomes, o Arataca, que o observou em uma competição em Maringá, no Paraná:
— Inicialmente ele não acreditou que eu vinha, mas estou aí até hoje (risos). Vim para cá aos 15 anos, sozinho. O Elvis também foi um cara que me incentivou muito. Como eu disse, o atletismo ninguém conhece, não tem uma visibilidade, você não consome atletismo no dia a dia, então eu não tinha noção que eu podia sobreviver do atletismo, ser um grande atleta, sabe? Eu vim porque era uma oportunidade de sair do interior. Aí peguei minhas coisas e falei para o Arataca que eu estava vindo, e eu vim.
Não foram poucos os momentos em que pensou em voltar à terra natal, mas Almir perseverou e, ouvindo conselhos treinador, migrou para outra prova do atletismo. Na segunda metade de 2016, foi convidado para disputar os Jogos Abertos do Interior, em São Paulo. Naquela ocasião, decidiu disputar três provas de saltos: em altura, em distância e o triplo. Neste último, sem qualquer tipo de treinamento específico, ficou em segundo lugar.
Pronto, a história de Almir estava pronta para ser mudada. Em 2017, passou a se dedicar integralmente ao triplo. Em setembro, saltou 16m86cm em um campeonato no estádio de atletismo da Sogipa. A partir de então, decolou. Enfileirou bons resultados, venceu campeonatos ao ar livre e em estádio cobertos e conquistou a medalha de prata no Mundial Indoor de Birmingham, em março de 2018. Apesar de resultados decepcionantes no Pan-Americano de Lima e no Mundial de Doha, em 2019, é uma das apostas de medalha olímpica do atletismo. Ainda digerindo a frustração do adiamento dos Jogos de Tóquio para 2021, está confiante em alcançar o maior sonho da sua curta carreira no triplo, façanha impensável nos tempos em que corria pelos gramados de Peixoto de Azevedo:
— Ser campeão olímpico.
*Colaboraram Paula Menezes e Lucas Bubols