
Gonzaguinha já dizia que "somos nós que fazemos a vida; como der, ou puder, ou quiser". Marina Storchi, esposa do Alan Ruschel, lateral-esquerdo do Juventude, apesar dos desafios que enfrentou, é um exemplo de quem faz a vida ser bonita. Mãe de dois meninos, a gaúcha é designer visual de formação e sonha em abrir uma marca de roupas.
Além disso, tem uma fé e resiliência de se admirar. Na sequência das entrevistas para celebrar o Dia da Mulher, a equipe de esportes do Grupo RBS conversou com ela para conhecer mais sobre a história de vida dessa família.
Natural de Caxias do Sul, Marina é torcedora ferrenha do Juventude, participante ativa do conselho do clube. Esse amor pelo Alviverde atravessa gerações da família. E foi por meio dessa paixão que ela conheceu o Alan Ruschel, em 2012.
– A gente se conheceu em Pelotas. Era um jogo da Copinha para tentar vaga para a Série D. O Alan tinha quebrado a clavícula e estava na arquibancada também. O Ju foi campeão em cima do Brasil e, quando eu vi, minha bandeira estava dentro do campo com ele. Depois ele quis me devolver.
No início, a designer teve receio de namorar um jogador de futebol:
– Eu ajudava o clube no conselho e me pesava muito eu ter conhecido o Alan e me relacionar com ele. Quem não conhece jogadores taxa eles como bagunceiros. E fui com essa expectativa, que era bagunça, e não era o que eu procurava. Então, no primeiro momento foi meio travado, até para eu apresentar para a minha família, mas no fim deu tudo certo!
Logo depois, a viradinha de chave dele foi aproveitar a vida. Foi de viver tudo que há pra viver, porque pode acabar agora. Isso, inclusive, gerou muito atrito entre nós, mas eu acredito que Deus não une pessoas aleatoriamente, ele une propósitos.
MARINA STORCHI
Sobre o acidente da Chape
Tão certo que, depois de apenas seis meses de namoro, Alan morou com os pais de Marina enquanto ela terminava a faculdade em Porto Alegre. Logo depois de ela se formar, o casal se mudou para Chapecó. E foi lá que as suas vidas mudaram para sempre. No final de 2016, a gaúcha estava em Chapecó quando soube da queda do avião do Chapecoense, time do seu então noivo. O acidente vitimou 71 pessoas. Teve somente seis sobreviventes, entre eles, Alan Ruschel.
As manchetes do dia 29 de novembro de 2016 já mostravam que um dos primeiros pensamentos dele depois de acordar tinha sido sua família e, principalmente, Marina. Antes de entrar em cirurgia por conta da lesão na coluna, Ruschel entregou a aliança para a equipe médica e pediu que eles entregassem à sua amada. Ele se recuperou e, cerca de um ano depois, voltou a jogar futebol. Foi o único sobrevivente que retornou ao esporte de alto nível. Logo depois da volta, ele e Marina fizeram o casamento dos seus sonhos.
– Eu não gosto de falar sobre o acidente, me traz tudo de novo. Mas foi um despertar para mim, sabe? Porque tudo é benção ou lição. Só que, às vezes, a gente sabe disso mas não vive. Só que eu creio que na crise tem muita coisa bela e tudo que a gente viveu lá me trouxe essa consciência da vida e fez que eu vivesse a vida realmente como Deus quer para mim. Logo depois, a viradinha de chave dele foi aproveitar a vida. Foi de viver tudo que há pra viver, porque pode acabar agora. Isso, inclusive, gerou muito atrito entre nós, mas eu acredito que Deus não une pessoas aleatoriamente, ele une propósitos.
A fé que floresceu nas adversidades é muito presente na fala de Marina. Até porque o acidente não foi a única vez em que ela precisou tirar uma lição de uma situação ruim. Depois do casamento, uma gravidez interrompida e uma de risco testaram ainda mais a resistência da família. O filho mais velho, Lucca, nasceu de 29 semanas e passou 33 dias na UTI.

Além de Lucca, de seis anos, o casal tem Pedro, um ano. Com as mudanças e a maternidade, a designer adiou seus projetos profissionais, mas tem o desejo de criar uma marca de roupas e trilhar um caminho pela sua formação:
– Falo para o Alan que, agora, é o sonho dele, mas depois vai ser o meu. Quando eu me dei por conta de que eu não iria poder viver o meu desejo da moda, eu falei "ok, agora é um outro momento, mas depois eu vou poder viver isso". O acidente fez eu me acalmar com relação a não estar vivendo isso. E o que esse cenário me trouxe foi me valorizar mais. Hoje eu me admiro e sei que foi por causa disso que eu cresci.