Jalen Hurts, quarterback do Philadelphia Eagles, chega ao Super Bowl LIX sem o favoritismo. Afinal, enfrenta o Kansas City Chiefs de Patrick Mahomes, atual bicampeão. Hurts é o “underdog”, expressão em inglês usada nos esportes para designar quem, devido ao seu histórico, é considerado o provável "perdedor". No Brasil, chamamos de azarão. Essa alcunha acompanha Jalen Hurts desde sempre. Só que os “underdogs” não deveriam vencer. Vencer é o que Hurts sabe.
— Cães famintos correm mais rápido — disse o quarterback após uma das únicas três derrotas na temporada. Hurts está faminto em mostrar que pode ser mais do que um “underdog” na vida.
Com apenas 26 anos, o camisa 1 dos Eagles chega ao Super Bowl pela segunda vez. Quis o destino que fosse novamente contra o Chiefs, time que o derrotou na final há duas temporadas. Em uma liga onde os quarterbacks são frequentemente julgados com base em vitórias, Hurts teve uma média de 12 vitórias por ano nas quatro temporadas como titular e chegou aos playoffs todos os anos. No entanto, Hurts muitas vezes teve suas credenciais como quarterback de alto nível da NFL questionadas.
— Estou surpreso que dúvidas ainda existam. O cara (Jalen Hurts) tem sido a nossa embreagem. Ele ganhou muitos jogos, mas ainda dizem: "você teve apenas tantas jardas". Quem se importa? Ele simplesmente vence — define Nick Siriani, treinador do Philadelphia Eagles.
Considerado um jogador atlético, tem na corrida uma de suas principais armas. Quando precisa, ele resolve com as próprias pernas em campo. Só que a capacidade de Hurts de correr fez com que sua habilidade como passador fosse colocada em dúvida, como se uma competência anulasse a outra. O desempenho da defesa, sendo a que menos cedeu pontos e jardas no ano, além da temporada arrasadora do running back Saquom Barkley, também deixam a importância do quarterback em segundo plano.
Hurts perdeu apenas três dos 18 jogos que disputou, entre temporada regular e playoffs. Passou para 21 touchdowns e correu para outros 18. Soma, atualmente, 3,4 mil jardas de passe e 750 terrestres. Sofreu apenas cinco interceptações, um dos melhores índices entre os quarterbacks titulares no ano.
É peça fundamental do “tush push”, jogada muito usada pelos Eagles. Jalen Hurts não tem as melhores estatísticas, nem protagoniza as jogadas mais plásticas. Mas ele vence seu jogos, mesmo que seja considerado um “underdog”.
— Eu não jogo por estatísticas. E eu entendo que todos têm uma noção pré-concebida de sucesso. O sucesso pode ser relativo para cada pessoa. E o que eu defino sobre sucesso é: vencer — declarou, enquanto usava um boné de campeão da Conferência Nacional após a vitória diante do Washington Commanders.
Hurts, sempre subestimado
As dúvidas sobre o trabalho não acompanham Hurts apenas na NFL. No futebol universitário, passou por momentos de turbulência. Jogou de 2016 a 2018 por Alabama, uma das universidades mais tradicional do College.
Tinha um recorde de 26 vitórias e apenas duas derrotas. Em um jogo decisivo dos playoffs de 2018, o Alabama perdia para a Geórgia por 13 a 0 no intervalo. Hurts foi substituído por Tua Tagovailoa, hoje jogador do Miami Dolphins, que comandou a virada.
No banco de reservas, Hurts sorria e parabenizava os colegas. A felicidade estampada no rosto mascarava uma dolorosa contradição: foi campeão, mas depois de perder a titularidade. Saiu para Oklahoma na temporada seguinte, onde deu a volta por cima e foi o segundo na votação para o Heisman (troféu para o melhor jogador do ano).
Foi selecionado apenas na segunda rodada do Draft de 2020, ano marcado por uma classe de quarterbacks muito talentosos. Mais uma vez, Hurts foi considerado o “azarão” entre tantos nomes. Outros quatro jogadores da posição foram escolhidos antes de Hurts: Joe Burrow, do Cincinnati Bengals, Tua Tagovailoa, do Miami Dolphins, Justin Herbert, do Los Angeles Chargers, e Jordan Love, do Green Bay Packers. Todos são titulares na liga atualmente.
Quem é Jalen Hurts
Jalen Hurts nasceu em Houston, no Texas. Filho de dois professores, teve o pai Averion como primeiro treinador de futebol americano, ainda na escola.
Fora das quatro linhas, o jogador tem formação em Comunicação e Ciências da Informação, além de um mestrado em Relações Humanas. Hurts mantém uma equipe de gestão de carreira, agenciamento e comunicação toda formada por mulheres. Além disso, é incentivador dos esportes femininos.