Desde que começou a apitar, Rafael Klein anota jogo por jogo em que atua em um caderninho. Sua caneta preencheu muitas folhas em 2024. Foram 43 partidas apitadas no ano. A caderneta também recebe anotações sobre seu desempenho. Poderia, se quisesse, nota de outros fatos importantes da temporada, como escudo da Fifa no peito, a final do Gauchão, a estreia em nível internacional. Pode adicionar, agora, a escolha como o melhor árbitro brasileiro do ano, em eleição feita pela CBF.
Se desejar, poderia colocar uma estrelinha no ano para sinalizar o bom aproveitamento na temporada. Mas ele ainda quer mais para fazer autoelogios exacerbados.
— A cada ano venho percebendo e sentindo que novos desafios vão acontecendo, vão chegando e a gente consegue amadurecer em cima desses novos desafios. Porque senão a gente acaba ficando numa zona de conforto. E isso não é interessante, não é construtivo. Fico realmente muito feliz com as oportunidades, mas sem entrar numa zona de conforto. Eu busco mais. O próximo ano eu quero ser melhor do que eu fui esse ano — enfatiza.
Nessa lista de jogos apitados um ganha destaque.
— Sem dúvida nenhuma a final da Copa do Brasil. Não que fosse um jogo com grandes tomadas de decisões, mas foi um jogo que exigiu um equilíbrio mental, que eu passasse essa segurança para os atletas e não passou só por mim, passou por toda a equipe — revela.
Se você não lembra, melhor. Significa que a estreia de Klein em finais nacionais passou incólume. Ele esteve no comando do jogo de ida entre Flamengo e Atlético-MG.
Trajetória do árbitro
A história de Klein, 34, com a arbitragem começou ao acaso. Natural de Poço das Antas, cidade de 2 mil habitantes na Serra, tinha em frente de casa um campo de futebol. Se apaixonou pelo esporte e traçou como meta trabalhar com a modalidade. Nunca imaginou que seria como árbitro.
Em 2011, os cursos da UFSM organizavam torneios para arrecadar dinheiro para as formaturas e iam na faculdade de Educação Física em busca de voluntários para apitarem as partidas. O então estudante Klein topou o desafio. Gostou do resultado. Empilhou jogos e se profissionalizou.
— Aquilo mexeu muito comigo. A parte disciplinar, a parte de decisão, tomar decisões. Então, eu sempre me colocava à disposição para trabalhar nesses jogos. Em 2012, passando pelos corredores do curso, eu vi um painel lá que dizia sobre as inscrições do curso de arbitragem da Federação Gaúcha de Futebol. Acabei me inscrevendo. E a partir dali as coisas foram acontecendo — relembra.
Profissionalizar talvez seja uma expressão muito forte. O correto é passou a se dedicar com afinco à carreira de árbitro. Dedicação total, entretanto, apenas a partir da metade do ano passado. Foi quando abandonou o emprego de onde eu trabalhava como coordenador de esportes no Poço das Antas para viver exclusivamente do apito.
Montou uma comissão multidisciplinar para ajudá-lo. São dois profissionais que o auxiliam no aspecto físico. Nutricionista. Fisioterapeuta. E psicóloga.
— (A psicóloga me ajuda) não somente no profissional, mas o pessoal também, porque a gente não pode esquecer disso. Mentalmente, a gente precisa estar bastante preparado. É extremamente importante que eu esteja equilibrado mentalmente, que eu esteja tranquilo, que eu esteja confiante, que eu esteja sereno. Porque eu preciso passar para os atletas, para a comissão técnica, para o público, a imprensa, essa segurança também. Estar mentalmente equilibrado passa por todos esses aspectos de confiança, de equilíbrio, discernimento pra que nas tomadas de decisões, principalmente nas grandes tomadas de decisões, a gente consiga ter o discernimento para conseguir acertar aquela decisão — explica.
Klein entra em uma lista que dos anos 1990 para cá conta com Renato Marsiglia, Carlos Simon, Leonardo Gaciba e Anderson Daronco. Todos considerados e algum momento de suas carreiras como os melhores árbitro do Brasil.
Ele quer mais. Ainda jovem, ele sonha em apitar uma Copa do Mundo. Talvez, quando chegar ao Mundial, ele coloque aquela estrelinha no seu caderno de anotações.