A segunda etapa do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia, que está sendo realizada na Praia do Pina, em Recife (PE), ficará marcada por mais um crime de homofobia no esporte brasileiro.
Ainda durante o torneio de qualificação, o carioca Anderson Melo denunciou ter sido vítima de homofobia enquanto atuava ao lado do goiano Lyan. O caso ocorreu durante a segunda rodada, quando eles enfrentavam o amazonense Luizão e o pernambucano Fabiano, que terminaram vencendo a partida.
Em suas redes sociais, o jogador de 32 anos se manifestou e afirmou ter registrado um Boletim de Ocorrência na Polícia de Recife. O episódio gerou manifestações da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), do Banco do Brasl, que dá o nome ao Circuito, e da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.
"Demorei a escrever porque eu precisava digerir o que aconteceu naquela quadra. No ambiente que mais amo estar sofri ataques homofóbicos continuadamente e pela primeira vez na vida não consegui reagir. Eu não estava acreditando no que estava acontecendo e eu só lembrava da minha mãe, o quanto ela tinha medo de me ver sofrer por ser homossexual. E infelizmente ela não estava aqui para me proteger e nem ninguém. Me senti completamente acuado e sem entender porque as pessoas estavam fazendo aquilo. Um ambiente feito para as pessoas apreciarem os atletas, torcer para seus favoritos é claro, mas não necessariamente tentar diminuir, xingar, debochar ou tentar ridicularizar alguém.
Perdi o chão. Perdi a bola. Perdi o jogo. Mas não a minha força em estar aqui dividindo com vocês um crime explícito. Fiz o boletim de ocorrência e ainda não sei quais serão os próximos passos", escreveu o atleta.
Após o crime ter se tornado público, a CBV se manifestou através de nota oficial.
"A Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) lamenta e repudia veementemente os ataques homofóbicos ao atleta Anderson Melo, feitos na última quinta-feira por pessoas que assistiam aos jogos da segunda etapa do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia, em Recife.
A CBV apurou os fatos, reviu as imagens da partida, conversou com a arbitragem e reuniu todas as informações necessárias para, neste sábado, protocolar um boletim de ocorrência em uma delegacia de Recife. O caso também será encaminhado ao Ministério Público local e a CBV acompanhará todos os desdobramentos.
Desde sexta-feira, a mensagem abaixo é veiculada antes de cada partida da quadra central.
“Atenção, torcedores! Racismo, homofobia e outros atos discriminatórios são crime, e não podem fazer parte dos eventos do voleibol brasileiro. Manifestações como as ocorridas nas quadras externas não podem se repetir. Esporte é diversidade, tolerância, respeito e inclusão! E respeito é um dos maiores valores que o esporte ensina! Vamos torcer com paixão! O voleibol por um mundo sem preconceito e discriminação!”
A CBV lamenta que Anderson Melo tenha sofrido essa violência e está prestando todo o auxílio ao atleta. A CBV reforça que não admite qualquer tipo de preconceito, entende que o esporte é uma ferramenta para propagação de valores como respeito, tolerância e igualdade; e agirá sempre para coibir qualquer manifestação discriminatória em seus eventos", disse a entidade.
Na postagem de Anderson Melo, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco deu apoio ao atleta e prometeu auxílio.
— Sinto muito mesmo Anderson. Conte comigo e conosco. Você não está sozinho. Falamos mais no privado e agiremos junto.
Diversos atletas também se manifestaram em solidariedade ao jogador. Neste domingo, antes das partidas, os atletas exibiram para o público faixas com os dizeres "Homofobia é Crime".
Competição
Nesse sábado (16), Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia teve a disputa das medalha do torneio aberto. O carioca Márcio Gaudie e o paraibano Pedro foram os campeões no masculino, enquanto a cearense Larissa e alagoana Neide venceram a chave feminina. Como prêmio, as duas duplas se garantiram no Top 16 da próxima etapa do Circuito, que acontecerá em Saquarema, no Rio de Janeiro, de 3 a 7 de abril.
O evento termina neste domingo (17) com as finais e as decisões de terceiro lugar no masculino e feminino do Top 16, que reúne as 16 melhores duplas do país.