Um goleiro gaúcho é destaque na Europa. Pode até não ser em uma das principais ligas do continente, mas Ricardo Friedrich, 29 anos, foi eleito neste mês o melhor goleiro do Campeonato Sueco pelas boas atuações com a camisa do Kalmar FF, que terminou na quarta posição do Allsvenskan, como é chamado o torneio local.
Natural de Candelária, no interior do Rio Grande do Sul, Ricardo começou a carreira nas categorias de base do Inter. Depois, passou por Ituano e Esportivo, de Bento Gonçalves, antes de embarcar em uma jornada que já dura oito anos no futebol europeu. Como pouco jogou por aqui, ele conta que é mais conhecido no país como "irmão do Douglas (Friedrich)", goleiro com passagens por clubes como Grêmio, Corinthians, Avaí e Bahia, e que atualmente está no Al-Khaleej, da Arábia Saudita.
— Aqui no Brasil, sou conhecido como irmão do Douglas. Ele fez grandes campeonatos já, é uma referência, um dos motivos pelo qual eu me tornei goleiro. Ele é mais velho do que eu, então com certeza teve grande influência na minha escolha de posição — conta Ricardo, quatro anos mais novo do que o irmão.
Apesar da distância, os dois mantêm contato regularmente. Ricardo diz que um é o "personal coach" do outro. Como atuam na mesma posição, dão conselhos e ouvem o que o irmão — e colega de profissão — tem a dizer.
— É muito legal, temos colhido os frutos dessa parceria, mesmo à distância — garante o mais jovem.
Na família, não há jogadores. Ricardo nem sequer sabe explicar como chegaram ao futebol. Mas garante que o irmão o influenciou a também a seguir a carreira de atleta e, especialmente, de goleiro. Desde pequeno, calçou as luvas e foi em busca de espaço.
Mesmo elogiado na base do Inter, não conseguiu jogar como profissional do clube gaúcho. Então, foi para o Ituano e esteve no grupo campeão paulista em 2014 e, depois, retornou ao Estado para atuar pelo Esportivo. A passagem foi curta, não chegou a estrear em partidas oficiais e recebeu uma proposta do RoPS, da Finlândia, em 2015. Nem a distância e o frio o impediram de aceitar a oferta e iniciar o sonho de jogar na Europa.
— Não pensei duas vezes e fui para a Finlândia. Joguei duas temporadas lá, depois fui para a Noruega, fiquei três temporadas, passei pela Turquia e agora estou no meu quarto país, que é a Suécia. Tem sido uma jornada e tanto fora do Brasil — comenta o goleiro gaúcho.
O nível do futebol finlandês, ele próprio admite, não é dos melhores. O esporte não é o mais popular do país, e a estrutura tampouco colabora para o crescimento. Porém, o destaque por lá o ajudou a dar os próximos passos na carreira. Na Noruega, defendeu o Bodo/Glimt, um dos principais clubes do país, onde passou três anos, vestiu a braçadeira de capitão e foi vice-campeão nacional, em 2019.
No ano seguinte, foi contratado pelo Ankaragücü, da Turquia. Por lá, encontrou um campeonato mais competitivo e uma liga com torcidas apaixonadas. Além disso, pôde enfrentar jogadores mais badalados, muitos deles que disputaram a Copa do Mundo do Catar neste ano.
— A Turquia também foi um grande passo na minha carreira, muito pela questão das torcidas. O turco é muito apaixonado por futebol. Atuei em grandes jogos, contra grandes equipes, atletas de alto nível. Assistindo à Copa, tinha muitos jogadores que eu joguei contra no Campeonato turco. E na Suécia, por eu ter esse meu currículo nos países nórdicos, meu nome era conhecido, fizeram a proposta e tudo encaixou — relata.
Encaixou tanto que Ricardo fez a melhor temporada da carreira pelo Kalmar FF. A equipe ficou com o quarto lugar no campeonato local e por detalhe não conquistou uma vaga na Liga Europa, que ainda pode vir em 2023 pela Copa da Suécia. Em 30 jogos, a equipe passou 14 sem sofrer gols. Os bons números e as boas atuações fizeram com que o gaúcho entrasse na seleção da competição como melhor goleiro, o que já rendeu contatos para deixar o clube.
— Surgem muitas especulações, mas tenho contrato ainda na Suécia, respeito muito o clube em que eu trabalho hoje. Para eu sair, teria de chegar uma proposta para o clube, teriam de aceitar e passar para mim. Mas os contatos vêm de todo lugar que tu imaginares, interesse, mas concreto mesmo o clube não me passou nada — afirma.
Um possível retorno para o Brasil, ou até mesmo para o futebol gaúcho, não está nos planos de Ricardo Friedrich no momento. Até porque, ele próprio ressalta que é mais conhecido na Europa do que aqui. Mas é claro que se aparecer uma boa proposta, ele irá analisar com carinho.
— Não descarto a possibilidade de voltar ao Brasil, mas teria de ser algo muito bom, que desse segurança para mim e para a minha família. Me vejo muito bem onde estou, feliz, com ambição de continuar crescendo. Hoje, com 29 anos, ainda sou jovem para goleiro, tenho muita coisa para almejar na carreira. No Brasil, teria de ser a oportunidade certa — salienta o goleiro, que completa:
— Mas jogar perto da minha família, aqui no Rio Grande do Sul, seria um sonho. Vamos ver para onde Deus vai me levar nos meus próximos passos.
O certo é que, se você não conhecia o goleiro Ricardo Friedrich, fique sabendo que ele não é mais apenas o irmão do Douglas, e sim o melhor goleiro do futebol da Suécia em 2022. E quem sabe, no futuro, o gaúcho de Candelária possa aparecer no seu clube.