Com a paralisação do futebol, um grupo de jogadores tem se reunido virtualmente. Alguns deles, inclusive, passaram pela dupla Gre-Nal, como o meia Lincoln e os atacantes Carlos e Lucas Coelho. Embora tenham em comum o fato de terem jogado em Porto Alegre, não é este o fator que une o trio durante a pandemia de coronavírus.
Os três pertencem a um grupo de estudos da Bíblia, organizado pela Igreja Viva 24 Horas, sediada no Rio de Janeiro, mas que tem uma congregação em Porto Alegre. Diariamente, mais de 20 atletas se conectam, mesmo estando espalhados por vários países, como Brasil, Japão, Alemanha e Portugal.
— Temos muita gente do futebol na nossa igreja e, no período da pandemia, se acentuaram estes estudos, até pela disponibilidade de todo mundo. Eles treinavam em um período, em casa, e no outro nós nos dedicávamos ao estudo da Bíblia. Em princípio, fizemos um grupo de atletas, mas outras pessoas que não eram do esporte também participam — revela o pastor André Batista.
Em território português, os dois representantes são justamente o ex-gremista Lincoln e o ex-colorado Carlos, que atuam juntos agora no Santa Clara, clube dos Açores.
— Foi o Lincoln e a esposa dele que me evangelizaram. Eles me chamaram para os cultos, até que eu aceitei. Antes eu era do "mundão", mas hoje sou um novo Carlos — comenta o jogador revelado pelo Atlético-MG e que, em 2017, vestiu a camisa do Inter.
Depois que deixou o Beira-Rio, Carlos passou pelo Paraná, até desembarcar na Europa, para defender o Rio Ave.
— Antes eu era um jogador, não um atleta. Através destes estudos, aprendi a ser atleta, para ter melhor desempenho. Eu não me alimentava bem, não bebia muita água, não cumpria meus horários. Hoje, sei a hora certa de dormir, a hora de descansar. Se eu tivesse conhecido a igreja quando estive aí em Porto Alegre, poderia estar melhor. Durante esta pandemia, muitos perderam muitas coisas, mas eu ganhei — completa o atacante de 24 anos.
Depoimento semelhante é dado pelo centroavante Lucas Coelho, revelado na base tricolor.
— Quando o Barcos saiu do clube, achei que era a minha vez. Mas não fui de cara para o primeiro time e resolvi sair. A gente aprende com os erros. Percebi que tomei decisões de maneira muito precipitada. Joguei com Everton, Luan, Walace, todo o pessoal que veio da base e que teve as glórias dos títulos. Fiquei feliz por eles, pelo Grêmio, porque sou gremista, mas com aquele gostinho de que poderia estar ali — avalia o jogador de 25 anos.
Desde que deixou o Grêmio, em 2015, Lucas tem rodado por vários clubes, passando por Goiás, Avaí, ABC, Criciúma, até chegar ao Cianorte, do Paraná, neste ano.
— Passei por um período de lesões e agora estou dando um recomeço na minha carreira. Acredito que eu tinha de passar tudo isso para tomar esta decisão (de entrar para a igreja). As coisas não acontecem por acaso. Saí do Grêmio com uma pressa, uma ansiedade, acreditando muito na força do meu braço, e hoje tenho a visão que estava em um grande clube e deveria ter esperado minha vez — completa.
Agora, separados por mais de 7 mil quilômetros, Carlos e Lucas Coelho tentam recuperar o tempo perdido para dar um novo rumo em suas trajetórias.