
Toda a vez que se fala em torcida mista no clássico Gre-Nal, uma imagem vem à minha cabeça. A data era 1º de março de 2015. "Caminho do Gol" para o Beira-Rio. Colorados e gremistas estreiam a sensação de estarem juntos, pela primeira vez, indo para o estádio torcer, cada um pela sua paixão, mas ligados por laços muito mais fortes do que o amor pelo clube do coração. Que não é pouca coisa, diga-se de passagem!
Como repórter de torcida, acompanhava todos os detalhes da chegada, ouvindo inúmeras histórias de pais e filhos, irmãos, casais, primos, amigos... que nunca tinham ido ao estádio com o rival ao lado. Eram tão próximos mas, no futebol, tão distantes.
Entre tantas pessoas que passaram na minha frente, uma em especial chamou a atenção. Ela, uma torcedora fiel do Inter. Presente em todos os jogos, fazendo parte de um grupo ativo de mulheres coloradas. Nos encontrávamos sempre com carinho mútuo, papos sobre futebol e aquela foto básica para registrar o momento.
Naquele domingo, Coca, era o apelido carinhoso pelo qual todos a tratavam, ainda não estava com as gurias Ana e Laura Mattos, Vera Colorada, Luciana do Valle, Juçara, Dona Regina, Dorita, Silvia Borsato, Wali Petry, Rosane Alencastro, Ana Victorino, entre outras, mas estava mais feliz que o habitual. Eu diria que ela estava radiante. O motivo era a companhia diferente para o Gre-Nal. Era um guri de pouca barba na cara, vestindo a camisa do Grêmio.
Como de praxe, fui abraçá-la e perguntar no ar, na Rádio Gaúcha, quem tinha vindo com ela ao Gre-Nal da torcida mista. Coca, já com lágrimas nos olhos, evidenciando a mesma felicidade que o atacante sente na hora do gol, falou que pela primeira vez na vida ela iria assistir, no estádio, a um jogo de futebol ao lado do seu filho Marcelo.
A dualidade Inter e Grêmio havia separado mãe e filho deste momento único. Agora, a família Noronha estava junta, cada um com a sua cor de camisa, mas unidos pela paixão de mãe e filho!
Guardo com carinho a foto pelo momento que representa. Tenho certeza de que foi inesquecível para os dois. E nessas peças que a vida nos prega, a Coca nos deixou prematuramente em novembro de 2017. A cena não vai mais se repetir.
Naquela tarde, foram passados momentos únicos! Tudo na vida é bem mais do que 11 contra 11 correndo atrás de uma bola. Entre as coisas menos importantes da vida, o futebol é o mais importante delas. E o sorriso cativante de Coca Noronha, carregado de parceria, alegria e amizade, estará para sempre eternizado em cada canto dos estádios por onde ela andou seguindo o seu Inter.
Mas posso apostar que o momento que mais marcou na sua trajetória de torcedora praticante foi quando esteve lado a lado do filho gremista Marcelo na arquibancada da casa colorada. Que a vida siga com mais Cocas e Marcelos no Gre-Nal da nossa paixão.