
O Brasil traçou uma "meta agressiva" na disputa dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Segundo o Comitê Olímpico do Brasil (COB), a ideia era finalizar entre os dez primeiros colocados no quadro geral de medalhas, após as duas semanas do evento.
No final, as sete medalhas de ouro, seis de prata e seis de bronze deixaram a delegação do chamado Time Brasil em um honroso 13º lugar, que se não atendeu às expectativas dos dirigentes mostrou que com investimento, estrutura e organização poderíamos chegar lá. Quem sabe o "Legado Olímpico" nos transformaria em uma nação multiesportiva, além de dar melhores condições ao Rio, cartão postal do país.
Mas pouco mais de um ano depois, o que se vê é que trazer os Jogos para o Brasil tinha outros objetivos. As recentes prisões do presidente do COB e do Comitê Organizador Rio-2016, Carlos Arthur Nuzman, e do diretor-geral de operações do evento, Leonardo Griner, em mais um desdobramento da Operação Lava Jato, escancara o que todos nós, brasileiros, sabemos. Interesses pessoais sempre estão acima do coletivo para qualquer dirigente desse país, com raríssimas exceções.
Em setembro, Nuzman já havia sido levado para prestar esclarecimentos para a força-tarefa “Unfair Play” (Jogo Sujo), criada para desvendar um suposto esquema criminoso envolvendo o pagamento de propina para que o Rio de Janeiro fosse escolhido como cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Além de dirigentes esportivos, o governador carioca Sérgio Cabral, já preso pela Lava Jato, e o empresário Arthur Soares aparecerem no articulado esquema que "tinha por objetivo potencializar ganhos de uma organização criminosa" como foi dito pelo Ministério Público.
Afinal com muita verba governamental à disposição para que a Rio-2016 fosse algo exemplar, nada melhor que muitas obras para usufruir destes bilhões despejados. Desta forma, muita coisa não foi entregue, o preço dos Jogos ainda é incalculável para um país em crise, mas "os interesses" foram atingidos, ao menos para aqueles que esperavam se locupletar com a realização da primeira Olimpíada da história da América do Sul.
Na manhã desta quinta-feira (05), quando Carlos Arthur Nuzman e Leonardo Griner foram presos temporariamente pela Polícia Federal no Rio de Janeiro, soubesse que o presidente do COB teve um crescimento patrimonial de 457% entre 2006-16 e que possuía 16 quilos de ouro em um cofre num banco suíço. Desde 1995 no cargo e reeleito para um novo mandato que só termina daqui três anos, Nuzman é um dos nomes mais influentes da história do esporte nacional e responsável pelo chamado boom do vôlei no anos 1980, quando presidiu a Confederação Brasileira de Voleibol. Porém, o ex-atleta olímpico deve entrar para a história não por seus méritos, mas por suas falhas.
E sobre ser Top 10 nos Jogos Rio-2016, se o Time Brasil não conseguiu, Nuzman chegou lá. Afinal, cada medalha de ouro entregue aos campeões olímpicos pesava 500 gramas. A composição das medalhas leva outros materiais, mas mesmo que fossem feitas apenas de ouro, já superariam o número de conquistas do Brasil na história da Olimpíada. Desde a primeira medalha, com o atirador Guilherme Paraense, na Antuérpia, em 2020, os brasileiros venceram 30 ouros. Se o ouro de Nuzman fosse utilizado para fazer medalhas com 100% do material, seria suficiente para a confecção de 32.
Que a precisão das investigações do Ministério Público e da Polícia Federal seja a mesma de Paraense ou de Felipe Wu, nosso melhor atleta da modalidade na atualidade. Afinal, o que mais se deseja é "Fair Play" e não “Unfair Play”, seja no esporte ou em nosso cotidiano.