Conversando aqui e ali com os jogadores brasileiros, aos poucos surge o que Felipão exige em todo santo treino, na concentração, nas preleções e durante os jogos.
Oscar, David Luiz, Fernando, Hernanes, Hulk. Minha amostragem é suficiente, já que todos, lá pelas tantas, atribuíram ao técnico o seguinte mandamento, lei pétrea sempre repetida que rege todo o resto nesta Seleção Brasileira renovada com a vitória por 3 a 0 sobre o Japão, na abertura da Copa das Confederações:
- Se a gente não tomar gol, ganha.
Bati um papo com eles na zona mista, enquanto todos se ocupavam de Neymar, eleito pela Fifa com justiça o melhor em campo no sábado. Já havia acontecido no amistoso de mesmo placar contra a França e se repetiu. Salvo uma defesa importante no segundo tempo, Júlio Cesar poderia ter se encostado na trave e lido um livro no Mané Garrincha. Assim, com jogadores de características ofensivas realizando tarefas operárias, a Seleção já soma 180 minutos virgem.
É o mantra: se não tomar gol, ganha.
Claro que não se trata de um fim em si mesmo. É uma filosofia. Hulk, por exemplo. No Porto era uma atacante agudo. Nunca lhe exigiam nem que cercasse. Ele mesmo me admitiu. No Brasil de Felipão faz parceria com Daniel Alves como se fossem ao mesmo tempo lateral-direito e atacante. Se um passa, o outro fica um pouco mais. Hulk não está nem aí para a torcida, que vaia e pede Lucas. Tem certeza da titularidade por um motivo: obedece ao mantra, que aparece em todas as conversas de Felipão com seus jogadores.
- O Felipão insiste muito isso de não tomar o gol. E para dar certo cada um tem de fazer a sua parte. Eu faço exatamente o que ele me pede: marco e fecho o corredor. Por isso estou tão tranquilo - confirma Givanildo, o Hulk, com seu sotaque nordestino clássico.
Oscar é um dos emblemas deste conceito, já que poucos acreditavam ser possível um franzino conjugar tarefas díspares como perseguir japoneses até derrubá-los com falta e operar aquele passe com precisão cirúrgica para Jô marcar o terceiro gol. Isso sem contar no gol na França, o do "Eu sou daqui".
- Não sofrer gol já te dá uma certeza: não perder. É meio caminho andado. Talvez até mais - sorri o ex-jogador do Inter, meneando a cabeça como se tivesse encontrado o caminho rumo ao pote de ouro no fim do arco-íris.
Quem mais se beneficia com esta religião são os zagueiros. Daí o júbilo de David Luiz quando propus o assunto. Talvez a felicidade dele tenha sido mais por eu tê-lo salvado de um jornalista paquistanês de bigode e cabelo bem pretos, certamente pautado para produzir um caderno especial sobre o guardião cabeludo. Nunca se viu tantos questionamentos para um zagueiro depois de um jogo em toda a história da Fifa. Encontrei um David Luiz aliviado, o que permite supor que meu tema era mais interessante do que o do paquistanês.
- O futebol moderno não aceita mais só os quatro lá atrás defendendo. O pessoal da frente está facilitando nossa vida. O Felipão reclama marcação desde o Fred - entrega David Luiz, já livre do paquistanês.
Há um mantra, portanto, por trás do bom começo da Seleção na Copa das Confederações. O zero no placar é o princípio de tudo.