A democracia é o regime da vaia, e não do aplauso. Ainda mais na nossa, conquistada com tanto esforço após 24 anos de silêncio e escuridão. Vaiar, portanto, é um direito que deve ser defendido como os espartanos defendiam a Grécia da ambição persa.
Mas as vaias à presidente Dilma Rousseff na solenidade de abertura da Copa das Confederações pareceram menos resultado de crítica fundamentada e mais falta de educação. Ficou uma imagem de desrespeito gratuito à autoridade máxima do país, via satélite, para o mundo todo.
Nem entro no mérito do mandato chancelado pela maioria que, apesar da recente queda de popularidade, segue aprovado pela população. Não é este o ponto central. A hora e o lugar, eis o problema. Naquele instante, Dilma representava o país organizador do Mundial. Nos representava institucionalmente, portanto.
Não concordo, mas entendo a vaia. Por dois motivos. O primeiro é o público. O do Mané Garrincha não era o que elegeu Dilma. Este ficou do lado de fora. O ingresso caro levou torcedores mais abonados ao estádio.
O segundo motivo é cultural. Vaiar político no estádio é como xingar árbitro. Você já viu árbitro ovacionado? Só lembro de um político cujo nome foi aplaudido neste ambiente: Nelson Mandela. Mas aí a vaia não seria falta de educação, e sim heresia.
Enfim: viva a vaia. Mas esta, para a presidente, ficou feia.