Neste domingo, o ex-jogador do Inter Alemão concedeu entrevista ao programa Domingo Esporte Show, da Rádio Gaúcha. O atacante está no Real Oviedo, que disputa a segunda divisão da Espanha. Pelo Colorado, ele participou de 71 jogos, marcou 14 gols e deu cinco assistências. Afastado do gramado por cerca de dois meses logo no início da temporada europeia, Alemão soma 10 jogos pela equipe.
Na entrevista, o jogador afirmou que, mesmo de longe, segue acompanhado os jogos do Inter. Ele também falou sobre ascensão de sua carreira, a adaptação na Espanha, o futebol disputado por lá e o Inter de Eduardo Coudet. Confira entrevista abaixo.
Como está a vida em Oviedo? E, acima de tudo, a vida nova na Espanha?
Está sendo maravilhosa a experiência. A cidade de Oviedo é muito tranquila, a culinária é muito boa, as pessoas são muito educadas. Eu e minha mulher, que, aliás, está grávida, nos adaptamos muito bem. É uma experiência muito boa tanto na cidade quanto no clube.
Esse herdeiro está programado para ser espanhol, brasileiro ou nascerá em algum outro país?
Vai ser aqui (na Espanha). Organizamos tudo para vir pra cá e ter aqui o nosso filho.
Tu saíste do Inter em julho, já são alguns meses no futebol espanhol. O Real Oviedo disputa a segunda divisão da Espanha, como está sendo dentro de campo essa experiência? Está brigando pelo que? E como é competitivamente esse futebol?
Nesse período eu me adaptei muito bem. Aqui é muito disputado, como é a Série B, se comparada ao Brasil. Ela é muito mais competitiva que a La Liga, a primeira divisão daqui, que tem mais espaço. A segunda divisão é mais equilibrada. O primeiro pode perder para o último. É um futebol de muita força, os juízes deixam o jogo rolar muito. Na área, é loucura, um puxa a camisa do outro e eles não marcam qualquer coisa. Essa parte de contato é muito maior, são jogos pegados. Como falei, me adaptei muito bem aqui. Joguei os três primeiros jogos. No terceiro, comecei como titular e joguei os 90 minutos. Infelizmente, naquela semana, lesionei o ligamento interno do joelho. Aí fiquei quase dois meses fora. Nisso, não tivemos um bom rendimento com nosso primeiro técnico. Em seguida, chegou nosso atual, aí nossa equipe evoluiu muito. Saímos da zona de rebaixamento. Agora estamos em 12°. Com a campanha dele, desde quando ele chegou, estaríamos entre os cinco primeiros. Foi um período de vitórias e de recuperar um tempo perdido no início do campeonato.
Tu fostes do Novo Hamburgo ao Inter e, em seguida, foi para Espanha. Como foi isso pra ti?
Estava pensando isso esses dias, de quando cheguei ao Inter com aquela aflição e ansiedade de saber como tudo iria acontecer por lá. Nunca tinha jogado nenhum Brasileirão, e cheguei do Gauchão para jogar a Série A pelo Inter, uma equipe gigante do Brasil que briga por coisas grande. Ao mesmo tempo que eu confiava muito no potencial que eu tinha, no que eu podia entregar e no que eles viram para me contratar, a gente sabe que o futebol é extracampo também. Sou um cara muito profissional e não ia me deixar levar. Minha família e minha mulher sempre me ajudaram também para que tudo ocorresse bem. Creio que foi muito das mãos de Deus também, tudo que eu confio nele e tudo que eu trabalhei e que me capacitou nesses cinco anos para chegar ao Inter profissional. Que eu pudesse ter paciência, pois passei por vários times pequenos. Em 2019 estava em uma equipe da segunda divisão de Santa Catarina, depois fui ao Avaí, que já foi um grande salto, teve várias mudanças dessas de saltos muito grandes na carreira, mas em todo lugar que passei foi um aprendizado, algo que peguei pra minha carreira, pra chegar no Inter e ter boa performance.
Você também jogou no Japão, né?
Sim, em 2018. Em 2017, eu estreei profissionalmente pelo Metropolitano, de Blumenau, no Catarinense, e em 2018, fui para um time da segunda divisão do Japão. Tinha apenas 19 anos e fiquei sete meses por lá. Na época, ainda jogava de extremo, para se ter uma noção. Virei centroavante em 2019. Acabei não jogando muito lá, mas foi um aprendizado enorme.
Tu estás conseguindo acompanhar o Inter nesta reta final de temporada? Segue conversando com o pessoal? Como tem sido tua relação após tua saída?
Sim, sempre acompanhei desde minha saída. A partir do segundo jogo das oitavas (da Libertadores), estávamos aqui em pré-temporada, com cinco horas a mais, eu passei a acompanhar todos os jogos. Não tem como esquecer tudo que vivi em um ano e meio intenso, de grandes momentos e um início de temporada ruim. Fiz muitos amigos no Inter e sigo conversando com eles. Aqui eu dormia um pouquinho de tarde para poder ver os jogos. Agora, com o horário de inverno daqui, mudou para quatro horas na frente. É um pouco difícil de acompanhar. O jogo contra o Cuiabá, por exemplo, começou pela meia-noite, e por ter treino cedo, não pude acompanhar.
Um dos seus amigos é o Pedro Henrique? Tem falado com ele? Tem bergamota por aí?
Bergamota (risos) a tradicional não tem, mas tem as tangerinas pequenas. Aqui não é tão difícil de encontrar as coisas, tem mercado brasileiro e a gente consegue trazer coisas do Brasil. Tenho falado com o Pedro Henrique. Esses dias ele me ligou, não atendi e ficou p* (risos). Aqui era quatro ou cinco horas a mais e eu já tava dormindo. Ele não se atentou a isso. Disse que estava com a rapaziada e queria dar um oi. Sigo conversando com todos.
Alemão, como ficou teu sentimento vendo o Inter chegar à semifinal da Libertadores com Coudet e com os novos reforços que chegaram?
Por coincidência, na noite que eu tava embarcando para vir pra cá (Espanha), a torcida colorada estava esperando o Eduardo Coudet no aeroporto. Então, na mesma noite que eu fui, ele estava aterrissando. Até me disseram que ele gostava muito do meu estilo de jogo, que gostaria que eu ficasse. Infelizmente, não pude ficar, logo foi acertada minha vinda para o Real Oviedo. O estilo de jogo do Coudet é muito ofensivo e intenso. Teve uma evolução muito grande. Acho que casou com as características dos jogadores que chegaram, como Enner, Bruno Henrique, Aránguiz e também o Alan Patrick. Teve resultados a curto prazo que levaram quase a uma final de Libertadores.
Você disse que tomou conhecimento de que o Coudet gostava do teu estilo de jogo. Entende que seria interessante ter ficado no Inter? Você tinha esse interesse ou o negócio já estava bem encaminhado e não tinha o que fazer?
Naquele momento eu já estava como segunda opção de ataque, o Luiz Adriano era o titular. E sabendo da chegada do Enner Valencia, vi que ficaria como terceiro. Poderia, sim, começar a jogar mais, ter mais minutos de jogo com o Coudet, mas era um momento para decisão e as negociações estavam rolando. Então, tive de vir ao Real Oviedo, não quis desperdiçar a chance de vir para a Europa que talvez no futuro, eu não teria. Foi uma decisão difícil, mas tive de aproveitar essa chance.
Qual tua avaliação do motivo de o Inter não ter bom desempenho no início deste ano como em 2022, quando foi vice-campeão e teve você como peça importante na equipe?
Falamos muito no final de 2022 que a manutenção do elenco seria importante e ninguém pensaria diferente, pois teve grandes contratações, um elenco que se formou com jogadores que vieram quando eu cheguei, com Vanderson, PH, Alan Patrick, De Pena, ainda tinha o Taison, que depois acabou saindo. Foi um grande elenco, que ficou em segundo lugar do Brasileirão. E todos imaginavam que a gente ia seguir essa sequência. As vezes o futebol nos pega de surpresa. Não sei dizer um ponto que tenha desandado e não termos conseguidos os mesmos resultados em 2023. E para Inter ou Grêmio, quem não ganha o Gauchão, acaba já começando o ano em turbulência, por conta da pressão das torcidas. Não sei mesmo dizer o porquê de não termos rendido tanto. Mantivemos o mesmo nível de treinamento com o Mano, não teve nada que foi modificado, nem ideias novas que podem ter atrapalhado. Acabou que não estávamos nos encaixando bem.
Mas você viu algo de diferente, fisicamente falando, de um ano para o outro?
No Brasil, já tem um desafio que é a grande quantidade de jogos. Isso é um desafio e tanto pensando na parte de preparação física. Inclusive, veio o preparador físico, o Jean. Uma coisa que debatíamos muito sobre o ano passado é que tomávamos poucos gols e fazíamos alguns em contra-ataques ou em bolas paradas. A gente ganhava de diferença mínima. Em 2023, a gente acabou tomando mais gols e dificultando pra fazer. Os resultados não vieram. Mas a questão física se bateu muito pela queda de qualidade, pois acabávamos perdendo ou empatando e essas frustrações acabavam afetando, com muitos assuntos extracampo.
Pretende voltar um dia, Alemão?
A princípio, vou continuar um tempo aqui na Europa. Querer voltar, eu quero. Quero voltar ao Brasil lá na frente. Se tiver uma oportunidade no Inter, com certeza vou querer. Mas vamos ver como vai ser minha experiência aqui fora. Mas, com certeza, tenho saudade do futebol brasileiro e do Inter. Quem sabe lá na frente tenho chance de voltar ao Inter. Ficarei feliz.