A ascensão do Inter no Brasileirão é no estilo Abel Braga de futebol. São cinco vitórias seguidas, a maior série na competição, e em todas seu time teve menos posse de bola do que o adversário e apenas em uma delas chutou mais a gol do que o oponente. A equipe mudou o estilo, o treinador deu sua cara e os resultados vieram.
Foi o próprio Abel quem descreveu sua chegada. Na entrevista que concedeu à Rádio Globo há pouco mais de uma semana, explicou que, como chegou sem tempo para treinar e em um time que liderava o Brasileirão e estava classificado nas copas, tentou mexer o mínimo possível. Com o passar do tempo, porém, e as quedas na Copa do Brasil e na Libertadores, começou a aplicar sua visão do esporte.
— Fiz dois jogos sem mexer em nada. Cheguei terça, joguei na quarta com o América-MG, fiz regenerativo na quinta, treinei sexta e sábado teve jogo com o Santos. Quando fui mexer, testei positivo para covid-19. Daí tive que ficar afastado. Só depois consegui colocar um pouco do que penso ser benéfico para a equipe — disse Abel.
Esse pouco, na verdade, é bem claro. O Inter recuou mais. Não há mais aquela marcação alta, sufocante, que pressionava o adversário na saída de bola e tentava recuperar no ataque. Agora a ordem é esperar um pouco e contra-atacar em velocidade.
O desenho em campo também mudou: os dois atacantes centralizados deram lugar a um time mais espaçado, com meias abertos. Outra mudança foi o fim da posse de bola como forma de controlar a partida.
— O Inter atual combina com o estilo do treinador. Ainda não joga um grande futebol, mas Abel poderia ter ficado na sombra de um jeito de jogar do Coudet, tentando repetir aquilo. Só que ele não tem isso, até por uma questão de estilo de trabalho. O treino não seria para fazer aquele modelo de jogo. O mérito foi trabalhar do jeito acredita. Não é dependente da posse, marca muito mais atrás e com saídas em velocidade — diz o colunista Carlos Eduardo Mansur, do jornal O Globo.
É esse estilo de Abel a marca recente das vitórias do Inter. O analista tático Rodrigo Coutinho, do UOL, tem opinião semelhante:
— Quando Abel buscou algo dentro do que acreditava, fez o time crescer. O Inter não marca tão na frente e marcando atrás, o adversário tem mais tempo de bola. Você atrai isso para tentar usar o espaço para contra-atacar — explica.
Eduardo Coudet saiu do Inter há mais de dois meses mas ainda assim gera comparações. Há prós e contras nos dois trabalhos, e os exemplos estão nas extremidades do campo: enquanto com o argentino a zaga recebia críticas, o centroavante Thiago Galhardo se consolidava na artilharia do Brasileirão. Com Abel, o processo é inverso: Galhardo marcou apenas um gol, e de pênalti, em compensação a defesa, fixada em Moledo e Cuesta, sofreu apenas dois gols nas cinco últimas partidas.
— São duas formas diferentes, e não tem uma avaliação do que é melhor. O Inter tem sido eficiente dentro dessa ideia — finaliza Coutinho.
Em um campeonato marcado pelas oscilações, se conseguir manter essa eficiência nas próximas rodadas, o Inter pode sonhar com uma conquista que não vem há 40 anos.
Os últimos cinco jogos
Inter 1x0 Goiás
- Posse: 41% x 59%
- Finalizações: 10 x 14
Ceará 0x2 Inter
- Posse: 60% x 40%
- Finalizações: 19 x 8
Bahia 1x2 Inter
- Posse: 51% x 49%
- Finalizações: 14 x 15
Inter 2x0 Palmeiras
- Posse: 41% x 59%
- Finalizações:12 x 13
Inter 2x1 Botafogo
- Posse: 48% x 52%
- Finalizações: 12 x 12