Juarez Quintanilha e Paulo Renato Avis da Silva, o Banha, saíram do Inter, mas ficaram na história. O clube comunicou a aposentadoria de ambos no início de janeiro, após 34 e 41 anos de trabalho, respectivamente.
Juarez e Banha não estão mais no dia a dia do Beira-Rio, nem nas viagens. Contudo, o Colorado segue perto dos lendários profissionais nas lembranças que os dois guardam em suas casas e no coração.
Onde mora, em Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre, Juarez mostra com orgulho o que chama de "cantinho da vitória". O espaço é dedicado aos itens que acumulou ao longo da trajetória dentro do Inter. Entre as peças estão fotografias, recortes de jornais e a medalha de Campeão do Mundo Fifa de 2006.
— O Inter é a minha vida — faz questão de dizer.
Nas imagens, emolduradas em um quadro, Juarez tem o registro de quando fez parte da equipe de atletismo do Inter, na década de 1980. Aliás, foi essa a porta de entrada no clube.
— Eu ia ver os jogadores do Inter correrem no Park Saint'Hilaire (no bairro Lomba do Pinheiro), com o Gilberto Tim (preparador físico da época). Via o Falcão, o Batista, o Jair. Aí comecei a correr junto de brincadeira e fui convidado para a equipe de corrida porque fazia bons tempos. Quando fechou o Departamento de Atletismo, me convidaram para ser massagista, fiz o curso e comecei a trabalhar — lembra.
Banha, atualmente morador do Alto Teresópolis, em Porto Alegre, fez o estágio do curso de massagem no Grêmio, apesar de sempre ter o desejo de trabalhar no lado vermelho.
— Foi ali que peguei o apelido de Banhinha. O Grêmio já tinha um massagista que o apelido era Banha. Aí quando eu cheguei no Inter, o presidente Gilberto Medeiros falou assim: se eles tem um Banha lá, temos que ter um Banha aqui — conta.
Nos vestiários, seja no Beira-Rio ou no outro lado do mundo, como em Yokohama, no Mundial de 2006, a dupla presenciou alegrias e tristezas, discussões e conversas que jamais serão reveladas. Muitas vezes, foram os confidentes dos jogadores.
Com mãos milagrosas, tiraram as dores dos atletas antes e depois dos jogos. Nas viagens, instalavam os equipamentos em um quarto de hotel e ficavam à disposição de quem queria soltar a musculatura. Durante as partidas, na casamata, eram pau para toda obra, desde colocar o gelo nas lesões até distribuir água aos protagonistas do espetáculo.
E houve oportunidades em que serviram de braço direito dos técnicos. Até hoje, Banha lembra de uma delas, em 1997, com o treinador Celso Roth. O plano, na ocasião, era passar a ideia de que o atacante Fabiano não poderia jogar em uma partida decisiva do Gauchão.
— Eles me chamaram e disseram: "o Fabiano vai fazer um 'pá, pá, pá' e tu entra". Lá pelas tantas, ele caiu e eu entrei e disse para o Fabiano: faz cara de choro. Eu me ajoelhei e coloquei gelo nele. Botei ele no braço e tirei do campo. Mas na saída ele já tirou o gelo e foi para a concentração. De noite, o Enciso deu um passe para ele, e ele fez o gol — recorda.
O descanso
Por conta da profissão, a histórica dupla precisou muitas vezes abrir mão da vida pessoal. O trabalho no futebol consumia de segunda a segunda. Datas de aniversários e festas e até momentos de descanso tiveram de ficar em segundo plano.
Banha, aos 60 anos, agora pode curtir a esposa Guacira e a filha Aline sem olhar o relógio. E o mesmo vale para Juarez que, aos 64 anos, como ele mesmo diz, descobriu que "pode ficar sentado em casa" com a esposa, Carmen Regina, e estar ao lado das filhas Bianca e Bruna. A família comemora.
— Agora está um pouco melhor, com ele em casa. Se bem que ainda não deu para aproveitar muito, porque ele não parou em casa desde que se aposentou. Mas já dá para ele tirar um tempo para caminhar, levar o cachorro na rua para passear — conta Guacira, esposa de Banha.
— Quero que a gente saia mais. Sentia muita falta dele em casa. Na época do colégio, por exemplo, às vezes, as gurias não podiam contar com a presença dele em casa. Agora podemos aproveitar mais juntos — vibra Carmen Regina, mulher de Juarez.
Devidamente homenageada com os aplausos da torcida antes do amistoso entre Inter e México, no Beira-Rio, em 16 de janeiro, a dupla tem planos. Banha quer estar à disposição para ajudar a filha, que é fisioterapeuta. Juarez também pretende estar ao lado das herdeiras, uma jornalista e a outra também fisioterapeuta, além de ter o sonho de desenvolver ações voltadas a pessoas em vulnerabilidade social.
Quer receber as notícias mais importantes do Colorado? Clique aqui e se inscreva na newsletter do Inter.