Ninguém, na Série A, está há mais tempo invicto do que o Inter.
A equipe de Argel completou na sexta-feira a marca de 100 dias sem perder. A única derrota em 2016 foi em 24 de fevereiro, 2 a 1 para o Veranópolis. Até domingo, 16h, quando enfrentará o Vitória no Barradão, pela 6ª rodada do Brasileirão, são 18 jogos de invencibilidade. A estatística do líder da primeira divisão só é superada pelo líder da segunda. O Vasco não conheceu derrota nos 154 primeiros dias do ano.
Leia mais:
Vitória x Inter: tudo o que você precisa saber para acompanhar a partida
"Fabinho viajará com o Inter", confirma o técnico Argel
Inter só deve contar com centroavante Ariel em julho
Mas ainda que seja um número celebrado, ainda falta terreno para o atual Inter superar as maiores marcas da história do clube. Em um levantamento feito pelo pesquisador Laert Lopes, há outras séries longevas. A mais comprida é a de um século atrás. Entre 17 de agosto de 1914 e 10 de setembro de 1916, os colorados disputaram 31 partidas e não perderam. Em número de jogos, o recorde é do time de 1984 – tetracampeão gaúcho, vencedor do torneio Joan Gamper sobre o Barcelona de Maradona e cuja base seria medalha de prata na Olimpíada de Los Angeles. Entre 17 de abril e 17 de outubro entrou em campo 39 vezes e não saiu derrotado de nenhuma delas.
Uma das características deste time era a forte defesa. Havia quatro jogadores acima da média, a ponto de o técnico Otacílio Gonçalves, por vezes, improvisar algum deles em outra posição. Como Mauro Galvão. O campeão invicto de 1979 foi diversas vezes deslocado para o meio-campo, abrindo espaço para Pinga, Aloísio e André Luiz aparecerem. O último acabou efetivado na lateral esquerda.
– Foi uma fase boa de um time que precisava se afirmar. Não éramos uma equipe de jogadores badalados, mas tínhamos um conjunto equilibrado – recorda Mauro Galvão.
Daquela equipe para esta, vê uma semelhança: o comando. Ainda que seja um olhar de fora, percebe aspectos parecidos de Argel e Otacílio. Para ele, os dois têm total domínio do vestiário e exercem liderança sobre os jogadores.
O recorde de 1984 superou o de 1975 em um jogo. Na década de 1970, a equipe que conquistaria o Brasil pela primeira vez ficou 38 partidas invicto, entre 5 de fevereiro e 20 de julho. Aquela série se iniciou com uma goleada por 4 a 0 sobre o Flamengo e teve como última vitória um 1 a 0 sobre o Santa Cruz, nos Plátanos. O meia do time de Rubens Minelli era Paulo César Carpegiani. O então camisa 10 lembra que a engrenagem funcionava como um relógio, e todos os jogadores que entravam em campo sabiam quais funções deveriam desempenhar. Por não fazer parte do dia a dia do Inter, prefere avaliar apenas o aspecto externo para buscar algo parecido com aquela época.
– O mais importante em qualquer recorde é que não existe sequências por acaso. Em futebol, não existe qualquer resultado que não seja fruto de um trabalho – analisa.
Carpegiani vai além. Para ele, a série invicta é uma avalista do trabalho. É a partir das vitórias que se molda um time que "claramente ainda está em formação". O ex-meia prefere ressaltar a boa arrancada do Inter, o que considera fundamental para buscar "algo a mais" em um campeonato "parelho, de equipes muito parecidas". A pontuação dá fôlego para Argel construir seu trabalho com os jovens, enquanto ainda aguarda pelos reforços de Seijas, Ariel e os retornos de Valdivia e Rodrigo Dourado.
– Ninguém consegue montar uma equipe em cima de derrotas. Um clube grande que passa por um período ruim demora mais para se recuperar.
O discurso é semelhante ao do técnico do Vasco, Jorginho. Em entrevista na sexta-feira, foi lembrado de que completará um ano sem derrotas em São Januário – mais uma marca de um recordista. Depois de se dizer surpreendido pela informação, recordou que "é amigo de Zinho (seu auxiliar) há 30 anos" e comentou:
– É bom atingir essas marcas. Bom ter essa tranquilidade para trabalhar.
E vem de Mauro Galvão o alerta para Argel, jogadores, dirigentes e torcida:
– É muito importante saber que uma hora vai perder. Ninguém gosta, é difícil, é ruim. Por isso, precisa saber que isso vai acontecer e tem de haver equilíbrio para assimilar a derrota e seguir o trabalho.
Maiores períodos invictos em 2016
Série A
Inter – 100 dias
Santos – 76 dias
Chapecoense – 71 dias
Santa Cruz – 70 dias
Grêmio – 60 dias
Maiores períodos invictos da história do Inter
755 dias – 17/8/1914 – 10/9/1916 (35j, 31v e 4e)
481 dias – 1º/5/1934 – 25/8/1935 (33j, 27v e 6e)
328 dias – 11/1/1942 – 5/12/1942 (31j, 25v e 6e)
183 dias – 17/4/1984 – 17/10/1984 (39j, 26v e 13e)
165 dias – 5/2/1975 – 20/7/1975 (38j, 33v e 5e)