A seleção brasileira feminina de futsal ergueu mais um troféu no último fim de semana. Foi campeã da Copa América, ao bater a Argentina por 2 a 0 na decisão, em Buenos Aires. Com uma campanha sólida — e com sobras—, o time treinado por Wilson Sabóia chegou ao heptacampeonato de forma invicta. Venceu todos os seis jogos que disputou, marcando 51 gols e sofrendo um, apenas.
A seleção feminina tem jogadores de representatividade, como Amandinha, eleita oito vezes a melhor do mundo; a gaúcha Lediane, a Tampa; além de Débora Vanin, que marcou quatro gols e deu seis assistências; e a goleadora da Copa América, Luana, que marcou oito gols. No entanto, o técnico de 53 anos acredita que o sucesso de uma campanha avassaladora é mais que a qualidade do time e os resultados enquanto números.
Em entrevista para GZH, Sabóia cita pontos que considera importantes para o time brasileiro ter êxito, assim como os desafios que o grupo enfrentou na preparação para a Copa América, as conquistas da carreira e as projeções para as próxima temporada.
O técnico já comandou a seleção feminina de futsal em 42 jogos. São 39 vitórias, dois empates e apenas uma derrota. Formado em 1992 em Educação Física pela Universidade de Fortaleza (Unifor), Wilson Sabóia ainda comenta com a reportagem como iniciou a relação com o esporte. Abaixo, leia a entrevista completa.
Como iniciou a sua relação com o futsal?
Depois que me formei, comecei a trabalhar em escolas tanto privadas quanto públicas. E esse trabalho se estendeu para os clubes de futsal. Em 1999, fui chamado para ser técnico da Associação Feminina Universitária aqui na Unifor. Desde então, trabalho praticamente só com o gênero feminino. Em 2005, por exemplo, à frente da Nacional Gás/Unifor fui eleito melhor técnico após o vice-campeonato da Taça Brasil. Tivemos várias campanhas boas em competições nacionais e universitárias. Em 2015, fui convidado pela CBFS (Confederação Brasileira de Futebol de Salão) para ser o treinador da seleção feminina do Brasil, já que eu era auxiliar.
E com relação aos títulos de maior destaque na seleção?
Logo em 2015, vencemos o Torneio Internacional, que foi disputado na Guatemala. Também comandei a seleção brasileira nos títulos da Copa América, nos anos de 2017, 2019 e 2023, que são as competições de maior destaque. Nos anos de 2019 e 2023, vencemos o Grand Prix de Futsal. Em 2021, não tivemos competições por causa da pandemia de covid-19. Além disso, em março deste ano, tivemos dois amistosos contra a Espanha, na casa deles, nos quais vencemos por 2 a 1 e 4 a 1, respectivamente. Valorizamos muito, porque a Espanha é muito forte no futsal.
Até porque quem está em casa pode pensar que a atleta é ótima e isso, por si só, vai fazer o time ganhar o jogo. Mas é necessário analisar o contexto, pois são necessárias várias tomadas de decisão.
WILSON SABÓIA
Técnico da seleção feminina de futsal
O que simboliza essa conquista da Copa América de 2023?
A minha forma de ver o esporte de ver o esporte de alto rendimento leva em conta cinco pressupostos, que são o técnico, tático, físico, cognitivo e o comportamental. Claro que a qualidade técnica importa, assim como o entendimento de atacar e defender, a parte física pelo pouco tempo de treino, e o modelo de jogo. E, claro, somado a isso tudo, na questão cognitiva, é preciso que a atleta tenha entendimento do que vamos propor em quadra e como a equipe precisa se organizar. Se conseguirmos organizar as ações nessas cinco frentes, somado à categoria das nossas atletas, vamos ter êxito. Então, levo isso muito em conta. Até porque quem está em casa pode pensar que a atleta é ótima e isso, por si só, vai fazer o time ganhar o jogo. Mas é necessário analisar o contexto, pois são necessárias várias tomadas de decisão.
O Brasil venceu as seis partidas que disputou, sendo cinco por goleada. No seu ponto de vista, a disparidade é grande entre o Brasil e as outras seleções do continente?
Hoje, acredito que existe uma diferença. Mas o hiato é menor. Essa discrepância era maior nas disputas da Copa América de 2017 e 2019. Acho que os adversários cresceram. A Argentina está crescendo, se organizando bem. Tanto que chegou à final e fez um bom jogo contra nós. E, claro, correndo por fora, nós temos Paraguai e Colômbia.
E o que você acha que pode mudar?
Primeiro, se focarmos na questão do jogo, acho que o tempo dos treinos. Nossa preparação para a Copa América de Futsal, por exemplo, foi de apenas seis dias em Gramado. Já a Argentina ficou quase dois meses treinando junto.
E num contexto mais amplo, como você acha que a modalidade pode evoluir e ser cada vez mais atrativa?Acho que devemos focar, primeiramente, na gestão e na qualificação dos profissionais desde a base. Especialmente para qualificar a formação e termos atletas melhores. São vários fatores que estão envolvidos. Inclusive, capacitando professores para que seja difundido o desporto, incentivando as aulas de Educação Física. Acredito que isso vai dar muito valor para a modalidade do futsal.
E a sequência da temporada, como será?
Ainda em 2023, entre novembro e dezembro, vamos ter uma última convocação para dois amistosos contra a Costa Rica. Já para 2024, teremos cinco convocatórias, porque teremos um torneio na Espanha, além do Grand Prix e, provavelmente, uma eliminatória pensando na primeira edição da Copa do Mundo Feminina de Futsal.