— Nunca me disseram a verdade sobre os meus pais.
A estudante argentina Patrícia Hartmann, 57 anos, foi às ruas de Buenos Aires nesta segunda (24) buscar justiça e respostas. Para ela, o risco é alto de que os seus pais estejam entre os 30 mil desaparecidos na ditadura militar argentina, entre os anos 70 e 80.
— A única coisa que sei é que a minha adoção foi ilegal. Não sei se sou filha de desaparecidos. Não conheço nem a minha origem e nem a minha história — desabafou Patrícia à Zero Hora, durante os tradicionais protestos de 24 de março, o Dia da Memória pela Verdade e pela Justiça, como é conhecido o aniversário do golpe militar que destituiu em 1976 a presidente Isabel Martínez de Perón e instituiu no país um regime ditatorial.
Presente para a cobertura de Argentina x Brasil, pelas Eliminatórias, a reportagem acompanhou a manifestação por algumas horas na Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, e teve a atenção chamada para a quantidade de pessoas vestindo a camisa da seleção da Argentina, de diversos clubes de futebol, ou alguma indumentária com a foto de Diego Armando Maradona.
— Maradona sempre esteve relacionado aos protestos e à defesa das causas justas do nosso povo. Ele é mais do que o Deus do futebol, ele sempre defendeu o povo — explicou o mecânico Sergio Goldschmidt, 59 anos, que protestava vestindo uma camiseta com a foto do craque da Copa do Mundo de 1986.

Já o fotógrafo Martin Asensio, 54 anos foi à manifestação com as cores da seleção argentina. E isso nada tinha a ver com o clássico contra o Brasil, nesta terça (25), pelas Eliminatórias.
— Aqui na Argentina a política e o futebol sempre estiveram interligados. Houve torcedores desaparecidos em todos os clubes, e neste dia, temos que estar todos os 24 (clubes da primeira divisão) unidos. Sou torcedor do River Plate, mas optei por vir com a camisa da Argentina porque ela acaba sendo representativa de todos — afirmou.

Ditadura nunca mais
O funcionário público Dalmiro Gutiérrez, 43 anos, por sua vez, além de ir à manifestação com a camiseta do River Plate, fez questão de levar o filho, Enzo, de apenas 12 anos.
— Quem tem dinheiro quer que a memória se apague. E o futebol ajuda a manter viva a nossa memória e a história do nosso povo. Faço questão de trazer o meu filho para que ele aprenda tudo que representou aquela época. E que a ditadura não volte nunca mais, nem aqui, nem no Brasil e nem em nenhum lugar — declarou.

Nesta terça (25), os argentinos voltam a se unir, desta vez, para torcer pela seleção contra o Brasil na partida das 21h, no Monumental de Nuñez. Porém, sem jamais esquecer do dia 24 de março.