
Multicampeão como jogador, Hernán Crespo acostumou-se a erguer taças também como treinador. Nos últimos seis anos, o argentino venceu seis títulos comandando clubes de quatro países diferentes.
Ainda assim, em apenas oito meses, o Brasil conquistou um lugar especial em seu coração. Em entrevista exclusiva a Zero Hora, em Buenos Aires, o ex-centroavante disse guardar boas recordações do São Paulo, elogiou a qualidade do Brasileirão e revelou que deseja voltar a trabalhar no Brasil.
— Eu adoraria voltar, pois foi um lugar onde eu me senti muito bem. Gostei muito do dia-a-dia do futebol brasileiro e aprendi muito. Então, claro que sim. Por que não? Adoraria voltar, mas logicamente, em um projeto competitivo, que aponte para ser vencedor — declarou.
Campeão da Sul-Americana 2020, pelo Defensa y Justicia-ARG, e da Liga dos Campeões da Ásia 2023/24, pelo Al-Ain-EAU, Crespo igualou-se recentemente a Luiz Felipe Scolari e Marcello Lippi no rol dos únicos treinadores campeões de copas continentais em dois continentes diferentes. O treinador cita o entendimento do contexto e da cultura de cada lugar como um dos pilares do seu trabalho.
— Não há uma fórmula mágica no futebol, mas acho que a principal ideia é a adaptação. Adaptação a tudo, ao idiomas e às culturas para tirar o melhor de cada um. Porque, no final, você treina pessoas. Embora sejam jogadores de futebol, não deixam de ser pessoas. Então, tento ter empatia com o jogador com base na sua nacionalidade, seu idioma e sua cultura para que ele possa dar o melhor. No Brasil, por exemplo, não é a mesma coisa treinar no Brasil, um time gaúcho ou um time carioca. Não é a mesma cultura, embora seja o mesmo país. Mas, entendendo tudo isso, não tenho dúvidas de que você vai ser competitivo. Há um momento em que você precisa agregar um plus para poder ganhar, mas, sem dúvida, meus times sempre vão competir — afirmou o treinador, que também foi campeão paulista pelo São Paulo em 2021 e conquistou mais três títulos no Al-Duhail-CAT, na temporada 2022/23.
Crespo rasgou ainda rasgou elogios à qualidade dos jogadores brasileiros e ao nível técnico do Brasileirão.
— Eu nunca vi, sinceramente, tanto talento junto em um país como no Brasil. No Paulistão, quando a gente ia jogar contra o Novo Horizontino, por exemplo, o camisa 10 deles já era terrível de marcar. Há em todo o Brasil uma grande quantidade de garotos de qualidade, não só nos grandes clubes. Com qualquer equipe você pode viver situações complicadas. Há muita qualidade e por isso os jogos são muito difíceis e estressantes, mas, ao mesmo tempo, espetaculares. Por isso, eu diria que o Brasileirão é um espetáculo único — opinou.
Argentino conversou com o Tricolor
Crespo confirmou ainda ter mantido conversas com o Grêmio em dezembro de 2024 e revelou ter apreço especial pelo futebol gaúcho, devido à semelhança com o estilo de jogo argentino.
— Sei que dirigentes do Grêmio se comunicaram com o meu agente (em dezembro de 2024), mas era muito recente à época a minha saída do Al-Ain. Então, era muito difícil encontrar o momento (adequado). Mas o futebol gaúcho tem muito a ver com o da Argentina, pelo estilo e pela raça. Essa forma de ver o futebol tem muito a ver com a cultura argentina. Me parece muito mais familiar do que talvez as outras cidades. Então, por que não? Não vou descartar nunca uma possibilidade, seja de treinar o Grêmio ou o Inter. Mas é sempre lindo estar vinculado ao futebol brasileiro — finalizou.

Confira a entrevista exclusiva de Hernán Crespo ao jornal Zero Hora
Avaliação sobre o futebol brasileiro
Eu nunca vi, sinceramente, tanto talento junto em um país como no Brasil. Quando eu tive a possibilidade de treinar o São Paulo, era um prazer técnico ver os treinos, tanto do primeiro time como dos jovens que vinham da base. No Paulistão, quando a gente tinha que jogar contra o Novo Horizontino, por exemplo, o camisa 10 deles já era terrível de marcar. Ver os jogadores brasileiros jogando todos os dias é uma beleza para os amantes do futebol. É espetacular. Há em todo o Brasil uma grande quantidade de garotos de qualidade, não só nos grandes clubes. Com qualquer equipe você pode viver situações complicadas. Há muita qualidade e por isso os jogos são muito difíceis e estressantes, mas, ao mesmo tempo, espetaculares. Por isso, eu diria que o Brasileirão é um espetáculo único
Recordações dos tempos de São Paulo
Primeiramente, sou agradecido. O Brasil foi uma grande surpresa para mim, não vou mentir. Afinal, eu era um argentino indo trabalhar no Brasil. E, pela rivalidade e pelo que sempre vivi nos clássicos entre Argentina e Brasil, pensava que seria difícil. E foi o contrário. As pessoas no Brasil foram espetaculares, me abraçaram e fizeram eu me sentir em casa, como um deles. Isso foi espetacular, sou muito agradecido.
Balanço do trabalho no São Paulo
Embora o título do Paulistão seja pequeno para a grandeza do São Paulo, se você for ver os últimos 20 anos, o São Paulo ganhou apenas uma vez, conosco. Havia oito anos que o São Paulo não passava da fase de grupos da Copa Libertadores e nós passamos. Enfrentamos nas quartas de final o melhor Palmeiras da história. E não era tão fácil a situação do São Paulo. Claramente hoje o São Paulo está muito melhor do que naquela época, em que vivíamos a pandemia. E tenho outras alegrias, como ajudar no lançamento do Rodrigo Nestor e na volta de Calleri. Não pude dar continuidade (ao trabalho), mas aconteceram muitas coisas bonitas e é muito bom ver que elas continuam acontecendo.
Calendário brasileiro
Eu acho que os Campeonatos Estaduais, o Brasileirão e a Copa do Brasil são de uma dificuldade enorme por causa do calendário, da quantidade de partidas e da qualidade. É muito difícil. Com qualquer equipe você pode viver situações complicadas. Todos os jogos são muito difíceis e muito estressantes, mas são espetaculares. É um prazer.
Desejo de voltar ao futebol brasileiro
Eu adoraria voltar, pois foi um lugar onde eu me senti muito bem, me senti espetacular. Eu gostei muito do dia-a-dia do futebol brasileiro e aprendi muito. Então, por que não? Sim, eu adoraria voltar, logicamente, em um projeto competitivo, que aponte para ser vencedor.
Conversas com o Grêmio e apreço pelo futebol gaúcho
O futebol brasileiro é sempre um mercado que a gente observa com muita atenção. Sei que dirigentes do Grêmio se comunicaram com o meu agente (em dezembro de 2024), mas era muito recente à época a minha saída do Al-Ain. Então, era muito difícil encontrar o momento (adequado). Mas o futebol gaúcho tem muito a ver com o da Argentina, pelo estilo e pela raça. Essa forma de ver o futebol tem muito a ver com a cultura argentina. Me parece muito mais familiar do que talvez as outras cidades. Então, por que não? Não vou descartar nunca uma possibilidade, seja de treinar o Grêmio ou o Inter.
Estilo como treinador
Tive a possibilidade de treinar na América do Sul e ser campeão continental e na Ásia e ser campeão continental, com jogadores de diferentes nacionalidades. Não há uma fórmula mágica no futebol. Acho que a principal ideia é a adaptação. Adaptação a tudo, ao idioma e às culturas para tirar o melhor de cada um. Porque, no final, você treina pessoas. Embora sejam jogadores de futebol, não deixam de ser pessoas. Tento ter empatia com o jogador com base na sua nacionalidade, seu idioma e sua cultura para que ele possa dar o melhor. No Brasil, não é a mesma coisa treinar um time gaúcho ou carioca. Não é a mesma cultura, embora seja o mesmo país. E entendo que, quando você é treinador, você sempre vai a um lugar onde há um problema. Difícilmente um clube chama um treinador quando tudo funciona bem. Te chamam para resolver um problema. Então, basicamente, ao ir a um clube é preciso entender qual é o problema que há e tentar resolvê-lo para alcançar um ambiente agradável, onde todos se sintam confortáveis, onde todos se sintam como uma família e onde haja um objetivo comum. Entendendo tudo isso, não tenho dúvidas de que você vai ser competitivo. Há um momento em que você precisa agregar um plus para poder ganhar, mas, sem dúvida, meus times sempre vão competir