Assisti por uma TV interna do sistema da Fifa as duas entrevistas coletivas dos maiores jogadores de futebol da última década. Messi e Cristiano falam de maneiras diferentes. O argentino mal se ouve. O portuga fala firme, dá para sentir um certo medo dos jornalistas com ele. Uma paulada pode surgir.
Messi já perdeu. Cristiano joga antes da partida do Brasil. É a última Copa deles. O último tango de Messi, como está a dizer, direto de Buenos Aires, nosso talentoso centroavante e — nas horas de descanso — jornalista Rafael Diverio. De Cristiano, ouvimos o último e choroso fado. Até por isso, você deve ter sido impactado por uma foto publicitária, da gigante Annie Liebovitz, dos dois, sentados, em uma partida empatada de xadrez. A marca de luxo Louis Vuitton fez a montagem (sim eles não estão juntos de "verdade", coisas da publicidade, é normal, não precisa ficar bravo). O título desse texto é o nome da campanha.
Messi e Cristiano deixaram de vencer. Muito. Mas quando levantaram troféus um ajudou ao outro. É estranho entender um mundo onde o rival impulsiona algo. Essa última frase, parece uma de coach de Instagram, eu sei. E foi exatamente de um que a ouvi. Ele dizia para eu procurar um inimigo. Eu ali, olhando paisagens na rede social das fotos e agora dos vídeos de pessoas que eu não sigo, e sou impactado por um cara. Falando firme, gritando para eu procurar um inimigo. Fiquei apavorado. Como achar um rival? Por quê? Ele dizia que somos movidos por desafios. Oquei, pensei eu. Mas preciso destruir alguém? Ele disse que sim! Parecia falar só comigo um vídeo com milhões de visualizações e dezenas de milhares de curtidas.
Achei o sono sereno
Não conseguia dormir em Doha. Fiquei horas procurando um inimigo. Alguém que eu odeie tanto que meus textos melhorarão só por causa dele. Meus vídeos, minhas falas nas rádios e podcasts seriam espetaculares se eu achasse esse filho da mãe.
Me perdi. O sono não vinha. Porém me encontrei na foto que surgiu abaixo do vídeo desse maldito coach. Era essa dos craques empatados num jogo de xadrez. Messi e Cristiano realizaram. Foram apenas inimigos íntimos. Em campo, cada um entregou mais para bater recordes do outro. As metas de um eram o alvo do outro. E, nessa foto final, do último Mundial, Messi e Cristiano passam serenidade. Inimigos não se ajudam. Inimigos se destroem. E os dois rivais futebolísticos ganharam de presente nas vitoriosas carreiras o foco de vencer o outro. Entendi a campanha! Achei meu estado de espírito que apaziguou-me. Abri um sorriso, lembrei que só consigo trabalhar e entregar coisas porque um monte de gente está junto comigo, virei para o lado, eliminei o coach da vida e dormi sereno.
Não precisava mais buscar um adversário.
O torcedor do Inter e do Grêmio não imagina que eles seriam menores se o clube rival não existisse.