Por Amanda Munhoz e Rafael Diverio
Com relação aos treinadores, a gangorra do futebol gaúcho está no seguinte estágio: aparentemente, tudo o que Renato faz dá certo, tudo o que Odair faz dá errado. Dias atrás, Renato permitiu que Jael cobrasse uma falta. Ele acertou o ângulo e encaminhou a vitória. Odair deixou Pottker, de atuação apagada, em campo contra o Flamengo. Ele foi expulso e o time levou 2 a 0. Enquanto Renato conta os dias para inaugurar uma estátua na Arena, Odair lê faixas pedindo sua saída espalhadas pela cidade. E no meio desse cenário diametralmente oposto, há um Gre-Nal.
Para Odair, vale o desafogo. De novo. Menos de dois meses atrás, o treinador era pressionado por duas derrotas seguidas e entrou no Beira-Rio precisando tirar três gols de diferença para levar aos pênaltis a vaga para a semifinal do Gauchão. Fez 2 a 0 e ficou fora. Mas a vitória no clássico lhe deu sobrevida. Agora, os quatro pontos conquistados em 12 disputados no Brasileirão – e a eliminação na Copa do Brasil – voltam a lhe colocar contra a parede.
Para Renato, o clássico vale a manutenção do ótimo momento. Os títulos do Gauchão e da Recopa, a idolatria da torcida e o controle sobre o vestiário lhe garantem segurança. E ganhar o Gre-Nal aumentará a admiração atual que recebe seu time – um praticamente unânime melhor do Brasil.
A situação de um chegar melhor do que outro está longe de ser novidade. A rigor, é quase uma rotina. Talvez não com tanta diferença de momento, é verdade, mas faz parte do cotidiano. E assim, criam-se desafios novos para os treinadores.
– Sempre digo que jogadores sul-americanos, principalmente brasileiros, vivem de mobilização. É trabalho da comissão técnica motivar. E um clássico como o Gre-Nal tem muito disso. Na base da entrega, do espírito, os times tentam equiparar forças – comenta o técnico Marcelo Oliveira, que viveu uma rivalidade parecida dirigindo Atlético-MG e Cruzeiro.
Para Vanderlei Luxemburgo, um especialista em clássicos brasileiros, trata-se de um cenário comum aos duelos dos Estados divididos em duas forças maiores, como Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Bahia.
Até pouco tempo atrás, o cenário era inverso. Mas quando começa o jogo, quem tem cabeça melhor pode levar vantagem.
VANDERLEI LUXEMBURGO
Técnico
– É um sentimento pertencente ao futebol em lugares polarizados. O jogo gira em torno da instabilidade emocional que tem um jogo dessa envergadura. Até pouco tempo atrás, o cenário era inverso, com o Inter em momento melhor. Agora inverteu. Mas quando começa o jogo, quem tem cabeça melhor pode levar vantagem – analisa.
Assim, o ex-treinador da Dupla, atual comentarista no Esporte Interativo, Emerson Leão, faz um alerta:
– O Grêmio evoluiu, acertou a maneira de jogar. Renato conseguiu utilizar o melhor dos seus jogadores. Isso faz com que ele chegue ao ponto mais perigoso, o da manutenção de um apogeu. Precisa trabalhar mais o psicológico do que os treinos. Ele não precisa mudar a postura no Gre-Nal.
O Grêmio não pode se conformar com o bom momento. O bom é estar sempre se desafiando.
MARCELO OLIVEIRA
Técnico
Marcelo Oliveira reforça:
– O Grêmio não pode se conformar com o bom momento. O bom é estar sempre se desafiando.
Do outro lado, o clássico ganha mais importância para o Inter, que pode reverter o momento de pressão com um bom resultado.
– Esse Gre-Nal vale muito para o Inter. É a oportunidade de dar a volta. Se não tem uma parte técnica tão forte, pode buscar forças na motivação – diz Marcelo Oliveira.
Para Leão, esse empenho em mudar o cenário é o combustível colorado para o jogo da Arena:
O Inter é o contraponto. E o contraponto precisa usar a inteligência para superar o adversário.
EMERSON LEÃO
Técnico
– O Inter é o contraponto. E o contraponto precisa usar a inteligência para superar o adversário. Não pode se preocupar em medir forças. É hora de tirar a qualidade máxima de seus jogadores.
Os três técnicos garantem ter vivido experiências semelhantes à que Renato e Odair terão no sábado. Leão comandou uma classificação do Inter sobre o Grêmio na Seletiva para a Libertadores em 1999 poucos dias depois de ter escapado do rebaixamento graças a um gol de Dunga contra o Palmeiras. Luxemburgo era o técnico do Grêmio vitorioso em um Gre-Nal no Beira-Rio em 2012, gol de Elano. E Marcelo Oliveira viu seu Cruzeiro bicampeão brasileiro perder a Copa do Brasil para o Atlético-MG em 2014.
O sábado mostrará se o Gre-Nal 416 será o da lógica ou da surpresa.