Velocidade nunca foi problema para um dos maiores pilotos da história da Fórmula 1. Justamente a falta dela, no dia 29 de dezembro de 2013, mudou a vida de Michael Schumacher. Atualmente com 54 anos, o alemão sete vezes campeão da F1 é mantido vivo pela medicina e há 10 anos deixa saudades em fãs do automobilismo e pessoas próximas que acompanharam sua carreira.
Marcos Uchôa, repórter que cobriu a repercussão do acidente de Schumacher na época pela TV Globo, afirma que "ele não morreu, mas é como se estivesse morto". A situação atual do ex-piloto é um mistério. O acidente, entretanto, não teve enigma nenhum para ser desvendado.
Na estação de Meribel, nos Alpes Franceses, Michael esquiava com o filho Mick. Ao tentar trocar de uma pista para outra, questão de 15 metros de distância, o ex-piloto — aposentado em 2012 da F1 — passou por uma região com pedras, perdeu o equilíbrio e bateu a cabeça no chão.
O fato é que ali acabou a vida dele
MARCOS UCHÔA
Jornalista
— Realmente não foi por velocidade. Ele foi vítima do aquecimento global, porque deveria estar nevando e não nevou. Ele bateu de cabeça na pedra. O fato é que ali acabou a vida dele — lembra Uchôa, em entrevista para GZH.
O episódio pegou todos de surpresa e com poucas informações sobre o estado de saúde do alemão que foi levado a um hospital em Grenoble, na França. Os médicos, já respeitando a vontade da família por privacidade, não falavam sobre. Pouco tempo depois, a informação de um acidente gravíssimo tomou conta dos noticiários.
— Já saí impactado da cobertura e com uma certa pena. Na hora em que ele poderia aproveitar a glória dos seus títulos, acontece isso — revela Uchôa.
O heptacampeão mundial da F1 sofreu traumatismo craniano, edema cerebral e precisou de uma intervenção cirúrgica na cabeça. Michael entrou em coma e permaneceu nesse estado durante seis meses. Quando despertou, ele e a família voltaram para casa em Lake Geneva, na Suíça. A partir desse momento, qualquer informação sobre o seu estado de saúde se tornou um mistério.
O que se sabe dez anos depois
A família Schumacher desde o acidente optou pela privacidade máxima em relação ao estado do ex-piloto. Foram poucas pessoas que puderam visitá-lo e todos que estiveram na presença de Michael falam sobre respeitar a vontade da família.
— Estamos tentando continuar como uma família do jeito que Michael gostava. E ainda gosta. Seguimos com nossas vidas. "Privado é privado” é o que ele sempre dizia. Michael sempre nos protegeu, e agora estamos protegendo Michael. Todos sentem falta dele, mas ele está aqui. Diferente, mas está, e isso nos dá força, eu acho. Moramos juntos em casa. Fazemos terapia e todo o possível para que Michael melhore e para garantir que fique confortável — disse a esposa Corinna Schumacher em uma das poucas declarações dadas por ela durante estes 10 anos, no documentário Schumacher, lançado em 2021.
Privado é privado é o que ele sempre dizia
CORINNA SCHUMACHER
mulher de Michael Schumacher
A declaração oficial da família é que “ele está consciente e se recuperando de forma lenta, mas sempre evoluindo.” Uma das pessoas que visitaram Michael durante este período foi o piloto brasileiro Felipe Massa, que substituiu o alemão na Ferrari em 2006.
— O acidente dele foi algo muito triste. Quando eu soube fiquei arrasado e na verdade continuamos arrasados por tudo aquilo que ele passou. É um cara que arriscou muito a vida o tempo todo e, de repente, por uma besteira aconteceu um acidente tão grave. Seria muito bom ter ele nas pistas acompanhando o filho e o automobilismo em geral — conta Massa, em entrevista para GZH.
O mais próximo que o mundo do automobilismo ficou de Michael foi por meio do filho Mick. O jovem de 24 anos seguiu o caminho do pai e se tornou piloto. Nas categorias de base brilhou e chegou na Fórmula 1 com muitas expectativas. Formado na academia da Ferrari, Mick teve dois anos como titular da Haas, mas não conseguiu bons desempenhos. Foi tirado da equipe e atualmente é reserva da Mercedes, justamente a última equipe de Michael na F1.
Tanto o filho quanto a esposa deram as únicas declarações sobre o estado de saúde do heptacampeão mundial. No documentário Schumacher, Mick, de 24 anos, lamentou não ter o pai para “trocar figurinhas sobre automobilismo” e que sente falta de momentos especiais.
Falamos uma linguagem semelhante, a do automobilismo
MICK SCHUMACHER
piloto e filho de Schumacher
— Desde o acidente, estes momentos em família, que acredito que muitas pessoas passam com os pais, não estão mais presentes, ou em menor grau, e a meu ver isso é um pouco injusto. Ele e eu nos entenderíamos de uma forma diferente agora, simplesmente porque falamos uma linguagem semelhante, a linguagem do automobilismo, e sobre a qual teríamos muito mais o que conversar. E é aí que minha cabeça está na maior parte do tempo, pensando que seria muito legal. Eu desistiria de tudo só por isso — afirmou o jovem piloto.
Em 2020, o então presidente da Federação Internacional de Automobilismo (Fia), Jean Todt — ex-chefe de Michael na época de Ferrari —, afirmou que o alemão está realizando tratamentos para ter uma “vida mais normal”. O dirigente foi uma das pessoas que mais visitou o ex-piloto após o episódio.
Os dois lados da luta pela vida
Muito dinheiro foi e ainda vem sendo investido pela família para mantê-lo vivo, com a esperança que ele se recupere. Porém, ainda não houve nenhuma notícia positiva sobre o estado de saúde do alemão. Segue sendo um mistério, mas enquanto houver esperança de melhora, a família e os fãs do heptacampeão seguirão acreditando até o fim.
— Hoje ele é símbolo de uma vitória da medicina por um lado, e da inutilidade da medicina por outro. Se um parente seu morre, você fica abalado e depois tem que seguir a vida. No caso do Schumacher há esse sofrimento até hoje. Existe um símbolo que as pessoas não se dão conta, que é segurar a vida artificialmente — relata Uchôa.
Ao longo do tempo, outras pessoas próximas ao piloto falaram sobre essa questão:
Foi uma experiência muito ruim para mim
RALF SCHUMACHER
piloto e irmão de Schumacher
— Podemos continuar muito graças à medicina moderna, porém ainda nada é como antes. Foi uma experiência muito ruim para mim, mas, claro, ainda mais para seus filhos — disse o irmão mais novo e ex-piloto da F1, Ralf Schumacher, em entrevista recente ao jornal alemão Bild.
O primeiro chefe de equipe de Michael, Eddie Jordan, tentou visitá-lo após o acidente, mas foi negado pela família. Ele entendeu a recusa, visto que muitos queriam vê-lo. Porém, o ex-dirigente lamenta pela vida perdida pela família, especialmente pela esposa.
— Corinna não pode ir a uma festa ou almoçar fora. Ela é como uma prisioneira, porque todo mundo quer falar com ela sobre o Michael, sendo que ela não precisa ser lembrada disso a cada minuto — revelou Jordan ao jornal britânico The Sun.
Ao longo de sua carreira, Michael disputou 306 corridas, teve 91 vitórias, 68 pole positions, 155 pódios e sete títulos mundiais. Os dois primeiros pela Benetton, em 1994 e 1995. Depois do sucesso com a pequena equipe italiana, Michael se transferiu para a Ferrari. Com a equipe, venceu em 2000, 2001, 2002, 2003, 2004.