Uma parceria entre a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e a Huawei impulsionará a pesquisa no setor de energia solar no Rio Grande do Sul. Serão R$ 5 milhões investidos pela empresa chinesa, maior fabricante de inversores fotovoltaicos do mundo e um dos principais nomes no setor de telecomunicações. Esse é o maior investimento da companhia no Brasil. A produção de energia solar tem crescido nos últimos anos no país; o Estado é, hoje, o terceiro maior produtor.
A parceria entre a universidade e a Huawei tem dois objetivos: desenvolver um software para auxiliar projetos de usinas fotovoltaicas (que produzem energia elétrica a partir da luz solar) e criar uma bancada didática para capacitar profissionais quanto aos riscos no trabalho com equipamentos de geração de energia solar. O valor investido será revertido para o desenvolvimento do trabalho feito no Instituto de Redes Inteligentes (INRI) da UFSM, o que inclui o financiamento para bolsas a alunos da instituição.
De acordo com Leandro Michels, professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica (PPGEE), a parceria quer melhorar uma das carências do setor: um software que seja capaz de se comunicar, de forma mais eficiente, com o inversor fotovoltaico da estrutura que capta a luz solar para transformá-la em energia elétrica. O inversor fotovoltaico é um elemento que converte a corrente elétrica contínua (a captada pelas placas solares) em corrente alternada (que é utilizada para abastecer a rede elétrica das cidades).
— Alguns dos softwares não conseguem prever, com precisão, o resultado de produção de energia. Isso é ruim para os projetos porque não se consegue mostrar características vantajosas dos inversores, em especial para usinas de grande porte. Um dos objetivos é desenvolver um software com modelo matemático mais avançado, que possibilite que os projetistas consigam ter melhor definição e planejamento do retorno de energia dos equipamentos — explica o professor.
A aproximação entre UFSM e Huawei ocorreu durante eventos do setor no ano passado. O professor conta que conversou com representantes da empresa, que relataram as necessidades da área. A multinacional se interessou no trabalho desenvolvido na universidade federal, que criou o Instituto de Redes Inteligentes em 2017.
O centro atua na pesquisa, extensão, desenvolvimento tecnológico e inovação na área de Redes Inteligentes (Smart Grids), uma área que engloba planejamento, operação e otimização de sistemas elétricos, entre outras atividades. A parceria foi consumada em dezembro de 2021 e seguirá até março de 2023. Dos R$ 5 milhões previstos, R$ 3 milhões serão aplicados na compra de equipamentos direcionados aos ensaios do projeto.
Cerca de R$ 450 mil serão empregados para pesquisadores, alunos de iniciação científica, mestrandos e doutorandos da UFSM. A Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) também aportará recursos na iniciativa. O INRI é acreditado pelo Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro) para a condução de ensaios para avaliação de conformidade de inversores fotovoltaicos que são comercializados no Brasil.
Segurança
A parceria com a multinacional também quer melhorar a segurança no setor. Nesse contexto, a universidade desenvolverá uma bancada didática para capacitação de técnicos e engenheiros. Esse dispositivo é uma estrutura na qual é possível estudar a produção de energia por painéis fotovoltaicos e o processo de como ela circula na rede.
De acordo com o professor da UFSM, os sistemas fotovoltaicos são seguros quando bem projetados e instalados. No entanto, a expansão do setor tem sido responsável pela inserção de uma grande quantidade de novos instaladores sem a qualificação adequada, o que tem resultado em instalações incorretas. Quando mal manejadas, os equipamentos oferecem riscos de choque elétrico e podem causar incêndios, nos cenários mais graves.
— A bancada didática possibilita que alunos e técnicos entendam todos os riscos que existem em uma instalação fotovoltaica, permite que se façam testes para elucidar riscos, possibilita mostrar que esses riscos existem — comenta.
Setor hoje
O investimento no setor é necessário devido à demanda por instalação de equipamentos para produção de energia solar. Neste ano, esse tipo de energia cresceu 70% no primeiro semestre de 2021 na comparação com o ano passado. Em junho de 2021, a potência instalada no Estado foi estimada em 771 megawatts (MW). Em junho deste ano, o registro foi de 1.313,3 MW, de acordo com dados da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar).
O crescimento coloca o Estado na terceira colocação nesse indicador no país, atrás de Minas Gerais e São Paulo. O cenário é também de crescimento no quadro nacional. Segundo a Absolar, de janeiro ao início de setembro deste ano, a capacidade solar instalada cresceu 46,1% no país: passou de 13 GW para 19 GW. A entidade diz que ritmo de expansão tem sido de 1 GW por mês, o que coloca a fonte na terceira posição da matriz brasileira no momento. O valor cobrado pela energia elétrica no país é um dos fatores que tem impulsionado o setor no país, acrescenta Michels:
— Temos o equivalente a uma usina e meia de Itaipu em potência instalada nos sistemas fotovoltaicos no Brasil. A energia solar já tem um impacto de grande porte no país. Temos visto crescimento em todas as áreas, também tem atingido as classes mais populares, não apenas os que têm mais recursos — pontua.
Segundo o professor da UFSM, hoje, a dificuldade do setor está no fornecimento de equipamentos e insumos para as estruturas de produção de energia solar. A escassez tem aumentado nos últimos meses devido à dificuldade de países europeus terem acesso ao gás natural, em razão do conflito entre Rússia e Ucrânia. Os europeus, por isso, têm se voltado à produção de energia solar para minimizar os impactos. Outro desafio para a expansão da área no país é encontrar profissionais qualificados para corresponder à demanda dos clientes.