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Por Pedro Gilberto Gomes
Vice-reitor da Unisinos
Quando criada, no século 13, a universidade articulava-se integralmente pela teologia e pela filosofia. Com o advento da ciência moderna, fragmentou-se não só o saber, mas a maneira de sua produção, transmissão e socialização.
A instituição universidade precisou adaptar-se a cada momento histórico, e foi graças a essa capacidade de adaptação que sobreviveu e atravessou oito séculos. Assim, com o passar dos anos foi sempre se reestruturando para estar em conformidade com o presente.
Na sua evolução, com o desenvolvimento da ciência, foram criados, nos diferentes campos do conhecimento, faculdades, centros, institutos e departamentos. Com administração centralizada, a universidade transformou-se, paradoxalmente, numa federação, perdendo a sua inspiração original.
Hoje, parece que a universidade sente a necessidade de se reinventar. A retomada de sua inspiração original surge como uma possibilidade para tanto. Não como uma volta idílica ao passado, mas como uma espécie de metodologia para a própria superação visando a se adaptar aos novos tempos.
As universidades comunitárias, de modo particular, estão passando por uma nova crise, que exige, de parte dos envolvidos na gestão dessas instituições, uma tomada de posição firme, como se proporá a adiante.
Frente a qualquer crise, as pessoas têm as mais variadas reações. Para alguns, a crise significa algo que possibilita o exercício pacífico da inteligência. O pensador D. Kerckhove (1944) nos ensina que, se algumas crises são criadas, há as que resultam do colapso de sistemas arcaicos; mas, diz ele, em todo caso, crise é oportunidade ou objeto de julgamento. Diz-nos mais: em tempos críticos é necessário que se alimente um espírito crítico para se perceber novos caminhos por onde conduzir o que vem aí. Quer dizer, toda crise resultará em mudanças.
Então, para superar a crise com uma reinvenção, entendo que esta deva se sustentar no tripé: nova forma de apresentar seus produtos à sociedade, busca de novos públicos e novos focos de atuação.
Para que um processo de reinvenção se instale, a universidade é chamada entrar em si mesma para encontrar o seu “eu” mais profundo, tocar seu cerne e sua identidade.
A partir daí, pode-se construir uma identidade nova, que, significando sua reinvenção para o século 21, dê resposta às necessidades sociais hodiernas.
Para superar a crise com uma reinvenção, entendo que esta deva se sustentar no tripé: nova forma de apresentar seus produtos à sociedade, busca de novos públicos e novos focos de atuação.
Num mundo altamente desenvolvido e tecnológico, será imperativo para a universidade definir suas áreas prioritárias e o modo como essas estarão articuladas para um continuum formativo. Tais áreas prioritárias exigem uma concepção a partir de carreiras profissionais, visando atender às necessidades sociais contemporâneas. Isso implica reforçar a ação transdisciplinar no desenvolvimento de produtos e ações educativas.
Associada à ação transversal está a transdisciplinar, e, além disso, a universidade tem como imperioso o desafio de inovar na apresentação de seus produtos para os diversos públicos, tanto no formato como na linguagem. O modo de apresentá-los à sociedade ultrapassa o costume tradicional para se tornar mais enfático. Em lugar de esperar que a sociedade venha à instituição, a universidade interage com pessoas e organizações para descobrir suas reais necessidades e a melhor forma de supri-las.
Inovação universitária envolve promover a justa relação entre humanismo e tecnologia. Isso significa que a opção pela digitalidade não vem só: supõe que se garanta o lugar fundamental da pessoa como centro da ação universitária. Os valores humanos e a formação integral das pessoas são princípios fundamentais da ação formativa da universidade.
O humanismo sem a tecnologia permanece no passado; a tecnologia sem o humanismo é vazia e estéril.