Um dia que começa com um passeio surpresa de limusine, tapete vermelho, aplausos efusivos de dezenas de pessoas e almoço grátis não é um dia qualquer. Oito alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Visconde de Mauá, de Portão, no Vale do Sinos, foram ovacionados pela comunidade na manhã desta segunda-feira (13), em uma celebração organizada pela prefeitura, com o apoio de comerciantes locais e outros parceiros.
Crianças e adolescentes de 11 a 15 anos sagraram-se campeões, em São Paulo, no início deste mês, em duas categorias da 11ª Olimpíada de Raciocínio Mind Lab. Em junho, quatro deles viajarão para a Hungria para disputar a final mundial do campeonato no grupo que compreende estudantes do 4º ao 7º ano.
Entre alunos e professores da Visconde de Mauá, instituição que atende a um parcela de baixa renda da periferia portonense, pouco se sabia sobre o que aconteceria para parabenizar os colegas famosos. Os ganhadores estavam preparados para ir até a prefeitura, onde seriam enaltecidos por mais uma conquista – na faixa do 4º ao 7º ano, esta é a quarta vez que a escola garante o primeiro lugar na Olimpíada, composta por embates em jogos online e de tabuleiro. O pátio da frente do colégio estava tomado quando, perto das 10h, estacionou uma limusine branca em frente ao portão principal. A gurizada explodiu em euforia, com palmas e gritos.
— Noooooossa! — admiravam-se muitos, rostos colados à grade, impressionados pelo comprimento da Hammer H3, alugada, graças a uma vaquinha, a R$ 1,2 mil por uma hora de uso.
— Meu Deus! — espantou-se uma professora. — Tira foto! — pediu a alguém próximo.
A secretária de Educação do município, Rosaura Gomes, perguntou da calçada:
— É aqui que estudam os campeões?
O time, acompanhado de um professor e da diretora, deixou o prédio rumo ao passeio de carro mais inusitado para o qual já haviam sido convidados. Formou-se uma pequena carreata, liderada por uma viatura da Brigada Militar. A Hammer chamou a atenção dos moradores, que não entendiam o porquê do buzinaço – alguns riam, outros acenavam, a maior parte olhava intrigada, sem ação, para o veículo incomum que passava.
Na prefeitura, a turma foi saudada for fogos de artifício e mais aplausos, com o Tema da Vitória – música instrumental imediatamente associada às vitórias de Ayrton Senna (1960-1994) na Fórmula 1 – em alto volume nas caixas de som. Outro clássico do imaginário popular, a narração eufórica de Galvão Bueno na final da Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, também compunha a trilha sonora: "É teeeetraaaaa! É teeeetraaaaa!".
Os alunos cumprimentaram o prefeito José Renato das Chagas e subiram as escadas, cobertas por um tapete vermelho, até o ponto onde se realizou uma breve cerimônia – o tempo da limusine estava correndo, e a multa para o caso de excedente era de R$ 600 –, com discursos e entrega de certificados.
Dali, todos partiram para cumprir mais um curto trajeto, desta vez até o restaurante onde seria servido um almoço especial. Ao desembarcar, guris e gurias estavam felizes com as selfies e os brindes com água em taças de plástico feitos lá dentro.
— Achei que a gente ia de carro normal. Foi maravilhoso! Já tinha visto em filmes e achei igual às limusines dos filmes — constatou Guilherme Oliveira, 12 anos.
Kauã do Carmo, 11, mal parava quieto na cadeira. Estava feliz por ter conseguido um bom lugar à janela, de onde abanou para os passantes. Questionado se sabia onde fica a Hungria, alegou ainda não ter tido tempo de pesquisar.
— Acho que não fica longe — arriscou.
Nicoli Datsch, 15 anos, já é uma veterana. Em anos recentes, a menina participou de disputas no Exterior duas vezes.
— Estou bem realizada. A gente pode achar que nunca vai realizar, mas quando chega lá é muito legal — afirmou.
Ariane Flores, diretora da escola, vibrou:
— Esse prêmio serve para eles verem que é possível atingir o que quiserem por meio da educação.