Conforme o ranking que se leve em conta, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) pode ser o melhor estabelecimento federal do país, pode estar atrás de várias outras instituições nacionais públicas e privadas ou não aparecer nem como a primeira universidade do Estado.
Esses resultados variados decorrem da multiplicação dos sistemas de ranqueamento do Ensino Superior, um fenômeno bastante recente – e principalmente do fato de que cada um deles adota critérios diferentes para dar seu veredito. Para quem pretende ingressar em uma universidade, os resultados dessas avaliações devem ser levados em conta com parcimônia, já que os rankings medem apenas alguns critérios.
A febre dos rankings começou em 2003, quando a Shanghai Jiao Tong University, da China, começou a comparar o desempenho acadêmico de instituições do mundo inteiro, com o objetivo inicial de medir a distância entre as universidades chinesas e as que mais se destacavam no mundo. Logo ficou claro que conferir uma nota e dizer quem era melhor ou pior tinha grande efeito midiático e atendia aos interesses de um público ávido por saber quais os melhores produtos disponíveis no mercado da educação superior. Dali para frente, multiplicaram-se os rankings – internacionais, continentais, nacionais e regionais. Surgiu uma indústria.
"Em menos de 10 anos, os rankings universitários mundiais tornaram-se mais potentes e têm alcançado importância crescente, influenciando políticas, processos avaliativos, decisões de investimento e reestruturação institucional", escreveram, no estudo O Desempenho das Universidades Brasileiras em Rankings Internacionais, as pesquisadoras Solange Maria dos Santos e Daisy Pires Noronha.
Esses levantamentos comparativos têm sido usados pelas próprias universidades, seja para fins publicitários, ou para nortear as estratégias educacionais – o perigo disso é investir em determinado indicador apenas porque ele tem influência na classificação que se vai atingir, em lugar de apostar numa melhora geral da qualidade, observam especialistas. Em artigo publicado na revista Ensino Superior, da Unicamp, os pesquisadores Edson Nunes e Ivanildo Fernandes observam que os rankings tiveram como consequência "fomentar a competição entre as próprias instituições de Ensino Superior, que passam a adotar um comportamento até então comum no mundo empresarial, qual seja, a concorrência pela produtividade, pela eficiência, e, sobretudo, pela legitimidade pública".
Por mais transparentes e sérios que sejam, os rankings não estão isentos de críticas. Eles procuram apresentar uma visão objetiva sobre as instituições que examinam, expressa em um conceito numérico ou por meio de uma posição específica numa lista, mas para chegar lá precisam fazer opções sobre o que levar em conta. E, às vezes, essas escolhas são questionadas. O Academic Ranking of World Universities, o levantamento pioneiro da Shanghai Jiao Tong University, por exemplo, pontua as universidades de acordo com o número de prêmios Nobel recebidos. Outras instituições fazem pesquisas de opinião para avaliar a reputação das universidades – o que alguns críticos veem como uma forma de reforçar a posição de escolas tradicionais, que já de antemão têm fama de qualidade.
"Por sua semelhança com tabelas de classificação, habitualmente utilizadas em esportes, ao resumir atividades e aspectos complexos das universidades em um único número, os rankings passam imagem enganosa de simplicidade. A aparente clareza oferecida por eles faz com que muitas vezes se acredite que a posição das instituições em um determinado ranking reflete com precisão sua qualidade, o que pode levar a interpretações equivocadas tanto por parte do público em geral e dos meios de comunicação, quanto por parte de gestores públicos", observaram Solange Maria dos Santos e Daisy Pires Noronha. "Como não existe um conjunto de critérios amplos ou unanimemente aceitos para medir a qualidade das universidades, ao selecionar, privilegiar e atribuir peso a um indicador ou a um conjunto de indicadores, cada ranking apresenta sua visão do que considera qualidade. Sendo assim, é importante ter em mente que os rankings não são instrumentos neutros, mas construídos e utilizados intencionalmente para fins e contextos específicos. Portanto, esses dispositivos não devem ser observados com visão simplista ou utilizados acriticamente".
OS RANKINGS
Academic Ranking of World Universities (ARWU)
Produzido desde 2003, na China, é considerado o primeiro ranking em nível internacional e classifica as universidades que se destacam mais em desempenho acadêmico e pesquisa. Leva em conta a produção científica, publicação de trabalhos em revistas de ponta, quantidade de pesquisadores muito citados e o número de professores ou ex-alunos que ganharam prêmios de grande projeção, como o Nobel ou a medalha Fields. No top 800 de 2017, há 13 universidades brasileiras. A única do Rio Grande do Sul é a UFRGS, classificada na faixa de 401 a 500.
Times Higher Education (THE)
Começou a ser publicado em 2004, pelo suplemento de Ensino Superior do jornal britânico The Times, para elencar as melhores universidades do mundo. Atualmente, tem vários rankings, entre eles o de instituições de países emergentes, que foi divulgado nesta quarta-feira (9). Leva em conta 13 indicadores de perfomance, focados em ensino, pesquisa, citações, internacionalização e transferência de tecnologia para a indústria. No caso do ranking dos países emergentes, esses indicadores são recalibrados para refletir as prioridades de sociedades em desenvolvimento.
No ranking global, o Brasil tem duas dezenas de universidades entre as mil melhores. Três delas são gaúchas: UFRGS (601 a 800), UFPel (801 a 1000) e PUCRS (801 a 1000). No ranking dos emergentes, que analisa 350 instituições de 42 países, aparecem cinco gaúchas, com a PUCRS na 191ª posição e a UFRGS na faixa de 201 a 250.
QS World University Rankings
Parceira do do Times Higher Education até 2009, a empresa britânica especializada em educação Quacquarelli Symonds passou a ter seu próprio ranking em 2010. O maior peso na pontuação (40%) é o da reputação acadêmica, avaliada por meio de uma pesquisa de opinião feita com profissionais do setor. Também são avaliadas a proporção de estudantes por professor, as citações por docente e a orientação internacional.
Há quatro universidades brasileiros entre as 500 melhores: USP, Unicamp, UFRJ e Unesp. A melhor gaúcha é a UFRGS (501-550). A PUCRS aparece na faixa de 801 a 1000.
Ranking Universitário Folha (RUF)
Feito desde 2012 pelo jornal Folha de S. Paulo, analisa especificamente o Ensino Superior brasileiro, abrangendo 195 universidades. Leva em conta dados sobre pesquisa (publicações, citações, recursos, bolsistas do CNPq e teses), ensino (professores com mestrado e doutorado, nota no Enade, etc), mercado (opinião de profissionais de RH), internacionalização (citações internacionais por docente e publicações com coautoria internacional) e inovação (número de patentes).
Na lista de 2017, a melhor gaúcha é a UFRGS, na quinta posição, seguida por UFSM (17ª) e PUCRS (18ª).
Índice Geral de Cursos (IGC)
Indicador de qualidade do ensino superior divulgado pelo Ministério da Educação, não é apresentado como ranking, mas confere pontuações às instituições. A avaliação é baseada na análise das condições de ensino, em especial aquelas relativas ao corpo docente, às instalações físicas, ao projeto pedagógico e ao resultado dos alunos no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). São consideradas, para o cálculo, a qualidade dos cursos, revelada pelo Conceito Preliminar de Curso (CPC), a média dos conceitos de avaliação dos programas de pós-graduação, a partir de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e a distribuição dos estudantes entre os diferentes níveis de ensino, graduação ou pós-graduação.