Os 334 estudantes suspeitos de fraudar o sistema de cotas raciais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) começaram a receber nesta segunda-feira (4) o parecer da comissão montada para verificar se eles são negros ou não.
O resultado está sendo entregue no prédio do Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados (Ilea), no Campus do Vale, mesmo local em que os alunos submeteram-se à avaliação, nos dias 24, 27, 28 e 29 de novembro.
A UFRGS não informa quantos alunos compareceram ou quais foram os resultados das avaliações. Conforme a assessoria de comunicação da universidade, a divulgação para o público ocorrerá em 9 de janeiro, após o término do período para recursos administrativos.
Estudantes fizeram fila diante do prédio do Ilea, nesta segunda-feira, para saber se sua autodeclararão como negros foi confirmada pela comissão. GaúchaZH falou com o estudante de Biotecnologia Áxil Borges, 25 anos, instantes depois de ele receber o documento informando que a comissão não o considerara negro. Ele se disse muito surpreso.
— O papel só diz que fui indeferido, sem informar os critérios, sem dizer como avaliaram. A maioria está sendo indeferida. Estou em aulas até o fim do semestre, mas depois de 9 de janeiro não sei como vai ser. Não tenho ideia de como proceder agora. Vou apresentar recurso na universidade e procurar maneiras legais de me defender — afirmou.
Originário de Goiânia (GO), Áxil diz ser filho de um homem negro com uma mulher branca. Ele conta que a mãe foi embora quando era bebê e que ele foi criado apenas pelo pai e pela avó, sua tutora. Por causa disso e de traços que entende serem característicos de um negro, declarou-se como pardo para entrar na UFRGS e tornou-se a primeira pessoa da família a ingressar em uma universidade pública.
— Ainda não contei para o meu pai. Ele vai ficar abalado — disse Áxil.
A UFRGS vinha investigando alguns casos isolados de burla às cotas raciais até que, neste ano, coletivos negros ligados a diferentes cursos começaram a fazer levantamentos sobre fraudes. Com a união desses coletivos, surgiu o Balanta, movimento que entregou à universidade, em julho, um dossiê que apontava mais de 400 possíveis fraudadores. A partir dessa denúncia, a universidade fez uma triagem que resultou nos 334 casos em avaliação.
A UFRGS montou duas comissões de cinco pessoas, que em quatro dias do final de novembro receberam os estudantes suspeitos, um de cada vez. Formadas por professores e técnicos da instituição, com diversidade de gênero e raça, as comissões fizeram uma aferição silenciosa, baseada apenas na avaliação do fenótipo, ou seja, das características físicas.
O período de entrega dos pareceres vai até a quarta-feira (6). A partir daí, os estudantes que discordarem tem 10 dias para entrar com recurso administrativo. Depois disso, a UFRGS terá prazo de 15 dias para avaliar esses recursos.
Além do procedimento montado para avaliar alunos que já estão matriculados, a UFRGS criou um sistema para verificar as auto declarações dos ingressantes. O edital para o vestibular de 2018, publicado em outubro, informa que no ano que vem os candidatos terão de comparecer perante uma comissão de verificação da auto declaração étnico-racial. Só poderão se matricular se esse comitê validar que são pardos ou pretos.