
Uma adolescente de 15 anos que cursa o 1º ano do Ensino Médio na Univest, instituição de ensino particular de Lages, na serra catarinense, foi suspensa por dois dias após criticar publicamente o posicionamento do colégio em relação a assuntos de gênero, ativismo e religião. A jovem afirma que outra colega perdeu a bolsa de estudos para o próximo ano porque também se manifestou contra o regulamento escolar. As alunas foram suspensas das aulas nessa quinta e sexta-feira (20).
O ofício circular entregue aos alunos nesta semana diz que "em casa se aprende a ser organizado, a não mexer nas coisas dos outros, a respeitar regras e a amar o próximo", e na escola "os professores devem ensinar disciplinas como matemática e português". O ponto mais polêmico descreve que na escola não se aprende sobre "sexo, ideologia de gênero, ativismo LGBT, comunismo, esquerdismo e religião".
A adolescente, que não teve o nome revelado por ser menor de idade, postou em seu perfil no Facebook uma foto do bilhete com a seguinte legenda: "2017, a nova idade média. Pasmem, isso é real".
No dia seguinte à postagem, após repercussão na internet, a aluna recebeu o comunicado da suspensão. A colega que também teria sido suspensa e teria perdido a bolsa comentou no post da jovem no Facebook.
— Eu acho que a escola está limitando o espírito pensante dos alunos. A escola deveria ajudar a família a criar alunos com senso crítico e é impossível não debater esses assuntos — disse a jovem em conversa com a reportagem.
Ela afirma que o bilhete foi entregue aos alunos sem que houvesse uma explicação ou um debate sobre o tema. A mãe da jovem também conversou com a reportagem e disse que ficou surpresa com o posicionamento da instituição. Ela pretende mudar a filha de colégio no próximo ano e ajuizar uma ação por danos morais.
— É arcaico e contra a Constituição, a gente tem o direito ao livre pensamento. É prova de que, mais uma vez, estão podando o pensamento das pessoas — destacou a mãe.
Reitor diz que "toda ação tem uma consequência"
O reitor do Centro Universitário Facvest, a qual a Univest é submetida, Giovani Broering, confirmou que o ofício foi entregue aos alunos e que as duas garotas foram suspensas. Com relação à perda da bolsa de uma das meninas, ele se limitou a dizer que "toda ação tem uma consequência".
— A instituição não discute questões de sentimento com o aluno, nós discutimos ciência. Sexualidade é sentimento para ser discutido no âmbito familiar. A relação das pessoas é formada no seio familiar. A instituição diz aos alunos quais são as regras de conduta: acreditar nas pessoas, não olhar a quem, ser responsável por aquilo que faz — afirmou o reitor.
Broering reforçou que assuntos que fogem às disciplinas não são tratados em sala de aula e afirmou que, quando há alguma situação pontual de desrespeito entre os alunos, os pais são acionados e os responsáveis são punidos por meio das sanções determinadas pela instituição.