Exposto em um canto de uma sala de aula, um quadro retratando Adolf Hitler chama atenção em uma foto divulgada por uma escola particular em Taquara, no Vale do Paranhana. A imagem aparece em um álbum online sobre as provas da primeira fase da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas, que neste ano teve sua primeira fase realizada em junho. À frente do quadro, realizam o exame alunos do Ensino Médio do Instituto Adventista Cruzeiro do Sul (IACS).
Em contato com a reportagem de Zero Hora, um professor que optou por não ser identificado explicou que o quadro faz parte de uma sala de aula temática do instituto. "Salas ambiente" como essa existiriam há quatro anos e teriam recebido "inúmeros elogios de pais". O local da foto faz referência a diversos períodos da história: há também imagens de Getúlio Vargas e Júlio César, entre outras figuras históricas, além de equipamentos antigos, como uma máquina de escrever e um televisor em preto e branco, assim como uma réplica de urna eletrônica.
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A escola emitiu uma nota oficial na tarde desta terça-feira (22) informando que retirou o quadro da sala.
"Nossos docentes têm a função de apenas apresentar fatos que ajudem o aluno a compreender o papel desempenhado por figuras e situações históricas. Por isso, a instituição vem a público tranquilizar a comunidade, os pais e os alunos que confiam no trabalho realizado por cada um de seus funcionários. E informa que retirou o quadro", informa um trecho da nota (confira a íntegra abaixo).
Advogados consultados pela reportagem, que preferiram não se identificar por não conhecer melhor o caso, apontam que a mera exposição de um quadro, ainda que seja a de um genocida, não configura crime. Eles afirmam que imagens como essa estão disponíveis em livros, em vídeos, na internet, e que só haveria crime se a figura de Hitler fosse utilizada como um exemplo a seguir, se fosse feita apologia ao nazismo – o que não seria o caso da escola.
Para o delegado Paulo César Jardim, que há 15 anos investiga práticas ligadas ao nazismo no Rio Grande do Sul, expor imagens de Hitler em uma sala de aula ou na rua não é algo que possa ser visto com bons olhos. Ele lembra que, em leituras sobre guerras, ideologias e ditadores de impacto histórico, a exposição faz sentido, mas um quadro permanentemente visível traria um outro contexto à figura.
– Não parece o caso de criminalizar – afirma Jardim. – Mas dispor um quadro dessa forma acho que, no mínimo, é uma falta de bom senso.
Confira a nota oficial divulgada pelo colégio:
"O Instituto Adventista Cruzeiro do Sul (IACS) é uma instituição de ensino que há mais de 90 anos transmite valores morais, sociais e espirituais a cada um de seus estudantes. Em sua trajetória, sempre prezou pela educação de qualidade, apresentando conteúdos que são fundamentais não apenas para o desenvolvimento intelectual, mas para a formação de uma completa visão de mundo.
Em recente reportagem publicada pela imprensa gaúcha, em que é possível ver um quadro de Adolf Hitler em uma de suas salas de aula, cogitou-se a possibilidade de tratar-se de uma apologia ao nazismo. Na verdade, o local é um ambiente temático voltado às aulas de História, que traz imagens de figuras que desempenharam algum papel na trajetória da humanidade. Isso não quer dizer, no entanto, que durante a disciplina os professores estimulem os estudantes a seguir as práticas ou ideologias de tais personalidades.
Nossos docentes têm a função de apenas apresentar fatos que ajudem o aluno a compreender o papel desempenhado por figuras e situações históricas. Por isso, a instituição vem a público tranquilizar a comunidade, os pais e os alunos que confiam no trabalho realizado por cada um de seus funcionários. E informa que retirou o quadro.
Durante todas as aulas ministradas, em momento algum defende-se ou prega-se a ideologia do regime nazista. Pelo contrário. Apresenta-se o horror dos regimes totalitários e o papel desempenhado pela democracia para evitar que episódios de tal natureza se repitam.
O Instituto Adventista Cruzeiro do Sul (IACS) reitera a valorização do ser humano e não defende ideias extremas prejudiciais ao indivíduo e à sociedade. E é dessa forma que acredita ser possível fazer do mundo um lugar melhor."