
O sujeito ainda não cometeu crime nenhum, mas a polícia previu que ele sairia da linha e o prendeu, qual é o nome do filme?
Aqui até caberia um "A Volta dos que Não Foram", mas você se lembrará de Minority Report, um daqueles blockbusters em que Tom Cruise corre e corre um pouco mais. Bem, pesquisadores americanos podem ter dado mais um passo em direção à distopia policialesca ou a um mundo mais pacífico, a depender das opiniães, como diria Guimarães: os professores Kent Kiehl e Eyal Aharoni alegam que a probabilidade de um criminoso reincidir no delito tem tudo a ver com a atividade cerebral no córtex cingulado anterior (CCA).
Eles monitoraram a atividade cerebral de 96 detentos durante um teste de impulsividade e concluíram que, comparados com o pessoal com CCA ativo, os indivíduos com atividade reduzida nessa parte do cérebro - relacionada ao processamento de erros, entre outras funções - tinham duas vezes mais chances de voltar a cometer crimes dentro dos quatro anos seguintes à libertação.
Os resultados da pesquisa mobilizam tópicos grandes não apenas em neurociência, como no Direito, em Ética e em Filosofia - afinal, não é de hoje que se sugere um entendimento determinístico do comportamento humano.
O estudo, ainda assim, não abre espaço para a previsão de crimes. Segundo Kiehl, não há como dizer que todos os indivíduos categorizados como "de alto risco" serão reincidentes, "apenas que muitos deles serão". De acordo com o professor, o mapeamento da atividade cerebral de quase 3 mil condenados em penitenciárias do Novo México e de Wisconsin desde 2007 revelou que anormalidades na estrutura do cérebro de indivíduos "psicopatas", que teriam menos matéria cinzenta no sistema paralímbico, que seria o responsável por regular emoções.
Kiehl já foi consultor em mais de 100 casos criminais nos Estados Unidos. Segundo ele, a atividade cerebral no CCA pode ser evidência a ser considerada na hora de decidir se um detento deve ser libertado ou seguir preso. Seria possível, então, que alguém tivesse sua pena estendida pelo crime de ter pouca atividade cerebral no córtex cingulado anterior. Para o professor, entretanto, há boas notícias, já que o estudo abre espaço para terapias de reabilitação do "cérebro psicopata".