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A segunda-feira (10), dia previsto para a volta às aulas na rede estadual, foi marcada por falta de informação, desencontros — pegando muitos pais e alunos de surpresa em frente às escolas, após a decisão da Justiça de adiar o início do período letivo em uma semana — e, claro, por muito calor no Rio Grande do Sul.
A decisão da suspensão do início das aulas foi da desembargadora do Tribunal de Justiça (TJ) Lucia de Fátima Cerveira, que atendeu a um pedido do Cpers. O sindicato argumentou que o calor intenso prejudicaria o retorno do ano letivo e que nem todas as escolas estaduais estão preparadas para suportar temperaturas acima de 40°C.
O governo do RS confirmou já no começo da noite de domingo (9) que cumpriria a ordem judicial. Na segunda pela manhã, a medida surpreendeu muitos pais e alunos. Alguns alegavam que não tinham sido informados da decisão. Foi o caso de Paulo de Lima Santos, 50 anos, que encontrou a Escola Estadual Protásio Alves, na Avenida Ipiranga, fechada e sem qualquer sinalização informando sobre o adiamento.
— Não vi nada disso no celular antes de sair de casa. A escola poderia ter um grupo no WhatsApp para avisar esse tipo de coisa — disse o morador da zona sul de Porto Alegre, que acompanhava o filho Miguel Santos, 18.
"Não sabia do processo de judicialização"
A secretária estadual da Educação, Raquel Teixeira, disse, em entrevista à Rádio Gaúcha, na manhã desta segunda, que não havia sido comunicada sobre a solicitação do sindicato dos professores ao Judiciário:
— Não sabia do processo de judicialização, fiquei sabendo ontem (domingo) com a decisão do Tribunal de Justiça. Recebi, claro, com muita serenidade, realmente hoje (segunda) e amanhã (terça) serão dias insuportavelmente quentes.
Em entrevista no domingo, a presidente do Cpers, Rosane Zan, afirmou que enviou mensagem à secretária da Educação solicitando o adiamento das aulas. Raquel disse que recebeu o recado, mas que a conversa não evoluiu:
— Não tenho nenhum problema no relacionamento (com o Cpers), pelo contrário, é a minha categoria, eu sou professora. Se houve algum mal entendido ou talvez não tenha interpretado uma mensagem por WhatsApp como um pedido oficial de negociação, podemos corrigir isso.
Veja trecho da entrevista:
Governo recorre
A secretária também disse que o Estado entrou com recurso para que retorno das atividades não ocorra só na semana que vem, como prevê a liminar. No pedido à Justiça, o governo estadual argumenta que a suspensão generalizada das aulas deixa de considerar as escolas em que há salas climatizadas.
O Executivo ainda destaca que encaminhou ofício às 30 coordenadorias regionais da Educação sobre como gerenciar a rotina escolar em meio à onda de calor.
“Como se vê, o Estado não só providenciou orientação prévia e adequada às Coordenadorias Regionais para preservar a saúde e o bem estar de alunos, professores e profissionais da educação, como, ainda, assegurou a autonomia das Coordenadorias Regionais de Educação para suspender as aulas e readequar o calendário escolar, caso as condições locais de temperatura não ofereçam ambiente seguro à manutenção do desenvolvimento das atividades escolares”, diz trecho do recurso.
O agravo também argumenta que o adiamento deixará o governo do Estado sem margem para futuras readequações do calendário escolar.
Escolas com ar-condicionado
Das 2.320 escolas mantidas pelo governo estadual, 633 têm aparelhos de ar-condicionado, segundo Raquel Teixeira. Isso significa que em 27,3% das escolas estaduais há salas com refrigeração.
Conforme a secretária, o Piratini tem recursos para a compra de mais aparelhos de ar-condicionado. Contudo, há casos em que as redes elétricas das instituições não suportam a melhoria:
— Vivemos a era dos extremos climáticos. Temos de nos adaptar. A Secretaria Estadual de Educação e a Secretaria Estadual de Obras estão trabalhando no calendário de restauração e modernização da rede. O recurso pra comprar ar-condicionado existe. O desafio é que comprar o aparelho não significa, às vezes, poder instalá-lo, por causa da rede elétrica que é muito frágil.
Ilhas de calor em Porto Alegre
Em Porto Alegre, os termômetros registraram temperaturas na faixa de 34°C nesta segunda-feira (10). Contudo, entre pontos mais arborizados e outros recobertos por concreto a diferença de temperaturas chegava a 20ºC, devido à formação das chamadas “ilhas de calor”. Em pontos da região central foram registrados 54ºC.
A reportagem de Zero Hora acompanhou o professor do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Brack, e o técnico ambiental Emerson Prates, ambos membros do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGá), que realizaram medições em dois pontos da Capital.
Com a ajuda de um termômetro industrial, o professor iniciou as medições em uma área recoberta por grama sob a sombra das árvores do Parque Maurício Sirotsky Sobrinho. No sol, a temperatura já chegava a 33ºC por volta de 10h30min na medição realizada em uma altura média do corpo humano. Na sombra, entretanto, a temperatura registrada foi de 26ºC.
— A redução da vegetação provoca o aumento da temperatura e diminuição da umidade relativa do ar. Essa diminuição pode ter como consequência doenças respiratórias e problemas cardíacos — diz o professor.