Estudar fora do país e conhecer uma nova cultura é uma ótima maneira de amadurecer e abrir a mente para novas experiências. O intercâmbio permite colocar isso em prática. Embora muitas pessoas deixem para fazer a viagem na faculdade, existem diversas oportunidades voltadas a adolescentes que estão no Ensino Médio, ou até no Fundamental.
Segundo a vice-presidente do Student Travel Bureau (STB), Christina Bicalho, fazer intercâmbio entre os 14 e 17 anos agrega um importante diferencial nos currículos desses jovens, que estão se preparando prestes a iniciar a carreira.
— Hoje, a maior preocupação dos pais é o futuro profissional dos filhos. Para ter uma boa colocação no mercado de trabalho, o inglês é imprescindível, uma estrutura gramatical boa é o que vai dar vantagem competitiva e garantir mais oportunidades de crescimento profissional — explica.
Conforme Christina, o inglês continua sendo o idioma global e o mais demandado no mercado de trabalho. Viajar contribui para consolidar o aprendizado da língua, mas antes é importante construir uma boa base.
O intercâmbio nessa faixa etária também traz uma série de benefícios para alavancar o desenvolvimento integral dos alunos, conforme a coordenadora dos programas de intercâmbios do Colégio Anchieta, Graciela Natalia Nuevo:
— O objetivo é oferecer experiências para que os estudantes possam desenvolver competências globais. Assim, futuramente, terão condições de se desenvolver, atuar em um mundo multicultural, entendendo e respeitando as diferenças, e reafirmando a própria identidade — afirma a professora de língua espanhola do colégio de Porto Alegre.
Sair da zona de conforto
Filha de Graciela, Sofia Nuevo Silva, 15 anos, fez um intercâmbio entre setembro e novembro de 2024. Ela passou três meses em Puebla, no México, morando com uma família mexicana. Mesmo tendo companhia, Sofia conta que teve que encarar muitos desafios sozinha, e isso contribuiu com seu crescimento.
Acho que agora tenho mais capacidade para me adaptar a situações novas.
SOFIA NUEVO SILVA
Estudante
— Me tornei bem mais independente. Eu descobri um monte de coisas sobre a história e a cultura do país, os costumes, a comida. Acho que agora tenho mais capacidade para me adaptar a situações novas. Eu nunca tinha vivido uma experiência tão sozinha assim. E foi muito bom, sinto que melhorei em muitos aspectos — relata a aluna do Colégio Anchieta, que vai começar o Ensino Médio neste ano.
A vice-presidente da STB destaca que o intercâmbio é capaz de contribuir com o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, as soft skills, uma vez que demanda resiliência e adaptabilidade para sair da zona de conforto e se virar em outro país.
— São competências que não se aprende dentro da sala de aula, mas são necessárias ao longo da vida. É preciso ter jogo de cintura, entender e conviver com as diferenças de religião, de padrão de conduta, valores, de tudo.
Não foi diferente com a estudante Clara Bettio, 16 anos, do Colégio Farroupilha, que passou seis meses morando em Gold Coast, na Austrália, quando estava no 1º ano do Ensino Médio. A jovem conta que não foi fácil se adaptar a uma nova rotina, com horários mais rígidos, com uma família e uma escola com as quais não estava acostumada.
Me fez entender que não existe só um caminho para seguir, não tem só uma opção, existem muitas possibilidades.
CLARA BETTIO
Estudante
Apesar das dificuldades, gostou tanto da experiência que pretende fazer outro intercâmbio, na Espanha.
— Eu fui muito com a intenção de sair da bolha, conhecer pessoas novas, valores diferentes. E isso me fez entender que não existe só um caminho para seguir, não tem só uma opção, existem muitas possibilidades e é importante saber contornar os obstáculos — diz Clara.
Preparação e investimento
Antes de embarcar, é preciso organizar algumas etapas para que a viagem ocorra da melhor forma possível – pesquisar o destino, as oportunidades para essa faixa etária, comprar passagens, emitir passaporte e visto. Christina ressalta que é fundamental começar a organizar a viagem com seis a oito meses de antecedência.
Com a cotação do dólar em alta, é importante fazer um planejamento financeiro adequado, para entender que tipo de intercâmbio cabe no orçamento da família. O mais comum é o high school, que dura seis meses e é destinado a alunos do Ensino Médio.
Cada país tem programas específicos, mas os mais procurados para o intercâmbio nessa faixa etária são Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Austrália. Em relação a valores, existe uma ampla gama de possibilidades. Segundo Christina, a STB oferece oportunidades partindo de US$ 6 mil (R$ 36.317, na cotação atual), até US$ 40 mil (cerca de R$ 242.116).
Para quem busca gastar menos, vale conhecer iniciativas regulamentadas pelos governos, que encaminham os alunos a escolas públicas e residências de famílias locais cadastradas no programa, que recebem incentivo do governo. Nestes casos, normalmente, não há despesas com acomodação, alimentação e material didático.
Quem pretende ir aos Estados Unidos por meio dessa modalidade terá gastos com as taxas do programa, a emissão do visto de estudante, seguro de saúde e compra das passagens, além de gastos adicionais com alimentação, compras, passeios e outras atividades.
Foi o caso de Clara, do Farroupilha, que organizou a viagem por meio de uma agência e estudou por seis meses em uma escola pública australiana. Há ainda programas próprios de escolas particulares, como o do Anchieta, que permitiu a viagem de Sofia.
A escola tem parceria com outras instituições que fazem parte da rede global jesuíta. Por meio do programa, os responsáveis arcam com o custo das passagens e do seguro, e os alunos ficam hospedados na residência de uma família estrangeira participante da iniciativa. Nos últimos anos, o Anchieta recebeu 65 alunos da Bolívia, Colômbia, Chile e México.
Em outros casos, é necessário pagar tuition, como são chamadas as mensalidades ou taxas cobradas por instituições de ensino estrangeiras. Também existe a opção de ficar hospedado em uma moradia estudantil dentro da própria escola escolhida, junto de outros alunos estrangeiros, caso a família prefira, que pode ter um custo adicional. Ou seja, há muitas variáveis para levar em consideração no planejamento da viagem.