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Gesticular ao telefone, digitar freneticamente no teclado e caminhar de um lado para o outro no escritório. Estas são algumas das estratégias relacionadas ao “task masking” (mascarar tarefas, em tradução livre).
O conceito consiste em fingir produtividade no ambiente corporativo. O termo virou tendência entre os jovens da geração Z, que têm disseminado as práticas na internet, com vídeos que chegam a milhões de visualizações nas redes sociais, principalmente no TikTok.
Assim como “quiet quitting” e “quiet ambition”, trata-se de um comportamento característico da geração Z – aqueles que nasceram entre 1995 e o início dos anos 2000. A tendência, no entanto, não deve ser tratada como algo generalizado, conforme a psicóloga e orientadora de carreiras Luciane Linden:
— Não podemos generalizar, como se todos os indivíduos da geração Z fossem assim. Mas essa geração tem uma série de peculiaridades. Eles já não querem mais se dedicar exclusivamente à carreira, o trabalho não é o elemento central da vida deles.
Em um vídeo, uma jovem aparece caminhando rapidamente de um lado para o outro da sala, simulando uma situação de estresse. Em outro, um jovem simula uma videoconferência de negócios, sendo que na verdade o interlocutor era um amigo.
Olhares preocupados, expressões sérias e gestos típicos de frustração em frente ao computador ou durante uma ligação no telefone também estão entre as dicas que aparecem nos vídeos para fingir produtividade. Segundo Luciane, esse comportamento não deve ser incentivado, e pode até levar ao desligamento do colaborador.
— A pessoa até pode tentar levar adiante, mas vai chegar um momento em que a máscara cai. Se torna algo insustentável, o profissional tende a perder espaço por não estar trazendo aquilo que se espera. As empresas querem pessoas comprometidas com suas atividades, e que tenham identificação com o negócio — afirma.
As empresas querem pessoas comprometidas com suas atividades, e que tenham identificação com o negócio.
LUCIANE LINDEN
Psicóloga e orientadora de carreiras
Conforme estudo da Workhuman, consultoria especializada em soluções de gestão de talentos, boa parte dos 3 mil profissionais que participaram da pesquisa não simulam atividades. Foi a resposta de 67% deles. Por outro lado, 48% dos gerentes consultados afirmam que a falsa produtividade é um problema em suas equipes.
Buscando conexão
Conforme Luciane, um dos fatores que pode estar por trás desse movimento é a falta de conexão da geração Z com o mundo do trabalho, que já não ocupa um lugar de centralidade na vida dessas pessoas, como ocorria com gerações anteriores. Com isso, a busca por qualidade de vida e propósito entra em primeiro lugar.
— Isso pode ter relação com o período pós-pandemia. Alguns desses jovens vivenciaram esse período de trabalho remoto, e depois toda essa mobilização de retorno ao presencial, aos escritórios. Então, foi a estratégia que alguns encontraram para mostrar produtividade, para demonstrar que estão ocupados — destaca.
Mas, segundo ela, essa produtividade aparece naturalmente quando o profissional se sente realizado com o trabalho. Se a pessoa se identifica com a atividade que realiza, ela vai querer desempenhar as tarefas com maior agilidade, e também vai buscar reconhecimento e ascensão na carreira, conforme a psicóloga.
Por isso, caso o indivíduo identifique que não enxerga sentido na carreira e adote técnicas para “mascarar” produtividade, é importante refletir sobre outros caminhos profissionais, se for possível. Da mesma forma, as empresas devem garantir que os colaboradores se sintam engajados e ouvir suas demandas.
— Quando existe um acompanhamento próximo do gestor, ele consegue identificar essas questões. É necessário dialogar com os colaboradores para que possam evoluir e entender as perspectivas de carreira que têm naquele espaço, os jovens anseiam por desenvolvimento — ressalta Luciane.
Segundo ela, promover momentos de feedback e construir um Plano de Desenvolvimento Individual junto a cada colaborador é importante para evitar comportamentos como o “task masking” e, ao mesmo tempo, reter jovens talentos nas empresas.